Um pouco de maquiagem e uma roupa diferente e você se torna irreconhecível.
Algo divertido em Sailor Moon, é que quando Usagi precisa
fazer uma investigação que se pressupõe ser secreta, para que ninguém descubra
sua identidade ou para não chamar a atenção dos vilões ao se transformar em
Sailor Moon, ela simplesmente opta por um disfarce, através da sua henshin pen (caneta de transformação). Usagi já foi
enfermeira, aeromoça, já se transformou em um... NOIVO, e até mesmo de [pasmem]
princesa! Okay! Não há nada de muito atraente em ela se transformar em princesa
(afinal, ela já é uma princesa), mas
ela já usou diversos disfarces e os mais divertidos e excitantes sem dúvidas
são esses que brincam com arquétipos fetichistas da imaginação, como de enfermeira
ou ao se disfarçar de um garoto. Convenhamos, são fantasias que parecem cosplayers
e não convencem muito como uniformes reais. Mas tudo bem. Deixem a tia Naoko
Takeuchi extravasar suas fantasias!
No entanto, a gente olha para Usagi e vê que o disfarce não
é capaz de esconder quem ela realmente é. Pelo contrário, chamam mais atenção
ainda para ela. Enquanto no mundo real ela não passaria despercebida, na série
realmente convence com o disfarce. É uma conceitualização um tanto ingênua, que
embora aceitemos por comprar a premissa, dificilmente você vê aquilo sem se
questionar internamente “AAAAH, MAS TÁ NA CARA QUE É ELA, POR QUE NINGUÉM
RECONHECE????????”. Há inclusive uma página para isso no TVtropes, chamada Paper-ThinDisguise. Citando um exemplo, é como quando um personagem coloca um óculo ou
apenas um bigode e ninguém mais naquela obra será capaz de reconhecê-lo, apesar
de que para nós soa tão obvio que relutamos em aceitar a lógica de um disfarce
tão frágil. Nesta mesma página, há inúmeros exemplos de séries de animes e mangás que recorrem a este tropo. E é claro que Sailor Moon está listado ali.
Este tipo de tropo é geralmente utilizado em séries de
publico alvo infantil [ou de teor satírico]. Eis o porquê da lógica ingênua por
trás de sua estruturação. Então se você se sente incomodado, saiba que a culpa
é apenas sua por ter crescido e se tornado cético e sínico demais. O genial Kazuo Umezu chegou a comentar certa vez que “Certas coisas só são possíveis quando
criança”, e completa; “Minhas histórias exigem certa suspensão da
descrença de ver as coisas a partir da perspectiva ingênua de uma criança. Os adultos
são rápidos em apontar o ilógico, talvez rápido demais. As crianças têm uma
maneira de agir com as suas suposições e fazê-las funcionar. Adultos não
conseguem isso. Se o fizerem, as pessoas vão achar que você é estranho”.
Eu entendo. Entendo, mas claro, não posso evitar questionar
internamente! Por que ninguém reconhece as Sailors se tudo o que elas usam quando
se transformam são tiaras e minissaias? Nem entre elas mesmas. Certa vez, Usagi
Confronta Haruka pelo fato de ela se parecer com Sailor Uranus (heh), mas fica nisso. Em outro ponto
da história, Sailor Vênus luta ao lado das outras Sailors, mas quando esta se
apresenta para as garotas como Minako Aino, elas são incapazes de reconhecê-la
e perguntam quem é ela.
Isto cai dentro de outro tropo, muito popular por sinal,
chamado Clark Kenting (que no fim das
contas é apenas uma variação do anterior). Sim, alusivo ao disfarce do
Homem de Aço em Clark Kent que utiliza apenas um par de óculos para maquiar sua
real identidade. Sabemos que há todo um conceito arquétipo por trás disto, de
um homem inseguro e sem atrativos físicos que se transforma completamente
quando se despe da camada exterior. Mas ficando apenas no primeiro plano, é tão
flagrante que independentemente da postura ambos são a mesma pessoa, que
certamente em algum momento você já pegou pensando nisso, mesmo aceitado a
proposta. Bem, em outra época, uma época bem diferente da nossa, Superman [ou
Super-Homem] era um quadrinho voltado para crianças. Isso foi mudando com os
anos, e com os questionamentos surgiu a primeira explicação de que as pessoas
não o reconhecem por causa de um efeito hipnótico (veja aqui a tirinha com a pseudo-justificativa). Era tão cheia
baboseira estapafúrdia, que hoje existe outra explicação oficial, bem mais simples,
mas por outro lado, mais sincera: basicamente, as pessoas não o reconhecem
porque ninguém poderia imaginar que um semi-deus tão ocupado fosse perder tempo
se disfarçando em uma pobre criatura assalariada.
No Japão, o gênero que mais se utiliza deste tropo é
justamente o de garotas mágicas, e no tokusatsu os seus heróis geralmente utilizam
máscaras. Quanto a Sailor Moon, muitos fãs defendem que há uma espécie de
barreira mágica, que quando elas se transformam, impedem que as pessoas às
reconheçam. A menos que as vejam se transformando. A verdade é que no mangá não
há nenhum tipo de justificativa para este fenômeno e devo ressaltar que foi uma
escolha correta. Como se vê ao que ocorreu quando tentaram criar uma
justificativa lógica para o disfarce do Super, tentar justificar algo que não
se justifica logicamente só faz soar mais ridículo e demasiadamente complexo
para o entendimento de uma criança, além de datar a obra. O melhor ainda
continua sendo deixar para a livre imaginação de que, de fato, um simples
retorque na cara e uma roupa diferente é capaz de fazer você passar
despercebido por qualquer um. Existe realmente uma doença chamada Prosopagnosia,
que é uma desordem cerebral que limita severamente a capacidade da pessoa para
reconhecer e se lembrar de rostos, além de tudo que se refere à percepção
visual, mas são casos tão raros que não devem ser aplicados.
Nestes casos, a magia está na ingenuidade da proposta. E
bem, a subversão e quebras de expectativas existem para isso. Em algum momento
destas histórias, estes personagens serão reconhecidos, e mesmo que seja um
caso isolado, provavelmente você se sinta exultante por algum personagem ter
sido tão esperto quanto você.
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