sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Seoul Station (2016)

Saudações do Crítico Nippon!


Lançado no primeiro semestre desse ano, Train to Busan conseguia trazer um ar novo aos filmes de zumbi. Com o interessante conceito de limitar o local da ação ao trem, o diretor Yeon Sang-ho (do ótimo The King of Pigs) cria um quase Snowpiercer com mortos-vivos. Isso o obrigava a explorar estratégias sempre interessantes e desenvolver uma relação mais próxima entre seus personagens. O que nos traz a este Seoul Station (o cara gosta de trens, viu), lançado logo em seguida, pré-continuação daquela história. E se sai maravilhosamente bem no processo, sem precisar de um para entender o outro.

Apesar de venderem o filme como uma origem da epidemia de Train to Busan, não é bem assim. O longa anterior começava com um veado atropelado e ganhando vida do nada. Aquilo me parecia origem suficiente, algo que veio da natureza para o homem (ou do inferno em si, por que não). Dessa vez, temos um idoso mordido (ou seja, ele não foi o primeiro, alguém mordeu ele. Mas quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, né?), que é largado sem ajuda com outros mendigos nos arredores da estação título. Percebam que claramente a origem de Train to Busan é muito mais origem do que a dessa suposta pré-continuação. Enfim, provavelmente o marketing não assistiu aos filmes.

Acompanhamos a protagonista Hye-sun que, após brigar com o namorado Ki Woong em função de umas fotos suas que ele publicou, sai caminhando pela cidade pra esfriar a cabeça. Por sua vez, Ki Woong é confrontado pelo pai dela em função do ocorrido, e ambos vão atrás da moça. E é nessa simples premissa que estoura o pandemônio, separando nossos heróis em dois grupos que precisam se encontrar.

O diretor volta ao retrato cru e frio da Coréia do Sul que mantinha em seu The King of PIgs, com personagens constantemente explosivos, irritados e violentos. Uma liberdade que a animação proporciona, diferente de atores de carne e osso que precisam ser mais heróicos, agradáveis e comerciais. Ironicamente, o filme consegue a proeza de fazer nos importarmos com várias das vítimas. Se o homem que encontra o mendigo-marco-zero é extremamente nervoso em sua primeira aparição, aos poucos seu personagem fica suavizado ao testemunharmos os constantes esforços em ajudá-lo. Entre outros poucos que ganharão nossa rápida simpatia só para encontrarem um fim rápido com as criaturas sedentas de fome.


A animação, aliás, cai como uma luva nesta história. Explorando com eficiência as cores sombrias e quase sobrenaturais da madrugada, é desconfortável só de acompanharmos os personagens ao ar livre (uma ironia visto que o outro filme a agonia é justamente o espaço limitado do trem). E o design dos zumbis é de tirar o fôlego, desde as veias, aos olhos demoníacos, membros retorcidos, e sombras espectrais marcantes.

O diretor Yeon Sang-ho se mostra habilidoso ao criar paralelos narrativos entre os núcleos: ora fazendo a protagonista Hye-sun presa em uma cela, enquanto o namorado e o pai ficam presos em um banheiro; ela consegue ajuda de um homem e formam uma dupla, assim como ambos no outro núcleo; eles eventualmente conseguem um carro, ela uma ambulância; eles ficam no topo de prédios, ela no subterrâneo.




Conseguindo criar momentos tocantes, como Hye-sun e seu parceiro não conseguindo segurar o choro devido aos parentes mortos, algo que não costuma ganhar muito espaço nessas obras. E outros de mais puro suspense e brutalidade, como a incrível sequência dos zumbis se jogando sobre a protagonista que tenta se equilibrar numa construção. Ou os esforços dela para sobreviver às hordas de zumbis que chegaram às barricadas, sofrendo inúmeras quedas e pancadas violentas. Revelando-se uma protagonista extremamente forte, o que é um acerto mais do que bem-vindo.









 Mantendo com eficiência a analogia de quem é mais monstro, os mortos-vivos ou os humanos, o final é brilhante ao amarrar todas as pontas. E é incrível que as maiores reviravoltas e choques sejam justamente em função dos humanos, não dos inimigos descerebrados. Yeon Sang-ho conquistou inequivocamente seu lugar ao Sol esse ano, e eu não me importaria nada se ele quisesse concluir essas histórias como uma trilogia. Só mais um, vai.

(Para mais dos meus textos é só ir no menu `Crítico Nippon`)
Twitter: @PedroSEkman

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