[A Cortina Se Ergue] e se inicia o dilema paradoxal do jovem Shirou.
Sempre achei curioso que Shirou apesar de ter um forte
desejo de se tornar uma espécie de super herói da justiça e salvar a todos (algo que não seria possível nem mesmo se
ele transcendesse a matéria e se tornasse deus; nem a Godoka de Magoka Magica é capaz de salvar a todos, mas apenas impedir que as mahou shoujo se
transformassem em bruxas), ele sempre se mostrou resistente à ideia de se
tornar um mago e obter o Santo Graal, o único milagre capaz de tornar o seu
ideal em realidade. Isso mostra que Shirou não é tão ingênuo quanto parece, e é
em parte superior ao seu pai Kiritsugu, que foi incapaz de enxergar [antes que
fosse tarde demais] o paradoxo de tal desejo frente à essência do que é ser
humano e uma existência como a de um cálice capaz de conceder qualquer desejo. O
ideal de Kiritsugu e Shirou é o mesmo, no entanto, o caminho escolhido pelo
primeiro é de uma inconstante contradição, que resultou numa queda que ele
jamais pôde se recuperar quando se deu conta do que estava bem diante dos seus
olhos – mas estava cego e obstinado demais para perceber. Já o segundo, entende
que o que ele deseja não pode ser alcançado por magia; existe uma HQ
sensacional, que esqueci o nome agora, é um sci-fi sobre uma história utópica de
uma cidade onde as pessoas devem sempre sorrir e quem se corrompe com o mau
humor é lançado para fora dos muros da cidade – outra história que vai de
encontro a tal ideal hipotético é o filme Equillibrium, onde a emoção fora
sucumbida por medicamentos; acreditava-se que a emoção era a causa das guerras,
conflitos e tristezas que assolavam as pessoas. Uma dos personagens diz a certa
altura “Sentir é tão vital quanto respirar”. É verdade que os
conflitos que vivemos encontram sua origem em nossas emoções, mas o quanto uma
pessoa se distingue de um robô se esta não pode sentir?
Shirou resiste à ideia de se tornar um participante desta guerra
por ser contra matar pessoas, o que está de acordo com seus princípios, mas ao
se omitir ao invés de tomar o fardo sobre seus ombros ele também teria
responsabilidade sobre as terríveis consequências de sua omissão. Dessa forma,
Shirou se defronta com seu primeiro paradoxo; ele não poderá salvar todo mundo
nem manter suas mãos limpas. “Com grandes poderes vêm grandes
responsabilidades”, já diziam... ou “E, a qualquer que muito for dado, muito se
lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”. Taiga
comenta com Sakura no episódio 1 que Shirou tinha o sonho de se tornar um herói
desde criança. Por que as pessoas desejam se tornar heróis, mas não heróis mundanos
do dia-a-dia como bombeiros ou médicos, mas heróis com super poderes e
habilidades? O herói é uma figura arquétipa, manifestação do inconsciente
coletivo. Eles se manifestam no consciente porque a democracia e coletivismo é
uma tarefa árdua e diária que consome bastante de cada um e se demora para
obter os resultados esperados, é muito mais fácil ter alguém que suporte todos
estes fardos para nós e nos salve do que confiar na policia ou politica que é
uma força coletiva, e portanto inconstante – se você quer algo bem feito, faça
você mesmo . Afinal, os heróis superam as limitações humanas e do viver em
sociedade. Quem nunca desejou, mesmo que timidamente, ter o poder para melhorar
muitas coisas ao seu redor ao se sentir impotente? Mas no fim das contas, o desejo
de Shirou é uma tolice que ele se agarra com todas as forças (podemos ver isto como o conflito
adolescente ao se deparar com a transição para o mundo adulto), e embora
ele se negue a abrir mão do seu ideal, em Heavens Feels a realidade não poderia
ser mais dura para com o garoto, mas isto é outra história.
***
Esse episódio traz muito mais exposição que os anteriores, porém
fundamental para que você compreenda a mecânica deste jogo de sobrevivência que
é a Guerra do Santo Graal. O ritmo é denso e lento, uma vez que os diálogos
predominam e eles são carregados e há pouco espaço para ação física dos
personagens (expressões visuais).
Mas o ufotable faz um trabalho primoroso de adaptação, acredite. Resumir o
texto do original da série sem se perder do seu teor forte e da solidez de sua
estruturação certamente não deve ter sido simples, mas eles conseguem
transmitir o necessário num roteiro que condensa hooooooooooras de diálogos. A disparidade
entre Kirei e Shirou já é notável com a posição que ambos possuem sobre a
necessidade de matar pessoas para se alcançar o objetivo final, e a irritação
de Shirou perante o falso padre nos mostra o quanto eles são incompatíveis – o
gostinho é especial se você já assistiu Fate/Zero e sabe que o enredo se
centra no anti-heroismo de Kiritsugo e antagonismo de Kirei, tendo eles e suas
visões de mundo dissonantes [embora semelhantes em algum grau] como a base da
história. É natural que Kirei irrite tanto Shirou, mas o melhor dos diálogos entre
os dois ainda está por vir e aguardo ansiosamente que consigam extrair o que há
de melhor no Kirei.
Como eu estava dizendo, o ufotable fez muito para tornar
esta experiência o mais agradável possível, tornando os diálogos naturais
através de ações casuais enquanto os personagens conversavam, o que poderia ser
fraco caso os quadros fossem estáticos a os storyboards seguissem com ângulos
padrões. A conversa entre Rin e Shirou, por exemplo, onde ela tenta colocar
mais chá no seu copo, nota que acabou e então se levanta para colocar mais é um
ótimo exemplo de como se pode inserir vida em um diálogo onde originalmente
você mesmo precisa imaginar o que os personagens estão fazendo, como estão se
expressando individualmente quando o autor não o descreve. Os trejeitos de Rin
[e Shirou] são cheios de vida e força cinética (e um pouco de fanservice também, cof cof), com diversas
perspectivas de câmera diferentes.
Giro/rotação de câmera marcou com ênfase os diálogos entre
Shirou e Kirei, com vastos ângulos aéreos (bird's-eye
view), tudo isso auxiliou para que todos estes diálogos fossem menos
aborrecedores (claro que “chato” é um conceito
bem pessoal, e tende a predominar quando você ainda não conhece ou se envolveu bem
os personagens presentes na trama e seus conflitos, mas quando eles se tornam íntimos
para você, mesmo os diálogos mais lentos podem soar saborosos, e geralmente as
obras do autor de Fate são caracterizadas por longos diálogos). A distância
mantida entre os personagens e a maneira de a câmera enfocar isto foi uma boa forma
[e obvia] de pontuar o quanto Shirou e Rin sentem repulsa pelo padre de mentira
e o quanto eles se repelem. Da mesma forma, Kirei é o que está na maior parte
do tempo submerso nas sombras [ou com grande parte do seu corpo tomado por
elas], enquanto Rin e Shirou se mantêm na claridade. Episódio de grande nível técnico
e bom texto (veja que maravilhoso o
cenário em torno da igreja, obscurecido e com uma espessa nevoa que confere ao
visual um aspecto tão aterrador).
Que venha o próximo, porque neste, tudo indica que o bicho
vai pegar.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Staff do episódio
Roteiro: Kazuharu Sato
Diretor Auxiliar: Takashi Suhara
Storyboard: Keiichi Sasajima
Diretor de Animação: Miyuki Ishizuka, Takuya Aoki
Diretor: Takahiro Miura
-Eu sei Shirou, é difícil ficar indiferente diante de uma mulher tão atraente, não é? Mas não se deixe enganar por este corpo de aparência frágil, shounen! HAHAHAHA
-A cordialidade nobre da saber sempre me deixa arrepiada! Seus diálogos são tão pomposos e de uma finasse tão elegante. A Saber não está acostumada com a cordialidade que o Shirou trata os servos, então se surpreende *novos arrepios* com a forma educada com quê ele a trata. Geralmente, mestres veem servos como meras ferramentas, acessórios, não os tratando com a devida cordialidade e respeito, mas Shirou os trata de igual para igual. É o começo de uma imensa admiração que ambos nutrirão um pelo outro ao ponto de a Saber não se importar com selos de comando. Esse tipo de caráter e honra que faz a Saber tão incrível para mim.
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