quinta-feira, 17 de julho de 2014

Ser Ou Não Ser...A Necessidade de Pertencer

Coloquei Futaba de Ao Haru Ride no divã cor de sangue do ELBR.
Houve um tempo que se dizia "tribos urbanas", não é mesmo? Agora são círculos sociais. Tribos urbanas pode ser uma terminologia desatualizada, mas seu significado continua o mesmo, assim como a necessidade das pessoas de pertencerem a um grupo, ter uma identidade, se sentir identificado, estar cercado por pessoas, ainda que internamente estejam sozinhos. Quem nunca se sentiu desoladamente triste e solitário, embora cercado de pessoas, embora num ambiente agitado? Já senti isso algumas vezes (fato ampliado por ter morado em vários lugares diferentes), de estar ao lado de bons e agradáveis amigos, mas sentir que nenhum deles realmente me conhecia, compreendia ou faziam parte do meu universo particular. É como se sentir um peixinho fora d’água num grupo em que você não fala a mesma língua dos demais, mas se esforça para se misturar. Então você sorri, mas no fundo está chorando ou entediado, morrendo de vontade de voltar para casa.
Os dois primeiros episódios de Ao Haru Ride abordam basicamente isto, ilustrando essa ideia de um modo mais desconcertante. Futaba era uma garota muito bonita e fofa, que chamava a atenção dos garotos de sua escola, despertando o desprezo das outras garotas. Ao passar de ano, ela resolve mudar completamente. Visual e postura. Corta as longas madeixas e se torna uma glutona, que numa sociedade tão normativa, acaba por provocar o desinteresse dos rapazes e então passar despercebida, se dando bem com as garotas. No fundo, o que Futaba quer é não se sentir solitária, como revelado no episódio 2. Nem que para isto precisasse forjar a si mesma. Compreensível. Soa inusitado e talvez surreal que garotas bonitas e meigas despertem antipatia porque é difícil para a mente aceitar que uma pessoa que se veste bem e é visualmente atraente, possa ser renegada pela sociedade. Mas não é que acontece mesmo? Inclusive, pessoas com um grau de beleza muito alto tendem a não ser consideradas inteligentes ou aptas a exercer atividades que demandam destreza intelectual.

Não vou negar. Meu sangue ficou pipocando quando li a sinopse e ferveu completamente no primeiro episódio. Como uma pessoa pode ser tão estupida ao ponto de se anular para ser aceita? É. Eu sei que acontece muito, a todo o momento, e que é natural. Mesmo assim, é algo difícil para eu aceitar, não vejo razão para viver negando o que sou. Pode acontecer e acontece de eu não me identificar totalmente com o meu grupo, mas eu continuo sendo o que sou e francamente pouco disposta a mudar isso seja por quem for, e me aceitam assim. Ou não. Demorei pra aprender isto, amadurecer. Durante uma parte da adolescência não gostava de mim mesma, tentava me enquadrar no consenso comum para permanecer conectada aos demais, porque sentia que era o certo. Mas depois você aprende que o mundo é feito por diversas perspectivas, não havendo uma verdade absoluta para nada e que fantasias só se sustentam por uma fração de segundos, pois a fachada não se sustenta internamente.

Embora não seja um desenvolvimento muito profundo, é bem trabalhado [principalmente no fato das amigas não serem pintadas como vilãs maquiavélicas, mas ambíguas] e bom de ver Futaba aprendendo no episódio 2 que castelos construídos sobre a areia não resistem nem à primeira e simples maré que surgir. Amizade é aceitar e gostar do outro, mesmo que ele tenha um gosto diferente do seu, se vista e pense diferente de você. Eu por exemplo, tenho o dom de atrair pessoas completamente diferentes de mim. Um olhar pela janela e podemos ver diversos círculos de diferentes camadas de relacionamento; os amigos de balada, os que compartilham algumas horas do dia com você no trabalho, na escola ou algo assim, enfim, é a necessidade do ser humano de se relacionar mesmo que numa esfera superficial. 

Claro que não é fácil se reafirmar perante os demais. Cada um sabe o peso da cruz que carrega. Há quem não suporte se ver fisicamente só. Roupas, estilos musicais, grupinho de amigos com interesses em comum, e etc., são todas formas de se conectar a outras pessoas e formarem um vinculo. Uma história fundamental para quem curte a temática é The Invisibles (os Invisíveis, de Grant Morrison), que fala sobre personagens desajustados socialmente com sua narrativa lisérgica. É sobre identidade e como ela pode influenciar opiniões. No fim é algo que não dá para se fugir, mas desde que se sinta bem consigo mesmo, parece que tudo segue bem. 

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