Um mundo em colapso observado pelas mesmas lentes. Texto escrito originalmente em 27/02/2014
Veja também outras obras do autor aqui no blog:
Yuretsuzukeru (Keep on Vibrating) termina com um posfácio do seu autor, Jiro Matsumoto, onde ele comenta algumas peculiaridades de cada conto contido nesta coletânea, mas o que eu achei mais curioso foi ele dizendo que esta seria a primeira vez que faria um trabalho de cunho erótico. Quem conhece outras obras do autor sabe que o erotismo, assim como a miséria e violência, são elementos presentes em todos eles. Eu não sei o que exatamente ele quis dizer com isto, mas é verdade que embora em todos os seus trabalhos a nudez e o sexo e a violência sexual sejam elementos constantes, há sempre um contexto palpável por trás. Talvez, ele se referia não em relação a questão da nudez per si, mas do quão sensual ela poderia soar. Mesmo assim, ainda é uma questão sensível que é muito fácil de não ser percebido por outros olhos, embora neste trabalho, de fato haja uma grande ênfase no sexo.
Yuretsuzukeru (Keep on Vibrating) termina com um posfácio do seu autor, Jiro Matsumoto, onde ele comenta algumas peculiaridades de cada conto contido nesta coletânea, mas o que eu achei mais curioso foi ele dizendo que esta seria a primeira vez que faria um trabalho de cunho erótico. Quem conhece outras obras do autor sabe que o erotismo, assim como a miséria e violência, são elementos presentes em todos eles. Eu não sei o que exatamente ele quis dizer com isto, mas é verdade que embora em todos os seus trabalhos a nudez e o sexo e a violência sexual sejam elementos constantes, há sempre um contexto palpável por trás. Talvez, ele se referia não em relação a questão da nudez per si, mas do quão sensual ela poderia soar. Mesmo assim, ainda é uma questão sensível que é muito fácil de não ser percebido por outros olhos, embora neste trabalho, de fato haja uma grande ênfase no sexo.
Geralmente os cenários de Matsumoto é de extrema pobreza, em
meio a uma guerra que remete à Segunda Guerra Mundial em que o Japão, entre
outros países; foram palco, retratado em algum momento de um futuro não tão
distante, com personagens masculinos deslocados socialmente (frequentemente são retratados nus,
ingênuos, e com algum distúrbio psicológico), mulheres insatisfeitas com o
marido que buscam na relação extraconjugal uma forma de se vingarem e sentirem
prazer (a tendência é que essa aventura
termine de forma trágica), mulheres com passados traumáticos e repletas de
sonhos e ideais que são desfiguradas pelas circunstancias da vida; se tornando
aquilo que sempre lutou contra, mulheres cínicas e manipuladoras que aprenderam
que para sobreviver naquele cenário era necessário seguirem a onda, vendendo e usando seus corpos para atingirem um
objetivo.
Há algo de sujo, melancólico e desesperançoso no sexo
retratado por Matsumoto em sua característica arte. Talvez ele não tenha se
dado conta ainda, mas as relações sexuais de seus personagens carregam consigo
a sordidez; uma fuga desesperada por prazer; a necessidade da superação através
da dor – características estas que moldam os mundos criados por ele, mundos pós-apocalípticos
inundados no caos e pobreza, um lugar onde não é permitido que ninguém se
mantenha puro ou casto. Homens, mulheres, crianças, todos acabam se corrompendo
de alguma forma. E essa visão é capturada com excelência por seu estilo de arte
de aspecto não finalizado e suja, em
que seus personagens vão alternando entre traços rascunhados e adornadamente esculturais.
Claro, é o padrão do seu traçado visual, mas que casa em absoluto com o teor
das histórias que conta.
E bom, a linha entre o erotismo e a aversão às vezes se
tornam ininteligíveis, então mesmo que o autor tenha certa intenção ao desenhar
certa cena, ele perde completamente o controle disso quando sua obra passa a
ser absorvida por outros olhos e perspectivas. É uma conclusão individual,
embora a leitura que se faz nunca deva entrar em choque com o contexto.
Com isso, eu acabo de dar minhas impressões acerca de Yuretsuzukeru,
que numa tradução livre, entende-se como “Mantenha-se Vibrando”, o que de certa
forma é quase uma ironia, mas também um grito desesperado de esperança, a fim
de manter-se vivo em um mundo sujo. Uma engenhosidade fantástica aqui, é que
todas as histórias terminam de um modo completamente inesperado. Por exemplo,
algumas histórias possuem reviravoltas com alguns elementos sarcásticos e
irônicos, que ilustram como um simples ato seu pode mudar drasticamente o seu
futuro e como isto pode representar uma coisa boa ou ruim para um outro alguém.
Ou seja, a vida é uma questão de perspectivas. Sempre terá alguém se dando bem
em cima da tragédia do outro ou acontecimentos que fogem completamente da
compreensão humana. Aliás, esse é outro aspecto que eu achei sensacional em
algumas histórias dessa coletânea, em que a moral/resolução se torna muito dúbia.
Matsumoto também utiliza de forma recorrente dois
personagens, uma menina e um menino, que usam máscaras em um cenário diatópico,
que ora alude para o onírico, ora para o mundano. O fato é que essas duas
crianças vive em um lar desestruturado, são obrigadas a trabalhar desde
pequeninas para trazer de comer para casa, com uma mãe abusiva. Para todas
essas moléstias, eles encontram na fantasia escapista uma forma de fugir dessa
realidade, e este é o momento em que o contexto no qual eles se encontram
inseridos se torna lacrimosamente lisérgico. Em uma das histórias, eles chegam
na sacada do prédio ondem moram e dizem como os fogos de artificio estão
bonitos naquela noite, mas no quadro seguinte, você percebe ao fundo uma cidade
sendo bombardeada por aviões inimigos. É de uma beleza trágica fascinante e
somente lendo para entender. Matsumoto também se permite trair um pouco suas
convecções, dando uma tonalidade mais doce que o de costume para determinada
história, ao qual ele viria a dizer que, não exatamente nessas palavras: “não
faz meu estilo, mas de vez em quando não tem problema”. Yuretsuzukeru é
uma obra divertida, repleto de altos e baixos narrativos, dramaticamente
falando, mas uma obra bem completa com inicios, meios e fins bem definidos,
além de um tema global amarrando todas as histórias com sutileza. Para uma
coletânea de histórias curtas, o resultado final me foi mais do que
satisfatório.
Nota: 07/10
Ano: 2005
Autor: Jiro Matsumoto
Volumes: 1 (encerrado)
Demografia: Seinen
Revista: Kawade Shobo Shinsha/Ohta Books
Temas Relacionados:
-Wendy (1996): Alucinante Conto de Fadas
-[+18] Tropical Citron ― Psychedelic Witch Story (2001): Estonteante Contracultura Psicodelica
-Hiroaki Samura: Bradherley's Coach
-[+18] Believers: Hikikomori, Aum Shinrikyo, e o Culto
Nota: 07/10
Ano: 2005
Autor: Jiro Matsumoto
Volumes: 1 (encerrado)
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Revista: Kawade Shobo Shinsha/Ohta Books
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