[Qual é a Cor?]. Podemos fazer a mesma pergunta para Psycho-Pass2. Qual a sua cor?
Psycho-Pass 2 foi um passeio estranho. Muito estranho. De
amor e ódio, e nesta sentença, incluo a maioria do fandom, afinal os primeiros
passos conseguiram superar e descrença de muitos mesmo que com uma narrativa
tão distinta – embora, ao voltarmos nossos olhos para o passado, percebemos que
mesmo no primeiro episódio já tínhamos aquela sensação de repetição, de
personagens diferentes estarem ocupando a posição de outros que já não estava
presentes, mas poderia ser apenas o roteiro emulando a estrutura narrativa
adotada na fase final da primeira temporada, em relação a ciclos. No entanto,
no fim das contas, é uma temporada que se mostrou redundante e dispensável,
apesar de eu não renegar a diversão que obtive assistindo isso (HAHAHAHAHAHA).
Neste episódio temos o desfecho do conflito de Akane e do
Sistema Sibila. Do outro lado Mika permanece a mesma personagem do primeiro
episódio, não evoluiu praticamente nada narrativamente. Isso acontece porque
infelizmente, e com muito pesar devo reconhecer isto, Mika não passou de um
artificio barato do roteiro para se tornar alvo de ódio, uma criatura vilanizada
de um modo um tanto cartunesco, à lá Shinji Matou, embora com grande potencial,
seu desenvolvimento é falho. O clímax do seu conflito, no entanto, foi melhor
do que eu poderia esperar nestas circunstâncias. Devo dizer que a cena final
dela frente a frente com Yayoi [que perspicaz, já sacou que ela possui um
envolvimento no sequestro da avó de Akane] é sensacional e não poderia haver
melhor forma de fecharem sua participação neste temporada. Yayoi é a pessoa que
ela mais admira ali naquele lugar, e vê-la dizer que fará o responsável pagar,
independente de quem seja, é algo maravilhoso. Além da culpa que a personagem
irá carregar consigo, a remoendo intimamente, ela vê refletido nos olhos da
pessoa que mais gosta que já não pode mais ser salva ou perdoada, ainda que
esteja em segurança. Quando Yayoi diz que não poderá perdoar o responsável, e
vemos seu rosto resoluto e sem expressão (logo
ela, que é tão expressiva) dizer: “eu também não”, não precisamos de mais
nada para compreendermos que ela também não pode se perdoar. Gosta da Mika, se
o filme abranger este aspecto da personagem e lhe der um curva e um desfecho
satisfatório, ficaria genuinamente contente, mas o mais provável é que isto
tudo seja ignorado.
pena que os valores de animação sejam pobres... LOL |
O melhor do episódio é Akane, vê-la lidar com um brutamonte
como Tougane com aquele aspecto tão frágil apenas com o uso da técnica foi
incrível. Aposto que ninguém esperava por isto (e claro isso faz recair uma sombra sobre o episódio em que Aoyanagi é
abatida, já que muitos questionaram o motivo de ela ter se mostrado tão
impotente diante de um alvo com uma arma tão fácil de esquivar – bem, eu tenho
meu próprio olhar sobre isso, já que acredito que o choque da surpresa, o estado
psicológico e o modo que vivem, como ratos de laboratório, pese muito nesta
questão. Além de o próprio contexto onde Akane desarma Tougane ser diferente).
Essa temporada pode ser resumida em: Uma FANFIC de um fã que
é mega-hiper fã da Akane que o Tow Ubukata encontrou perdida na internet e
resolveu criar o seu enredo a partir disto. A posição da Akane neste episódio é
esperadamente segura, fico feliz que não tenham cagado a personagem – apesar de
que é realmente horrível que a tenham mantido com aquele discurso indeciso
neste episódio, quando tudo finalmente se torna claro: por que diabos não
deixar a protagonista lidar com a morte de Kamui por si mesma? O jeito
encontrado de por um fim naquela situação, com Tougane intervindo, foi terrível.
Tirou da personagem o seu momento no palco e mostrou que seu julgamento é fraco.
Na primeira temporada algo similar ocorre, mas era um contexto diferente e
totalmente aceitável, tendo em conta que mesmo sendo a protagonista, o conflito
com o principal antagonista se centrava em torno de Kougami, o co-protagonista
da série. Neste não, o duelo e o conflito sempre se polarizou entre Kamui e
Akane. A saída encontrada pelo roteiro para este conflito é narrativamente e
também moralmente lamentável, principalmente por Tougane ser um personagem
vazio com motivações tolas que sequer deveria ser levado a sério. O papel de
Tougane nesta série não é nada além de ser um fanservice e um elemento
narrativo de distração, para preencher o enredo. O seu conflito não se
relaciona com a trama principal da série, tudo que diz respeito a Tougane é
unilateral e sem qualquer peso dentro da narrativa global. Deveria ter sido
encontrado pela Mika naquele túnel e ter sido morto por suas mãos ali mesmo,
não é um personagem digno de qualquer papel no palco principal. Aliás, o fato
de a Mika não ter atirado e o personagem se despedido com aqueles diálogos ridículos,
mostra o quanto o roteiro parece temeroso em colocar responsabilidades de morte
nas mãos de suas personagens principais – nesta temporada, o co-protagonismo
cabe a Mika e pffff. Diálogo final de Kamui com Akane depois de que tudo ficou
claro, era tão desnecessário e confuso que nem lembro mais do que se tratava. A
redenção final de Kamui se junta às coisas mais ridículas que eu vi este ano, e
olha que não foi pouca coisa.
Não quero me arrastar muito em pormenores. De um modo geral,
mesmo o conflito de Akane, que é a maior motivação e razão de existir desta
temporada, se mostra bem fraco e no seu clímax sente-se a ausência de uma
pegada mais pulsante e dramaticamente forte, como se viu na primeira temporada.
E o desfecho só é impactante e satisfatório se a jornada tiver estimulado o
suficiente para isso ocorrer. No decorrer dos episódios eu gostei do que vi em
relação a Akane, embora não tenha visto muito, mas chegando ao fim, eu me sinto
definitivamente insatisfeita, o que só mostra que há algo faltando lá atrás [e
também aqui na frente] que a narrativa não conseguiu explorar afundo. Muito disso
se deve a desfragmentação do relacionamento entre os personagens, tônica explorada
com afinco na série original e que está ausente aqui.
Claro, isto já era perceptível para qualquer um, Psycho-Pass
2 é uma série plot-driven e estaria bem se tivesse conseguido manter sua
premissa nos trilhos. Com o fim, finalmente há a certeza de que não existe
respostas para muitas das perguntas feitas anteriormente, como em relação a
esquizofrenia do Sistema Sila que poderia ter evitado tudo isto a um simples
comando nos primeiros episódios. O roteiro se afunda mais a se contradizer no
episódio anterior, quando Kasei [que estava sendo utilizada pela mão de
Tougane] tira os privilégios de Akane, enquanto nega tirar os de Shisei, mesmo
que para isso Kamui alcançasse a sala central. É apenas risível. Enquanto
outras muitas questões são passiveis de discussão, isto permanecerá sem
resposta para sempre.
Em relação a resolução final do Sibila, Akane conseguiu sua
pequena revolução. Eu realmente não esperava que o sistema fosse aceitar ser
julgado, mas o fim trágico de Kasei Togane era bem o que se podia esperar, ou
eu ia começar a suspeitar que o roteiro disto foi feito pelo mesmo cara que
escreveu a história da primeira temporada de SAO (já expliquei os motivos no post anterior). Era lógico que para
conseguir o termino que vemos era preciso que ela fosse julgada pelos outros cérebros
e excomungada. Ela e Tougane tornaram da sociedade o seu playground particular,
isto é inadmissível, embora o roteiro não demonstre que este tenha sido o
motivo (mostrando que eles, Ubukata,
Shiotani e o escritor do episódio, são realmente inconsciente até aquele
momento sobre suas falhas). Mas o julgamento em si do sistema foi uma decisão
excelente, é tematicamente rico, ainda que o episódio não tenha correspondido a
tanto neste aspecto. As consequências para o novo padrão de julgamento são
amplas, mas não deixo de pensar que a aplicação deste novo modelo é bastante estúpido, e tudo, menos justo. É inconcebível que algo assim possa ter saído da mente da Akane (obviamente isto será prontamente ignorado no filme), contudo, não dá pra entender plenamente os pormenores disto e duvido que tenham pensamento detalhadamente em tudo que isto implica. A voz de todas as vitimas do julgamento falho do sistema presentes em
Kirito, com eles julgando o Sibila é um bom momento. Não há muito de ação
envolvida porque o seu valor é temático e simbólico, assim como a própria
premissa do Sistema Sibila. Com este fim, vemos o sistema mostrar uma face mais
justa, passível de julgamento, se tornando o mais próximo possível da Justiça
em nosso mundo, em que os homens que regem e fazem as leis também são passiveis
de serem punidos por ela.
É olhar para essa bela premissa temática e sentir um grande
desgosto pelas ideias mal aproveitadas e desastrosamente desenvolvidas. Por ser uma série e personagens que eu gosto, fico ainda mais decepcionada.
Enfim, a existência de Psycho-Pass 2 é claramente uma forma
de aquecer o fandom para o filme e reintroduzir uma possível nova audiência, levando
em conta o quão didática foi a narrativa nesta temporada. Que se torne uma
lembrança amarga para os produtores do Noitamina, em relação a este tipo de calendário
de produção apertada, apesar de que duvido muito que estivessem esperando algo
grande disto. Os fanservices e a reiteração demonstram isso, e no fim das
contas esta é a forma desta nova série. Por um bom tempo se manteve como uma
boa diversão para mim, mesmo se mostrando um produto mais fraco que o original.
Esperava manter ao menos uma nota mediana, mas nem isso. Será mais um pra vala
das continuações desnecessárias que eu escrevi um pouco antes da estreia.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
Nota Final: 04/10
Roteirista: Hiroshi Kobayashi
Direção Auxiliar: Yuuzou Satou, Katsuya Shigehara, Masahiko Matsuyama
Storyboard: Naoyoshi Shiotani, Kiyoko Sayama
Direção de Animação: Kenrou Tokuda, Tatsurou Kawano, Manabu Nakamura, Koutarou Nakamori, Ayano Oowada, Maho Yoshikawa, Jiemon Futsuzawa
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