quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

12 Dias de Anime – #12: Hero Kensan, Hero Kenzan, Hero Kenzan!

Fechado a série de posts especiais! 

12 dias de animes é uma iniciativa do The Cart Driver, até onde eu sei, embora vários modelos desta postagem povoando o blogging americano neste período do ano. Consiste-se em listar 12 momentos marcantes OU NÃO que representam cada mês do ano relacionado a anime, que acabou se tornando algo que vale a pena ser relembrado, seja por qualquer motivo, no ano em questão. Sim, é basicamente uma retrospectiva pessoal. O legal deste padrão de postagem é que se trata de um modelo bem aberto e adaptável à necessidade de cada um. Portanto, meus 12 dias de animes começa agora e termina dia 1º. Não sei se vai sair algo de interessante daqui, porque até o presente momento que estou escrevendo esta introdução, nem sequer fiz uma lista prévia e tenho a ligeira impressão que 2014 foi meu pior ano relacionado a anime; não li muitos mangás, muito menos light novels ou visual novels ou doramas, nem muitos filmes japoneses e tampouco consegui maratonar animes antigos (e ainda por cima atrasei nos atuais). Bora lá então ver o que sai disto, buscarei ser o mais sincera possível, ilustrando 12 acontecimentos que dão forma ao meu 2014.
Hero Kensan, Hero Kenzan, Hero Kenzan! A fabula urbana sobre dois amigos com necessidade distintas; um de ser uma figura inspiradora e o outro de ser motivado – mas que agora se encontram perdidos, nada mais fazem do que refletir uma genuína verdade escondida dentro de nós mesmos. Todos precisamos de um “herói” em algum momento de nossas vidas e todos, em algum momento, desempenhamos este papel de “herói” na vida de alguém. A fantasia arquetipa do herói clássico é apenas uma metáfora para essa necessidade humana tão verdadeira quanto abstrata. Ter alguém que nos inspire pode ser fundamental na formação de alguém, então dai a importância da representação em um momento tão delicado da vida.

Ping Pong The Animation é uma história de personagens multifacetados, que crescem tanto com a gente a cada episódio, que ao final do anime, quando chega o momento do desfecho de cada história, sentimos até uma pontada no peito por termos que nos despedirmos de todos. Com direção frenética e calorosamente emocional de Masaaki Yuasa (o que já lhe é característico, normalmente), não é engano afirmar que Ping Pong não seria uma adaptação tão magnifica em um cronograma tão apertado e números de episódios inferiores ao necessário para adaptar completamente o mangá, se não fosse Yuasa o comandante deste navio. Não, este teria afundado. Yuasa foi um leão faminto na produção deste anime e seu rugido se fez perceber em cada frame. Estava lá sua identidade: oh, esse é um anime do Yuasa! Mesmo estando atarefado, com falta de animadores e com o calendário apertado para entrega dos episódios, ele pessoalmente concebeu todos os stoyboards – algo muito incomum, geralmente o diretor principal faz apenas o primeiro e o último storyboard, deixando o resto na mão da equipe. Isso demonstra não simplesmente a centralidade de sua direção (afinal, muitos diretores mais autorais, como Ikuhara, mesmo sem colocar um dedo, fazem questão de que tudo saia como está em suas mentes ou da forma que lhes agradem mais), mas sua paixão por esta história. Ou seja, ele acreditou nesta história e nos seus personagens, tomando-os para si. Se tratando de adaptação, isto não é tão comum.

Yuasa fez mais do que simplesmente copiar de uma mídia para a outra, ele REIVENTOU Ping Pong através da sua própria ótica, fazendo com que a adaptação funcionasse tão bem nesta mídia de um modo concentrado e um tanto diluído em relação a transposição. Ainda assim, a história ganha densidade e funciona principalmente por seja objetiva. Ela tem algo a contar, então se concentra neste algo. Acertadamente, porém, estabelece suas bases para que possamos nos envolver com estes personagens. Isto significa que o começo de Ping Pong não é a tormenta que vemos logo a frente, o que vemos no inicio é apenas uma brisa. Acompanhamos gradativamente o cotidiano dos personagens com uma estrutura elíptica e várias partidas. Assim, por mais que ainda não tenhamos nos envolvido completamente com a história e os personagens, cada partida acaba se destacando pelo estilo de direção que Yuasa imprime na série. Isto nos leva ao próximo ponto.

Yuasa pode ter alterado algumas coisas em relação ao mangá original para que tudo funcionasse bem dentro do formato estabelecido para a série, mas a essência do original é mantida intacta, como podemos notar na transposição da narrativa cinética do seu autor, Taiyou Matsumoto. Isso faz com que o aspecto visual e estilo de animação sejam uma das coisas mais refrescantes e pulsantes na série, mesmo que a fluidez seja instável por conta da produção apertada e todos os problemas enfrentados. Ainda assim, Yuasa aplicou um estilo em que isto fosse minimizado, a estilização/experimentação na animação de Ping Pong se tornou sua mais forte e evolvente característica, além de todos os ângulos ousados que ele desenha. É disto que é formado a força magnética no aspecto visual do anime, que é tão cativante. Yuasa demostrou uma imaginação versátil que se encontrava muito em voga em diretores dos anos 70 e 80, que buscavam na criatividade uma forma de contornar o baixíssimo valor de produção de seus animes.

Ping Pong não é redondinho, porém, mesmo com todo o esforço sobrehumano de Yuasa (ele chegou a declarar ao site Noitamina nas comemorações de 10 anos do Bloco, que dormiu muito mal neste período, isso quando dormia, e que agora não saberia o que fazer com tanto tempo livre: mas cabe lembrar que além de sua participação em um episódio de Space Dandy, ele também dirigiu um episódio de Adventure Time, neste mesmo período de tempo. Ele provavelmente sabia que não podia abrir de tão raras oportunidades para expor o seu estilo, que quase nunca casa com os objetivos dos produtores. Não exatamente com essas palavras, em outra entrevista, ele chegou a dizer que por não dar lucro, seu nome não era muito bem quisto por produtores). Há arestas, além da instável animação, que poderiam ser melhores aparadas com mais tempo e o final é um tanto anticlimático e corrido. Creio que se o encerramento fosse mais adequado, eu teria uma avaliação mais alta e maior contentamento. Apesar de levar isso em consideração, de um modo geral a série se tornou tão grande aos meus olhos, que estas questões até ficam um pouco pálidas quando penso no restante que compõe o todo. Futuramente olharemos para o ano de 2014 e teremos a certeza que este foi um dos destaques daquele ano. É uma série que faz brotar um calor no peito e espirito de torcedor, ao ponto de também querermos gritar Hero Kensan, Hero Kenzan, Hero Kenzan! Yeah, eu gostei demais de acompanhar Ping Pong e me apaixonar por aqueles personagens. Volte, Yuasa, volte para nossos braços!