segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Knights of Sidonia

Saudações do Crítico Nippon!


Knights of Sidonia, ou Sidonia no Kishi, é absolutamente impressionante. Leva-se quase uma temporada inteira para começar a se acostumar com sua animação, cores e fotografia. E mesmo até o final da segunda, as batalhas continuam de tirar o fôlego graças ao CG empregado em praticamente todo anime. Adaptado do mangá de Tsutomo Hiei pelo estúdio Polygon Pictures, é uma obra para se sentir. A trama não é das melhores e há clichês por todo o lado, mas trata-se de uma experiência sensorial fascinante e memorável. Tenho certeza que foi assim que todos se sentiram no lançamento do primeiro filme de Final Fantasy: The Spirits Within, ou mesmo o Advent Children.

(segue o ótimo texto da Beta Roberta AQUI)


Eu vou começar a citar a trama e você vai tomar um gole de cachaça pra cada item previsível (talvez você entre em coma alcoólico antes do parágrafo terminar): no futuro, uma raça alienígena (gole de bebida) chamada Gauna destruiu a Terra (gole de bebida) e o Sistema Solar inteiro, diga-se de passagem. Os humanos remanescentes (gole de bebida) vivem em uma gigantesca espaçonave chamada Sidonia, que simula dia, noite, tem até mar (gole de bebida) e se protegem com robôs gigantes (gole de bebida). O protagonista Nagate Tanikaze pilota a máquina mais lendária de todas (gole de bebida). Obviamente ele foi criado pelo avô (gole de bebida) que já morreu (gole de bebida). Pelo menos umas três meninas pilotos que brigavam com ele, eventualmente começarão a brigar por ele (gole de bebida). Um dos colegas pilotos é um cabeludo, alto, voz grossa, rico (gole de bebida) que costumava ser o centro das atenções e agora tem que competir com o protagonista (gole de bebida).


Ok, você continua lendo o resto tomando soro no hospital agora.
Em suma, não é a trama mais original do mundo, mas funciona graças a direção segura de Shizumo Koubun e ao desenvolvimento daquele universo de forma gradual e hipnotizante pela inovadora animação. E o cenário não poderia ser mais ideal para empregá-la: futurístico no espaço. A profundidade de campo, as manobras da câmera, as luzes se destacando na escuridão, tudo se potencializa com a técnica em CG. A beleza deste universo é abundante, seja nas mais simples ações e cenários, chegando a lembrar alguns efeitos de luzes do mestre Makoto Shinkai.


Percebam, por exemplo, o desgaste e ranhuras em praticamente todos os uniformes, conferindo uma verossimilhança preciosa à história. Ou a textura da fita de uma medalha. Ou o desequilíbrio casual do protagonista correndo até o seu robô no episódio 7 da primeira. A perspectiva exuberante em diversas cenas prosaicas. A fotografia evocativa que sabe valorizar aqueles cenários e efeitos. É um trabalho realmente cuidadoso e que merece apreciação. 

Sabendo diferenciar localidades para não ser sempre o preto e branco do espaço e dos pilotos e suas máquinas, temos diversos cenários dentro da Sidonia que são deslumbrantes. A cidade, aliás, chegou a me lembrar Zion, de Matrix, com aquelas pontes saindo de seus andares. Há locais que remetem quase a Tron e suas luzes fluorescentes. Passando pelos quase “festivais japoneses” a noite, com cores quentes e móveis de madeira; até o laboratório que fica embaixo do mar; à loja de brinquedos que Yuhata frequenta; à salinha do Conselho dos Imortais.


Ainda que a trama se mantenha no “Gauna da vez”, trazendo um monstro diferente a cada dois ou três episódios, ao menos na primeira temporada eles contornam isso muito bem. Criando expectativas com times de elite entre os pilotos (gole de bebida), bem como o desenvolvimento do protagonista, o quase rival Kunato, há muito que se esperar acontecer. E felizmente fazem os Gaunas exponencialmente mais ameaçadores, dando uma urgência valiosa a trama. Começando com o alienígena que faz meia volta quando parecia estar indo embora, passando pelo que tem 8 mil vezes o volume de Sidonia, ao que regenera seu corpo para proteger o núcleo, e assim por diante. 


Infelizmente, a trama tem diversos problemas que ficam ainda piores a partir da segunda temporada. O desenvolvimento do rival Kunato é parado abruptamente. E mesmo quando ele é possuído por seja-lá-o-que-for, ele some por metade da temporada. O mesmo serve para a Capitã e suas manobras contra o Conselho e sua relação com o próprio Nagate. Ao invés de termos uma trama maior de pano de fundo às batalhas dos robôs, temos longos episódios de cenas isoladas de namoro e besteiras do gênero. Nagate entrando em um quarto cheio de mulher pelada; Nagate caindo nos peitos de uma; Nagate enfiando a cara na bunda de outra; obviamente todas sentem ciúmes umas das outras. Inclusive há pessoas com um “3º sexo” que querem ele, e até placentas de Gaunas querem o felizardo. Aliás, é difícil pensar em uma moça que não queira o protagonista, o que é tão fantasioso que não há CG verossímil que salve.


A segunda realmente é problemática. Não só pisam no acelerador para colocar todo fanservice que não colocaram na primeira, como ignoram as partes mais sérias. Yuhata parece não lembrar mais do irmão; os protestos na rua são completamente irrelevantes; a preocupação com a híbrida Tsumugi dura meio episódio e nunca mais se questiona isso; a Capitã, o Kunato. Izana e seu '3º sexo', bem como os humanos fazendo fotossíntese, mal são explorados. É quase jogado ao acaso. É mencionada uma bomba no pescoço do Nagate, isso é sério? Por quê? É pra ser engraçado? E por que só tem uma ursa falante? Ao menos em Dragon Ball tinham vários, tornando a coisa coerente. É um descaso realmente absurdo da parte dos realizadores (e de seu autor) ignorar tantas questões básicas.


Desta forma, a que se destaca mesmo é a primeira. Trazendo momentos inspirados, como o episódio em que Nagate e Hoshijiro ficam encalhados em seu robô, apenas tentando sobreviver. É um capítulo delicado, construído com calma, diferente de qualquer outro. Conseguindo evocar até significado no fanservice da garota nua, com seu brilho da fotossíntese remetendo a uma imagem quase angelical, pura, de uma raça superior. Neste mesmo episódio, reparem no preciosismo do protagonista girando a manivela para abrir as asas de energia solar. Tem ainda a sequência de Sidonia ligando os motores e inclinando, onde vemos inúmeras pessoas sendo jogadas de janelas e explodindo em sangue contra paredes. Há também a cena do avô lutando contra espadas e flechas, em uma animação excepcional. Aliás, a segunda temporada consegue evocar algo parecido apenas uma vez: no plano-sequência do episódio 3, em que a câmera circula Nagate, Kunato, Izana e a híbrida, com 5 minutos de duração, se aproximando e afastando deles no espaço, sem cortes. É lindo demais.









 






Inteligente também no uso das cores, é fascinante notar Hoshijiro utilizando um kimono vermelho (cor da paixão) no episódio em que o protagonista começa a gostar dela. E poucos capítulos depois, ela já está envolvida em uma placenta igualmente vermelha, embora agora a cor evoque perigo. Tons escarlates também estão lá quando a Capitã tem seu momento-chave contra o Conselho. E o amplo aposento dela é em tons roxos, cor geralmente associada à morte.


Infelizmente, ainda não temos uma terceira temporada, portanto o final está incompleto (exceto no mangá). E com aqueles diversos itens e personagens pendentes no limbo que eu citei anteriormente. Knights of Sidonia merece um desenvolvimento melhor, que faça jus ao quesito técnico. Embora eu seja obrigado a admitir que a animação e cores, por si só, já torna o anime absolutamente obrigatório.


(para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman 

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