segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Por Que Ninguém Reconhece os Disfarces de Sailor Moon?

Um pouco de maquiagem e uma roupa diferente e você se torna irreconhecível. 
Algo divertido em Sailor Moon, é que quando Usagi precisa fazer uma investigação que se pressupõe ser secreta, para que ninguém descubra sua identidade ou para não chamar a atenção dos vilões ao se transformar em Sailor Moon, ela simplesmente opta por um disfarce, através da sua henshin pen (caneta de transformação). Usagi já foi enfermeira, aeromoça, já se transformou em um... NOIVO, e até mesmo de [pasmem] princesa! Okay! Não há nada de muito atraente em ela se transformar em princesa (afinal, ela já é uma princesa), mas ela já usou diversos disfarces e os mais divertidos e excitantes sem dúvidas são esses que brincam com arquétipos fetichistas da imaginação, como de enfermeira ou ao se disfarçar de um garoto. Convenhamos, são fantasias que parecem cosplayers e não convencem muito como uniformes reais. Mas tudo bem. Deixem a tia Naoko Takeuchi extravasar suas fantasias! 
No entanto, a gente olha para Usagi e vê que o disfarce não é capaz de esconder quem ela realmente é. Pelo contrário, chamam mais atenção ainda para ela. Enquanto no mundo real ela não passaria despercebida, na série realmente convence com o disfarce. É uma conceitualização um tanto ingênua, que embora aceitemos por comprar a premissa, dificilmente você vê aquilo sem se questionar internamente “AAAAH, MAS TÁ NA CARA QUE É ELA, POR QUE NINGUÉM RECONHECE????????”. Há inclusive uma página para isso no TVtropes, chamada Paper-ThinDisguise. Citando um exemplo, é como quando um personagem coloca um óculo ou apenas um bigode e ninguém mais naquela obra será capaz de reconhecê-lo, apesar de que para nós soa tão obvio que relutamos em aceitar a lógica de um disfarce tão frágil. Nesta mesma página, há inúmeros exemplos de séries de animes e mangás que recorrem a este tropo. E é claro que Sailor Moon está listado ali.

Este tipo de tropo é geralmente utilizado em séries de publico alvo infantil [ou de teor satírico]. Eis o porquê da lógica ingênua por trás de sua estruturação. Então se você se sente incomodado, saiba que a culpa é apenas sua por ter crescido e se tornado cético e sínico demais. O genial Kazuo Umezu chegou a comentar certa vez que “Certas coisas só são possíveis quando criança”, e completa; “Minhas histórias exigem certa suspensão da descrença de ver as coisas a partir da perspectiva ingênua de uma criança. Os adultos são rápidos em apontar o ilógico, talvez rápido demais. As crianças têm uma maneira de agir com as suas suposições e fazê-las funcionar. Adultos não conseguem isso. Se o fizerem, as pessoas vão achar que você é estranho”
Eu entendo. Entendo, mas claro, não posso evitar questionar internamente! Por que ninguém reconhece as Sailors se tudo o que elas usam quando se transformam são tiaras e minissaias? Nem entre elas mesmas. Certa vez, Usagi Confronta Haruka pelo fato de ela se parecer com Sailor Uranus (heh), mas fica nisso. Em outro ponto da história, Sailor Vênus luta ao lado das outras Sailors, mas quando esta se apresenta para as garotas como Minako Aino, elas são incapazes de reconhecê-la e perguntam quem é ela. 
Isto cai dentro de outro tropo, muito popular por sinal, chamado Clark Kenting (que no fim das contas é apenas uma variação do anterior). Sim, alusivo ao disfarce do Homem de Aço em Clark Kent que utiliza apenas um par de óculos para maquiar sua real identidade. Sabemos que há todo um conceito arquétipo por trás disto, de um homem inseguro e sem atrativos físicos que se transforma completamente quando se despe da camada exterior. Mas ficando apenas no primeiro plano, é tão flagrante que independentemente da postura ambos são a mesma pessoa, que certamente em algum momento você já pegou pensando nisso, mesmo aceitado a proposta. Bem, em outra época, uma época bem diferente da nossa, Superman [ou Super-Homem] era um quadrinho voltado para crianças. Isso foi mudando com os anos, e com os questionamentos surgiu a primeira explicação de que as pessoas não o reconhecem por causa de um efeito hipnótico (veja aqui a tirinha com a pseudo-justificativa). Era tão cheia baboseira estapafúrdia, que hoje existe outra explicação oficial, bem mais simples, mas por outro lado, mais sincera: basicamente, as pessoas não o reconhecem porque ninguém poderia imaginar que um semi-deus tão ocupado fosse perder tempo se disfarçando em uma pobre criatura assalariada.

No Japão, o gênero que mais se utiliza deste tropo é justamente o de garotas mágicas, e no tokusatsu os seus heróis geralmente utilizam máscaras. Quanto a Sailor Moon, muitos fãs defendem que há uma espécie de barreira mágica, que quando elas se transformam, impedem que as pessoas às reconheçam. A menos que as vejam se transformando. A verdade é que no mangá não há nenhum tipo de justificativa para este fenômeno e devo ressaltar que foi uma escolha correta. Como se vê ao que ocorreu quando tentaram criar uma justificativa lógica para o disfarce do Super, tentar justificar algo que não se justifica logicamente só faz soar mais ridículo e demasiadamente complexo para o entendimento de uma criança, além de datar a obra. O melhor ainda continua sendo deixar para a livre imaginação de que, de fato, um simples retorque na cara e uma roupa diferente é capaz de fazer você passar despercebido por qualquer um. Existe realmente uma doença chamada Prosopagnosia, que é uma desordem cerebral que limita severamente a capacidade da pessoa para reconhecer e se lembrar de rostos, além de tudo que se refere à percepção visual, mas são casos tão raros que não devem ser aplicados. 
Nestes casos, a magia está na ingenuidade da proposta. E bem, a subversão e quebras de expectativas existem para isso. Em algum momento destas histórias, estes personagens serão reconhecidos, e mesmo que seja um caso isolado, provavelmente você se sinta exultante por algum personagem ter sido tão esperto quanto você.