Treta no encouraçado voador. Novamente a princesa sofre um atentado, enquanto Saline tem um raro momento de paz.
Aldnoah Zero parece ter finalmente encontrado seu caminho,
explorando os conflitos de [e entre] seus personagens. A próxima pergunta é se Katsuhiko
Takayama consegue elevar isto ao máximo a ponto de trazer consequências graves
para os tripulantes da fake Yamato, da Terra e de Marte. Rayet finalmente tem o
seu grande momento dentro da história, em um clímax tenso e revoltante. É sem
dúvida a personagem com mais camadas. Depois de todos esses episódios vendo ela
se debater com seus conflitos internos, foi fascinante ver a curva que se
formou neste episódio, onde ela claramente entende que a princesa é uma vítima
e exatamente por isso se revolta com sua postura de indiferença e pacifismo, ao
mesmo tempo em que se debate internamente entre culpa, rancor, vingança. Este
foi o episódio que melhor refletiu seus conflitos e o estopim para que sua
bomba interna explodisse foi reviver o momento em que viu a vida de seu pai se
ceifada bem na sua frente. Por capricho do acaso, Asseylum vai tomar banho e fica
sozinha justamente ao lado de Rayet, que estava, naquele momento, tomada pelo
rancor e emocionalmente fora de si, deixando-se levar pelo impulso ao qual
sempre esteve se debatendo (seus olhos
fora do tom refletem sua perda de “consciência”).
É claro, a princesa não morreu. Ela caiu na água
inconsciente e com os motores de Aldnoah desligados, Eddelrittuo irá entender imediatamente
o que aconteceu e socorre-la – em termos de narrativa não há nenhum ganho com a
morte da princesa neste ponto de história e é exatamente o fato de ela estar
viva, que é o grande mote do enredo. Este é um tipo de recurso fácil para
trazer Rayet para o lado de Asseylum e trabalhar o conflito dramático da
personagem, mas espero que Takayama surpreenda e vá um pouco além, não matando a
princesa, mas trazendo consequências maiores que nos levem ao desfecho do clímax
do primeiro cour [primeira parte] do anime. Em determinado momento ela diz como
a princesa consegue ser tão compassiva e sorridente – digo que também já
questionei isto, inclusive, em posts anteriores. Como ela consegue se manter
tão indiferente ao ódio que recebe e tudo o mais que está acontecendo á sua
volta, enquanto se mantém fascinada pelas riquezas naturais da terra? Tanta
bondade dá aberturas para suposições de que talvez Asseylum não fosse tão
boazinha e que estivesse escondendo suas reais intensões.
Por essa linha de pensamento, quando o Conde abre o jogo com
Slaine, cheguei a ficar na expectativa por alguma reviravolta neste sentindo,
de que ele na verdade fosse aquele tipo de personagem injustiçado e anti-herói que
luta para revelar a verdade a todos, mas tudo o que se mostra no decorrer do
episódio é que Aldnoah Zero é uma série bem simples a despeito do seu potencial,
estruturada em torno de algo tão frágil, como a revelação de que a princesa
está realmente viva. É como na Corrida Maluca, em que a barca da princesa precisa
ser tirada da estrada antes que chegue na linha de chega. Ei Aoki diz, em
entrevista, que o nome inicial da série seria “A Princesa de Marte”. Embora
isto tenha sido alterado, Asseylum ainda mantém a mesma função de um personagem título. Ou seja, ela é o
motivo da história acontecer e tudo gira à sua volta, mesmo que ela não seja a
protagonista principal. O que quero dizer é que Asseylum é só um conceito
narrativo, incorporando o arquétipo de benevolência e amor.
Particularmente não acho tão atraente por ser passível de tão
poucas camadas de conflitos, mas reflete o tema da obra. O fascínio pelas riquezas
naturais da Terra, que é caracteristicamente tão distinta da realidade de
Marte. Um mundo tão evoluído tecnologicamente, mas culturalmente atrasado e sem
qualquer beleza ou grande qualidade de vida (suponho). Eles têm tudo, mas lhes faltam coisas que para nós soam
tão triviais. Neste aspecto, a conversa do Conde com Slaine à mesa enquanto
este degusta de um pássaro é repleta de significados. É natural que pessoas que
se vêm como tão superiores aos humanos da Terra, guardem rancor e cobiça por
todas as riquezas presente neste mundo azul estar no poder de seres tão insignificantes.
Esse episódio trabalhou bastante as motivações internas de
alguns personagens, revivendo o passado e se lembrando da ruptura trágica que
tiveram com estes entes queridos. É bacana como o Conde foi retratado,
multifacetado e com emoções bem humanas. Francamente estava esperando algo mais
cartunesco, o que certamente foi uma bela surpresa. Só não vejo razão para ele
deixar Slaine vivo. Para alguém que se mostrou tão esperto, por mais que se
sinta em dívida com o pai do garoto, deveria saber que deixa-lo vivo é uma
ameaça ao seu plano, uma vez que Slaine não vai deixar de querer interver para
a sobrevivência de Asseylum. Aliás, esperava que o motivo para deixa-lo vivo
escondesse algo mais importante. E talvez esconda mesmo.
Enfim, mais um episódio redondinho em sequência, mas é um pouco
decepcionante ver que a trama politica de série não é explorada devidamente.
Com a revelação da principal motivação do Conde e de que isto aparentemente é
algo restrito ao seu Castelo, um cenário mais amplo e complexo empalidece,
evidenciando que não há muito raciocínio por detrás das engrenagens. Ao menos é
o que parece a médio prazo.
Em uma declaração, transcrita por um usuário do fórum AnimeSuki,
Ei Aoki teria dito que Aldnoah Zero é uma série em homenagem a clássicos SF e o
seu nome inicial seria The Princess of Mars, com o mote acerca do sonho dessa
garota de 15 anos de viver livremente, com dois heróis [um da terra e outro de
marte] que a defendessem. Também comentou não gostar dos protagonistas padrões
de mecha e por isso Inaho seria um tipo de alternativa, sendo inteligente e usando
essa inteligência para criar oportunidades. Para ele, os dois seriam os lados
contrastantes da princesa. É legal ver esses detalhes de bastidores e, também
demonstra o quanto um diretor tem influência sobre como uma série será moldada.
Depois do comitê organizacional, é ele quem tem o maior poder de decisão.
Suisei no Gargantia e Madoka Magica, por exemplo, são séries com enorme
influência da direção nos rumos da história.
-"Princesa, estive agindo muito mal, queria ter dar esse colarzinho como prova do meu afeto e ele ficaria tão bem em você, posso colocar no seu pescoço?"
-"Oh, Rayet, eu sabia que você iria reconsiderar. Por favor..."
-"VAGABUNDA, QUEM VOCÊ PENSA QUE É, HEIN? VOSSA ALTEZA É O CARALHO!"
-"Oh, essas roupas? Foi a Nina que me emprestou, ela é tão gentil..."
-"Ela é tão gentil.... ELA É TÃO GENTIL.... TÃO GENTIL... TÃ..."
OU SEJA: a princesa tem a ingenuidade do Slaine, o que ela teria do Inaho?
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