sexta-feira, 31 de julho de 2015

Por que são tão raros Animes de Apocalipse Zumbie?

Porque eles não são bonitos o suficiente.
Eu estive pensando aqui com meus botões: por que será que, especificamente, animes de apocalipse zumbi são tão...mas tããão raros? Em verdade, é uma duvida antiga, regurgitada agora pelas discussões em torno de Gakkou Gurashi, recente anime de garotas moe fazendo coisas fofas na escola enquanto tentam sobreviver a um zombie apocalypse. Hmm... não sei se o texto vai conseguir transmitir meu deboche, mas esta foi uma tentativa não-séria de sinopse, muito embora seja verdadeira. Oh, bem...

Algumas pessoas, ao baterem o olho de relance no título da postagem, certamente pensarão que estoy loca, pois existem infinidades de animes com temáticas zumbis... Bem, não deixa de ser uma verdade, mas não são de zumbi apocalipse. Ou seja, não são produções que respeitam os termos clássicos de um dos gêneros mais cults da America. São variações.  Abaixo, disponho 2 vídeos para usarmos como exemplos. 



Entre os citados deste top, Sankarea, Zumbie Loan e Kore wa zombie desu ka? são alguns dos exemplos mais notáveis que fogem do padrão clássico. Sakarea é um caso interessante, pois é ao mesmo tempo uma sátira-homenagem ao gênero – com diversas referências clássicas – e também uma “reinvenção” da formula. Em termos, porque estamos falando do estereotipo popular que foi infundido na mente coletiva pelas produções B americanas e os filmes do George – Romero que, praticamente criou toda uma nova concepção e mitologia em relação ao arquétipo zumbie na cultura popular, no qual se tornou uma referência para todas as pessoas quando se pensa e fala sobre zumbis, inspirando produções ícones do gênero, na Itália. A referência anterior era completamente distinta. A origem destas adoráveis criaturas putrefaças vem de uma herança literária de vários modelos. Mesmo Frankenstein, ainda que não seja um romance zumbi, retrata muitas idéias acerca dos zumbis no modo de pensar das pessoas das últimas décadas do século XX, com a ressurreição dos mortos sendo retratada como um processo científico e não místico, como era comumente nos filmes, antes de Romero.  Diversos autores exploraram a temática de mortos-vivos sob diversos ângulos, do fim do século XIX ao XX. Portanto, quando se vê um romance como Misto Quente, que subverte a formula clássica criada por Romero, se pensa que é uma espécie de reivenção, mas na verdade mesmo antes de surgir o conceito moderno de zumbis, já se foram feitas diversos experimentos com o tema que fogem do senso comum hoje em dia. 

Assim, ver como a indústria da animação absorve esse tema sempre por uma ótica adversa à visão clássica que nós ocidentais tempos a respeito, é algo que instiga a curiosidade. Se vampiros retornaram depois de uma década de ostracismo, repaginados e um novo look que dialogam com uma nova audiência, zumbis seguem sendo difíceis, para o ocidental, de se desassociar da visão romeriana – mesmo que as tramas mais sérias tenham sido sobrepostas pelas sátiras e comédias zumbies, ainda permanece algo arraigado na concepção romeriana, surgida nos anos 60. Eles não vivem mais no topo da onda, mas fazem parte da cultura ocidental, e vira e mexe sempre surge alguma coisa.
Japoneses também adoram zumbis, e em nível de produção, é provavelmente o segundo país que mais produz obras referentes, depois dos EUA, já que mesmo com uma imensa tradição e amor dos italianos, a Itália não ostenta um cenário produtor tão lívido para o gênero, como outrora. No entanto, seu modo de retratá-los é diferente do romeriano, num cenário geral. Isto tem haver com o aspecto cultural, é obvio. Japoneses tendem a não enterrarem seus mortos; se tratando de terror as histórias possuem um grande vinculo com o folclore local (dica: A História do Terror Japonês); além do imenso respeito aos corpos dos mortos. É provável que todas estas características predominantes tornem os zumbis menos atrativos para eles como arquétipo social, enquanto em nós estes exercem uma grande força, tornando-os criaturas místicas no imaginário coletivo, ainda que sejam criaturas pseudocientíficas, na formula romeriana. Os zumbis surgidos a partir de Romero dialogam diretamente conosco e nossa cultura, é natural que tenham a força cultural que possuem aqui. Enquanto no Japão, zumbis se popularizem mais com aquela intricada visão antiga, que originou o termo. Ou seja: para o Japão, zumbis podem ser muitas coisas, e não exatamente a formula romeriana que é popular do ocidente.

Ainda estamos falando do país de Resident Evil, há diversas produções Romero-like e satíricas, que debocham da formula, mas à exceção de Resident, nenhuma com tanta notoriedade ou popularidade suficiente para puxar um filão. Isto reflete nas animações, evidentemente, já que é uma indústria formada basicamente de adaptações. Se não há material proeminente, não há o que se adaptar. Com isso, retornamos à Sankarea, e em como este mangá – que posteriormente ganhou adaptação em anime – sabe ser lindamente um produto que dialoga com o seu publico alvo, através de uma comédia romântica [com pitadas de dramalhão e fanservice erótico] adolescente, ao mesmo tempo em que estabelece uma temática zumbi; o protagonista é um aficionado por filmes de zumbis americanos, idolatra os mestres do gênero,e só tem olhos para isto. E a única garota que consegue atrair sua atenção heterossexual, é exatamente... uma garota...zumbi – a personagem-título. Ser zumbie é só um detalhe na história, ela poderia ser qualquer coisa, mas o garoto é um aficionado por zumbis, e talvez por isso funcione tão bem como teor satírico. Não obstante, é mais um produto da temática que foge da fórmula romeriana. 

Kore wa zombie desu ka? segue de uma forma similar, mas os zumbis aqui são criaturas místicas. Em Zombie Loan e Tokko, os zumbis tem um quê sobrenatural, sendo incorporados ao folclore japonês – neste caso, zumbis é só uma terminologia referencial ao estado pós-morte, pois soa mais como a possessão demoníaca de corpos vazios, o que está de pleno acordo com o folclore japonês. Casos como estes, de uma cultura externa que é assimilada à cultura local [se tratando de zumbis], se encontram aos montes na animação, de Shikanbane Hime; passando por Princess Resurrection, à Blood +. Estes temas são populares por lá, mas por uma ótica diferenciada. Não é como estamos acostumados aqui. Um exemplo marcante é a do terror. É obvio para qualquer um a diferença de abordagens entre o terror americano (que é o que absorvemos por aqui) e o japonês. Olhando em uma perspectiva ampla na escala cinematográfica japonesa, há opções, mas o mesmo não se percebe na animação, uma indústria de menor demográfico. É raríssimo encontrar um anime de suspense-terror genuíno, como Shiki ou, apesar dos pesares, Another; e então percebemos ,que estes são dois animes profundamente inspirados em escritores americanos, sendo um reflexo daquela indústria, mais do que qualquer coisa. 
Tudo isto tem haver com vendagens, é claro. A indústria dos mangás tem uma abrangência maior e com uma estrutura, ou modelo de negócios, que permite mais experimentações e diversificação. Mesmo nos mangás, apocalipse zumbi não é algo extremamente popular, mas há obras de destaque e que vivem momentos de popularidade, como meu amado I Am a Hero; Apocalypse no Toride  ; Mahou Shoujo of the End. Gakkou Gurashi estava entre esta safra de mangás zombie bem comentados e populares entre a galera que lê mangás assiduamente e em grande escala.Até agora me obstei de comentar, até por ser o exemplo mais obvio, mas High School of the Dead foi, desde então, o mangá com zumbis exatamente da forma como estamos acostumados a vê-los aqui no ocidente, mais popular que já se viu. Não sei o quanto ele contribuiu, talvez, para um possível burburinho de mangás com esta temática mais fiel à visão americana, mas é notável que todos os exemplos proeminentes de mangás zumbis citados acima, surgiram após este. O anime de HOTD, mesmo que muitos possam ter certa aversão pelo grande apelo de fanservice erótico, ao ponto de alcançar um nível completamente novo para a época, ele é o melhor produto em anime com esta temática, até então – se formos nos centrar em apocalipse zumbie. Acho que os vampiros são das criaturas míticas ocidentais que melhor se deram com os japoneses... Unicórnios não contam!


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