12 dias de animes é uma iniciativa do The Cart Driver, até onde eu sei, embora vários modelos desta postagem povoando o blogging americano neste período do ano. Consiste-se em listar 12 momentos marcantes OU NÃO que representam cada mês do ano relacionado a anime, que acabou se tornando algo que vale a pena ser relembrado, seja por qualquer motivo, no ano em questão. Sim, é basicamente uma retrospectiva pessoal. O legal deste padrão de postagem é que se trata de um modelo bem aberto e adaptável à necessidade de cada um. Portanto, meus 12 dias de animes começa agora e termina dia 1º. Não sei se vai sair algo de interessante daqui, porque até o presente momento que estou escrevendo esta introdução, nem sequer fiz uma lista prévia e tenho a ligeira impressão que 2014 foi meu pior ano relacionado a anime; não li muitos mangás, muito menos light novels ou visual novels ou doramas, nem muitos filmes japoneses e tampouco consegui maratonar animes antigos (e ainda por cima atrasei nos atuais). Bora lá então ver o que sai disto, buscarei ser o mais sincera possível, ilustrando 12 acontecimentos que dão forma ao meu 2014.
O anuncio de aposentadoria de Hayao Miyazaki é um daqueles
abalos sísmicos de grande comoção. É talvez, e para muitos com certeza, o
acontecimento mais marcante relacionado a animes em 2104 devido às
consequências – mesmo que oficialmente tenha sido anunciado em 2013: o anuncio ocorreu
em meio a diversas polêmicas em relação ao seu filme, Kaze Tachinu (2013). Antes mesmo de sua estreia o
filme já causava discussões e suscitava críticas de muitos japoneses por seu
aparente comentário politico e outras questões (depois de assistido, porém, vi que o filme em si é bem mais um poema
do que exatamente um comentário social). Pacifista, Miyazaki sempre foi um
ferrenho crítico do passado de guerra japonês, a gota d’água foi quando dois
dias antes da estreia de Kaze Tachinu, ele publica um ensaio em uma revista criticando
a tentativa do governo de eliminar o artigo 9, que permitiria ao Japão responder
com violência perante ameaças de outro país. Segundo suas próprias palavras “não
se deve brincar com a fundação de um país. (...) Estou atônito com a falta de
conhecimento do Governo e os lideres de partidos políticos em relação aos fatos
históricos”. Ele também chega a criticar a posição do governo atual no
que diz respeito às Mulheres de Conforto [mulheres chinesas e coreanas que
foram usadas como escravas sexuais pelos soldados japoneses durante a guerra], por
sua resistência em fazer um pedido de desculpas formal, repetindo o gesto feito
em 1993 pelo governo da época.
Miyazaki mexeu em assuntos espinhosos e colheu diversas
reações negativas, alguns setores chegaram a taxá-lo de “não ser japonês”. Fato
é que pouco depois, com a conturbada recepção de Kaze no Tachinu [a despeito de
sua boa bilheteria], ele anunciou que estava se aposentando e este seria seu
último filme. Na época cheguei a pensar que talvez isto tivesse alguma
influência, mas parece que a decisão já estava feita há um tempo. Muitos
demoraram pra acreditar, afinal ele havia voltado atrás várias vezes antes, mas
dessa vez me parecia ser definitivo. Em 2014, porém, todos tiveram que se
render a certeza do fim, pois ele quebrou o silêncio e reafirmou sua decisão e
com ela a indefinição do futuro do Ghibli. Não é algo que me abalou numa esfera
pessoal, apesar de ser admiradora dos seus trabalhos, incluindo ai o bonito e
leve Ponyo, com a sua idade avançada vi com bastante naturalidade seu
afastamento. É preciso valorizar o valor humano por trás das obras, e passar o
resto dos seus dias fazendo o que gosta, depois de uma longa estrada
percorrida, é algo que deve ser compreendido e apreciado. Contudo, ver o futuro
do Ghibli ameaçado reamente foi algo que me surpreendeu. Lembro-me de ter lido
uma noticia que cogitava o fim do estúdio um pouco antes de Miyazaki vir a
publico e achei aquilo simplesmente ridículo. Era difícil crer que um estúdio ícone
e reverenciado pela grande maioria das pessoas que acompanham ou vivem de
animação, pudesse um dia chegar ao fim.
Referenciando ao mais antigo jargão, tudo na vida chega a um
fim (com exceção de One Piece, porque
Oda é uma sociedade coletiva e o verdadeiro já morreu há tempos por excesso de
trabalho, um dia vocês descobrirão esta verdade oculta pela JUMP /ou não) e
então tem se inicio a um novo ciclo. Não é uma decisão que eu lamente tão
profundamente quanto possa parecer, mas é obvio que sua aposentadoria trouxe
consigo consequências substanciais em 2014 que poucos imaginariam ser possível ainda
em 2013, com o futuro indefinido do estúdio Ghibli e a certeza de que, independente
do que aconteça ao estúdio, nada mais será como antes.
Por isso, mesmo sendo uma novela que teve inicio em 2013 e
que ainda irá perdurar, 2014 trouxe o fim definitivo de uma era juntamente às
legendas de Kaze Tachinu que é uma carta de despedida de um artista para com o
seu grande publico – meio mórbido falar assim, considerando que ele aparenta
gozar de boa saúde. Isso tudo forma uma fotografia no mural anual de qualquer
um que acompanhe a indústria de animação de perto – especialmente para aqueles
que trabalham nela; nada de Mamoru Hozoda ou Makoto Shinkai e muito menos Goro
Miyazaki, Hideaki Anno parece ter sido acolhido como o herdeiro definitivo de
Miyazaki pelos japoneses em 2014, depois que o próprio lhe passou a coroa, com
a benção do papa Toshio Suzuki. Oh bem,
não que isto seja de fato algo que importe... Mas o showbusiness precisa de combustível
para queimar.
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