Saudações
do Crítico Nippon!
Knights
of Sidonia, ou Sidonia no Kishi, é absolutamente impressionante. Leva-se quase
uma temporada inteira para começar a se acostumar com sua animação, cores e
fotografia. E mesmo até o final da segunda, as batalhas continuam de tirar o
fôlego graças ao CG empregado em praticamente todo anime. Adaptado do mangá de Tsutomo
Hiei pelo estúdio Polygon Pictures, é uma obra para se sentir. A trama não é
das melhores e há clichês por todo o lado, mas trata-se de uma experiência sensorial
fascinante e memorável. Tenho certeza que foi assim que todos se sentiram no lançamento do primeiro filme de Final Fantasy: The Spirits Within, ou mesmo o Advent Children.
(segue o ótimo texto da Beta Roberta AQUI)
Eu
vou começar a citar a trama e você vai tomar um gole de cachaça pra cada item
previsível (talvez você entre em coma alcoólico antes do parágrafo terminar): no
futuro, uma raça alienígena (gole de bebida) chamada Gauna destruiu a Terra
(gole de bebida) e o Sistema Solar inteiro, diga-se de passagem. Os humanos
remanescentes (gole de bebida) vivem em uma gigantesca espaçonave chamada
Sidonia, que simula dia, noite, tem até mar (gole de bebida) e se protegem com
robôs gigantes (gole de bebida). O protagonista Nagate Tanikaze pilota a
máquina mais lendária de todas (gole de bebida). Obviamente ele foi criado pelo
avô (gole de bebida) que já morreu (gole de bebida). Pelo menos umas três
meninas pilotos que brigavam com ele,
eventualmente começarão a brigar por
ele (gole de bebida). Um dos colegas pilotos é um cabeludo, alto, voz grossa,
rico (gole de bebida) que costumava ser o centro das atenções e agora tem que
competir com o protagonista (gole de bebida).
Ok,
você continua lendo o resto tomando soro no hospital agora.
Em
suma, não é a trama mais original do mundo, mas funciona graças a direção
segura de Shizumo Koubun e ao desenvolvimento daquele universo de forma gradual
e hipnotizante pela inovadora animação. E o cenário não poderia ser mais ideal
para empregá-la: futurístico no espaço. A profundidade de campo, as manobras da
câmera, as luzes se destacando na escuridão, tudo se potencializa com a técnica
em CG. A beleza deste universo é abundante, seja nas mais simples ações e
cenários, chegando a lembrar alguns efeitos de luzes do mestre Makoto Shinkai.
Percebam,
por exemplo, o desgaste e ranhuras em praticamente todos os uniformes,
conferindo uma verossimilhança preciosa à história. Ou a textura da fita de uma
medalha. Ou o desequilíbrio casual do protagonista correndo até o seu robô no
episódio 7 da primeira. A perspectiva exuberante em diversas cenas prosaicas. A
fotografia evocativa que sabe valorizar aqueles cenários e efeitos. É um
trabalho realmente cuidadoso e que merece apreciação.
Sabendo
diferenciar localidades para não ser sempre o preto e branco do espaço e dos
pilotos e suas máquinas, temos diversos cenários dentro da Sidonia que são
deslumbrantes. A cidade, aliás, chegou a me lembrar Zion, de Matrix, com aquelas
pontes saindo de seus andares. Há locais que remetem quase a Tron e suas luzes
fluorescentes. Passando pelos quase “festivais japoneses” a noite, com cores
quentes e móveis de madeira; até o laboratório que fica embaixo do mar; à loja de
brinquedos que Yuhata frequenta; à salinha do Conselho dos Imortais.
Ainda
que a trama se mantenha no “Gauna da vez”, trazendo um monstro diferente a cada
dois ou três episódios, ao menos na primeira temporada eles contornam isso
muito bem. Criando expectativas com times de elite entre os pilotos (gole de
bebida), bem como o desenvolvimento do protagonista, o quase rival Kunato, há
muito que se esperar acontecer. E felizmente fazem os Gaunas exponencialmente mais
ameaçadores, dando uma urgência valiosa a trama. Começando com o alienígena que
faz meia volta quando parecia estar indo embora, passando pelo que tem 8 mil
vezes o volume de Sidonia, ao que regenera seu corpo para proteger o núcleo, e
assim por diante.
Infelizmente,
a trama tem diversos problemas que ficam ainda piores a partir da segunda
temporada. O desenvolvimento do rival Kunato é parado abruptamente. E mesmo
quando ele é possuído por seja-lá-o-que-for, ele some por metade da temporada.
O mesmo serve para a Capitã e suas manobras contra o Conselho e sua relação com
o próprio Nagate. Ao invés de termos uma trama maior de pano de fundo às
batalhas dos robôs, temos longos episódios de cenas isoladas de namoro e
besteiras do gênero. Nagate entrando em um quarto cheio de mulher pelada;
Nagate caindo nos peitos de uma; Nagate enfiando a cara na bunda de outra;
obviamente todas sentem ciúmes umas das outras. Inclusive há pessoas com um “3º
sexo” que querem ele, e até placentas de Gaunas querem o felizardo. Aliás, é difícil
pensar em uma moça que não queira o
protagonista, o que é tão fantasioso que não há CG verossímil que salve.
A
segunda realmente é problemática. Não só pisam no
acelerador para colocar todo fanservice que não colocaram na primeira, como
ignoram as partes mais sérias. Yuhata parece não lembrar mais do irmão; os
protestos na rua são completamente irrelevantes; a preocupação com a híbrida
Tsumugi dura meio episódio e nunca mais se questiona isso; a Capitã, o Kunato.
Izana e seu '3º sexo', bem como os humanos fazendo fotossíntese, mal são
explorados. É quase jogado ao acaso. É
mencionada uma bomba no pescoço do Nagate, isso é sério? Por quê? É pra ser
engraçado? E por que só tem uma ursa falante? Ao menos em Dragon Ball tinham
vários, tornando a coisa coerente. É um descaso realmente absurdo da parte dos
realizadores (e de seu autor) ignorar tantas questões básicas.
Desta
forma, a que se destaca mesmo é a primeira. Trazendo momentos inspirados, como
o episódio em que Nagate e Hoshijiro ficam encalhados em seu robô, apenas
tentando sobreviver. É um capítulo delicado, construído com calma, diferente de
qualquer outro. Conseguindo evocar até significado no fanservice da garota nua,
com seu brilho da fotossíntese remetendo a uma imagem quase angelical, pura, de
uma raça superior. Neste mesmo episódio, reparem no preciosismo do protagonista
girando a manivela para abrir as asas de energia solar. Tem ainda a sequência de
Sidonia ligando os motores e inclinando, onde vemos inúmeras pessoas sendo
jogadas de janelas e explodindo em sangue contra paredes. Há também a cena do
avô lutando contra espadas e flechas, em uma animação excepcional. Aliás, a
segunda temporada consegue evocar algo parecido apenas uma vez: no
plano-sequência do episódio 3, em que a câmera circula Nagate, Kunato, Izana e
a híbrida, com 5 minutos de duração, se aproximando e afastando deles no espaço,
sem cortes. É lindo demais.
Inteligente
também no uso das cores, é fascinante notar Hoshijiro utilizando um kimono
vermelho (cor da paixão) no episódio em que o protagonista começa a gostar dela.
E poucos capítulos depois, ela já está envolvida em uma placenta igualmente
vermelha, embora agora a cor evoque perigo. Tons escarlates também estão lá
quando a Capitã tem seu momento-chave contra o Conselho. E o amplo aposento
dela é em tons roxos, cor geralmente associada à morte.
Infelizmente,
ainda não temos uma terceira temporada, portanto o final está incompleto (exceto no mangá). E com
aqueles diversos itens e personagens pendentes no limbo que eu citei
anteriormente. Knights of Sidonia merece um desenvolvimento melhor, que faça
jus ao quesito técnico. Embora eu seja obrigado a admitir que a animação e
cores, por si só, já torna o anime absolutamente obrigatório.
(para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.