quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Rewrite: Moon Route (Romeo Tanaka)

A misteriosa garota da lua... e não estou falando da Sailor Moon! Spoilers, SPOILERS adoidados! Série de artigos de minhas impressões sobre cada rota de Rewrite. 
>Rewrite - Reescrevendo o Mundo Segundo o seu Próprio

Seiyuu: Kana Hanazawa
Trivia: Escalar uma seiyuu estelar, do nível de KanaHana, para interpretar uma personagem muda, que praticamente não fala, se tornou motivo de piada nos bastidores da produção. Assim, Moon acaba se tornando um momento raro.

Antes de qualquer coisa, um adendo: os primeiros minutos de Moon, de consecutivas deaths and rebirths e total atordoamento do que está se passando, são simplesmente um dos melhores momentos que eu já tive o prazer de absorver em qualquer mídia. É delirante e excitante ao extremo essa viagem ácida provocada por essa experiência psicodélica chamada Moon. Ainda que o cenário/CG seja precário (o que se olhado por um olhar romântico, talvez dê até certo charme, apesar de qualquer coisa), a narrativa em prosa de Tanaka é absolutamente "imergetica" (uma imersão repleta de energia que te deixa pulsando) e delirante.

Esta rota está em um nível totalmente diferente, com alto grau de experimentalismo, conceitualmente sci-fi e escrita prolifera – enquanto Tanaka descreve as curiosas experiências extrafísicas que foge da compreensão lógica do nosso tempo presente, é quase impossível não se perder na imensidão daquele universo fantástico, que cria e dá senso de unidade às diversas realidades alternativas nas quais Kotarou viveu várias vidas diferentes. E verdade seja dita, há momentos em que o fluxo da narrativa de Tanaka se torna prolificamente denso de informações, e um desvio sequer de atenção pode levar à perda de algo valioso para a compreensão da estrutura do seu universo expandido. E sim, é tudo bem simples de compreensão, mas ao mesmo tempo, a narrativa propositalmente deixa pequenas fissuras que te levam para longe dessa compreensão. O mais engraçado nisto tudo, é que se você voltar com mais atenção em determinado ponto, será capaz de compreender tudo. E esse tudo parecerá tão simples que se sentirá constrangido por ter se perdido. Mas é natural. 

É elogiável que Tanaka, e a própria Key, tenham mantido este “nó” narrativo que dá um charme especial a esta curta peça, desafiando o leitor desatendo a ir além da leitura passiva e buscar raciocinar sobre qual o teorema que Moon propõe. Como uma formula matemática, onde chegar à resposta é só uma questão de lógica. No entanto, essa resposta não está nos números finais (ou resultado final), mas na formula; esta é que deve ser desvendada, pois, o que vem além já é claro. Porém, como chegar lá? Essa é a questão. 
Eu confesso! Sou criminosa. Se não fosse pelo auxilio do querido @thanos*, eu teria ficado um tanto perdida até conseguir encontrar a justificativa, pois a minha compreensão inicial de Moon foi bem parcial – sei que é natural, a rota é bem curta, mas é como se fosse uma tempestade browniana ou uma viagem no ácido onde tudo é muito subjetivo e pouco lúcido. As experiências extracorpóreas de Kotarou certamente despertam muito da subjetividade humana, pois se faz necessário para compreender ao menos minimamente a ascensão à matéria. Creio que seja parte do que torna Moon tão atraente seja essa homogênea mistura entre o aspecto “romântico” e o cientifico. Talvez seja algo que alguns encontrem problemas em aceitar, mas francamente, o momento em que Kotarou convoca o occult club e demais aliados é um grande acontecimento, é narrativamente o clímax da história e de uma catarse emocional em seu estado mais bruto, depois de ter jogado todas as rotas anteriores, ou melhor, vivido todas aquelas vidas. Kotarou e Sakuya ainda iriam protagonizar o momento mais mágico deste romantismo, em um desfecho representativamente belo e triste. Além disso, foi ótimo acompanhar uma versão da Kagari em que podemos ver e saber mais dela e, claro, ouvir sua voz.
Trocando em miúdos: para quem não entendeu a primeira coisa a deixar claro é que existe a Moon Kagari e Earth Kagari, e que a Moon Kagari é a administradora de mundos em Rewrite, buscando através do seu teorema em relação à teoria da vida, a resposta que possibilite a existência uma realidade onde seja possível preservar o planeta e evitar que o sistema da terra seja reiniciado por Earth Kagari. Ou seja, um mundo onde toda a humanidade possa sobreviver, ao contrário do que ocorre nos mundos anteriores (em especial, aqueles que lemos/jogados através das heroínas). Na estrutura do seu teorema (que pode ser entendido como uma espécie de Registros Akáshicos), existem diversas ramos que são estas realidades paralelas – no fim, quando Moon Kagari está prestes a desistir, Kotarou deixa umas palavras e sua assinatura, e naquelas palavras Kagari encontra na grande quantidade de memórias ali presentes a resposta para a sua equação, e essa resposta é o que dá vida ao mundo que vemos em Terra route.

Ou seja...a rota que seguimos em Terra onde devemos optar por determinada opção de escolha é este mundo novo criado por Moon Kagari, enquanto que as duas opções restantes levam aos velhos mundos anteriores em que as pessoas estão fadadas a serem extintas – em Terra route, estas duas escolhas são consideradas “bad endings”, elas levam kotarou a perder a memoria e rejuvenescer. Com isso, fica claro que o mundo criado por Moon Kagari é o único em que existe a possibilidade de salvação para os seres humanos. 
A resolução do teorema em si é magnifica, pois abrange aquilo que é essencial à essência de Rewrite e que veremos com mais ênfase em Terra; Moon Kagari é a contraparte de Earth Kagari, e fica nítido o quanto esta se sente solitária [e de certa forma guarda rancor da sua “irmã gêmea”] na imensidão de um solo lunar desértico, o que faz com que ela crie projeções das paisagens da terra ali (é por isso que a lua em Moon tem um cenário similar ao de Kazamatsuri) – quando Kotarou pela primeira vez entra em contato com ela, percebemos o quanto ela é arredia e hostil, mas ele acaba conquistando a sua confiança depois de várias tentativas, ao lhe oferecer café. Ali ela pode compreender a veracidade de seus sentimentos, e essa relação dos dois vai se aprofundando e graças a isto (uma vez que ela consegue ver através dos sentimentos verdadeiros de Kotarou por meio do que ele escreveu), a resposta é encontrada. 

Em tempo, cogita-se que Moon Kagari trouxe Kotarou à lua por ele ter uma fração dos poderes de Earth Kagari, quando esta o salvou, quando pequeno (mais sobre isso, em Terra).

Avaliação: ★★★★☆

Autor: きみしま青
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