sábado, 10 de outubro de 2015

Comentários: Subete ga F ni Naru #01 - Tudo se Torna Bach

Chapter One: White Meeting
Novo anime do bloco de animação noitaminA, da TV Fuji, Subete ga F ni Naru: The Perfect Insider chamou a atenção desde o seu anuncio e têm sido uma das estreias mais aguardadas da temporada por conta de alguns nomes envolvidos na produção. Ou melhor, Inio Asano (Oyasumi Punpun, Solanin), que pela primeira vez projeta personagens para uma série animada. Não é tão detalhado como ele costuma fazer nos mangás, por motivos óbvios de se tratar de uma animação e quanto mais simples/fácil melhor é para os animadores na hora de fazer os desenhos ganharem vida, mas ainda assim tem todo aquele ar excêntrico bem próprio do autor.

Como sempre acontece nestes casos, a equipe de produção convida algum artista, que pode ser ou não uma pessoa conceituada no mercado (embora tenda a ser alguém com nome feito dentro do nicho) para criar o design dos personagens, que os cria do zero, ainda que possam seguir algumas instruções especificas da produção no sentido de como o personagem deve soar no vídeo (se arrogante, se despojado, bem vestido, personalidade, etc). Então, com a base criada, há na equipe o profissional que adapta essa arte conceitual para o padrão de animação e costuma haver perdas de qualidade no processo, com ele optando por uma maior simplificação. Todo esse processo acontece mais com produções originais, e em alguns casos como este, onde não há ilustrações de personagens no livro adaptado ou pela equipe optar por recriá-los. Em adaptações, geralmente já há uma base criada por outro artista para o material original, e então o character design da staff só tem que adaptar essa arte. No ótimo Shirobako, há um arco com uma personagem que é character design que trata justamente disto, onde o conflito está entre ela conseguir conciliar uma adaptação artística que agrade o autor original e ainda assim, seja fácil para os animadores transporem. 

***

Chamou atenção também a direção de Mamoru Kanbe, mais conhecido pelo amado e odiado, na mesma intensidade, Elfen Lied (mas ele dirigiu outros, como Sora no Woto, Kimi to Boku e Denpa Teki na Kanojo). O considero um diretor razoável, que quando inspirado consegue entregar um bom trabalho. Em parceria com Toshiya Ono (Gatchaman Crowds e insight, Tsuritama) na composição de roteiro, o primeiro episódio encontra obstáculos complicados. Há muita informação, pouquíssima ação (e não me refiro à ação física; correria, e sim de acontecimentos realmente relevantes) e uma introdução lenta que sequer alcança o enredo da série ao fim do episódio. Não sei se seguem uma adaptação fiel do livro. Se um outro diretor escolheria opções melhores para um primeiro episódio. Mas apesar das limitações claras ao seguir com esta proposta, e da incógnita que circunda a série, este é um bom primeiro episódio. Ele te passa algo. Um feeling promissor. 
Para falar deste algo, precisamos destacar quem realmente brilhou nesta estreia. Kenji Kawai (Fate/stay night primeira série animada, Ghost in the Shell filmes) é um compositor musical conceituado por suas peças em diversas animações, mas os fãs de animes não parecem se importar muito com ele. É verdade que seus arranjos nem sempre despertam atenção ao ponto de querer saber quem tá fazendo, ainda que eficientes, nem sempre são chamativas. A deste primeiro episódio te envolveria, mas não despertaria a curiosidade se não fosse por uma música clássica – das mais famosas, peça de Bach –. Nesse sentido, a BGM acaba se tornando o grande maestro do episódio, responsável por guiar e manipular nossa impressão sobre o que vemos. É um episódio que demonstra na prática o quanto a trilha sonora atua sutilmente em nosso subconsciente. Situações corriqueiras do cotidiano, conversas banais, filosofias de botequim e nenhum conflito real acontecendo ao fundo, ganha nova dimensão sob a batuta de Bach e os arranjos quase imperceptíveis de Kawai, que de fato absorvem e fazem tudo o que vemos soar mais interessante/agradável do que realmente é. A música te envolve nas ações dos personagens e te convida a querer saber mais. 

Você pode não entender conscientemente o motivo, mas está lá. A trama do episódio não oferece razões reais para continuar, mas o som te promete que há algo por vir. Um dos melhores ensaios neste quesito é o assustador (pois assustou um mundo inteiro de aficionados por animes) Aku no Hana, que ao contrário do mangá, tornam as ações mais sombrias e cria uma atmosfera inebriante de suspense psicológico, enquanto ao fundo acontecem as coisas mais triviais e ordinárias já vistas. Se não fosse a péssima qualidade da rotoscopia utilizada, que contrastou tudo o que havia de incrível na proposta, acredito que teria sido um anime bem mais aceito e talvez, quem sabe, um futuro clássico. 
Subete ga F ni Naru envolve o espectador no mesmo jogo de cena e som. Há uma atmosfera finíssima de suspense, um trato fino e elegante na condução da narrativa audiovisual, que consegue prender – ainda que tão delicadamente como um botão de flor – ao instigá-lo a algo com camadas filosóficas. Pode ser visto como pretencioso? Obvio que sim. A série demonstra desde o primeiro episódio, uma aparente vontade de elevar um quê intelectual em meio a cenas de crime em tom climático de mistério-suspense-detetivesco.  Para tanto, Kanbe e Ono adiam o máximo que podem a cena do crime – ou o caso a ser estudado – para outro episódio, sem se interessarem em criar um link; um cliffhanger com este argumento narrativo. Se há a promessa de algo assim a seguir, ela é instintiva ou por você ter conhecimento prévio da sinopse. Ao primeiro episódio é destinado os personagens e suas questões subjetivas. Se há um crime/mistério a ser investigado a seguir, certamente ele será apenas uma distração. 

***

Como disse, Kanbe é bom. Com as devidas instruções, Ono destaca frases de efeito em meio a diálogos banais do cotidiano, que sob a ótica de uma música incidental imponente e poderosa, ganham um apelo de algo importante que são os sentimentos (com isso, até os diálogos expositivos se tornam perdoáveis e não agridem tanto): a narrativa levando-os a sério, ao invés de algo adolescente, fazendo-os soar mais maduros do que talvez sejam também faz com o espectador se importe (ou tenda a se importar, afinal, sempre existe as variações) e crie uma empatia. Do outro lado, haverá alguém que se identifique, pois tais sentimentos vistos são algumas das emoções mais comuns ao ser humano contemporâneo. E, por meio de cortes específicos, Kanbe destaque toda esta intenção, enquanto na maior parte do tempo dá forma a um storyboard que faz coro tematicamente ao roteiro e a trilha sonora, sendo este simplesmente retratando a ação cotidiana dos personagens. Se ajeitar em frente ao espelho, sair de casa, chegar no destino e conversar com o colega, interações, discussões bobas. 
Ao contrário do corte com ilustração estática do horizonte seguido do monologo, que certamente comprou muita gente, é a sequencia inteira da Moe com o seu professor na sala, conversando e andando de um lado para o outro, fazendo uma coisa e outra, que me fez degusta aquilo com a mente. É muito bonita e bem sincronizada, com uma marcação que transmite magnificamente a beleza, leveza e leviandade do dia-a-dia. Geralmente, o que se vê muito em cenas assim são personagens parados em ambientes monótonos, com pouca ou nenhuma atenção aos minimalismos dos gestos dos personagens, o que torna a coisa toda antinatural e sem graça. Enfim, com isso, quero dizer que me apaixonei por Subete ga F ni Naru. Espero que ele possa me corresponder. 

Avaliação: ★★★★★ 
Staff do episódio
Roteiro/composição: Toshiya Ono 
Direção do episódio: Miyuki Kuroki
Storyboard: Mamoru Kanbe
Direção de animação: Keiichi Kondo, Yu Kurihara
Diretor: Mamoru Kanbe

OP Theme: 「 talking 」 
by: KANA-BOON 
release: 11/11/2015 

ED Theme: 「 Nana Hitsuji (ナナヒツジ; Seven Sheep)」 
by: Scenario Art 
release: 11/11/2015

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