Saudações
do Crítico Nippon!
Ao
lado de Re: Zero, Yuri on Ice foi um dos gigantes do ano passado em termos de
público (embora houvesse outros infinitamente melhores em qualidade, como Joker
Game, Durarara Ketsu, Koutetsujou no Kabaneri). Porém, se no meu texto de Re:
Zero comecei salientando que era fácil entender o seu sucesso, Yuri on Ice é
absolutamente incompreensível.
Yuri
Katsuki é o representante japonês em patinação de gelo no Grand Prix. O anime
inicia com ele em último lugar em todas as etapas. Um ano depois, fora de forma
e incerto sobre voltar ao esporte, uma amiga lhe filma escondido patinando
sozinho imitando os movimentos de Victor Nikiforov, o representante russo e
campeão mundial. O vídeo vaza na internet chegando até Victor, que decide ser o
técnico de Katsuki no Grand Prix deste ano.
O
anime começa de forma promissora, desenvolvendo a relação de diversos personagens.
Incluindo a família da Katsuki, a sua relação com a professora Minako, bem como
a rivalidade com o antigo colega de Victor, Yuri Plisetski (sim, eles tem o
mesmo nome). Assim, inicialmente, as sequências de patinação no gelo são
incluídas como a cereja do bolo. Hipnotizantes em função da bela animação, os
personagens inseguros, brincalhões ou revoltados fora da pista, se soltam e se
transformam sob os patins. É fácil compreender a fascinação e admiração de
todos por aquela Arte.
Portanto,
é uma pena que Yuri on Ice se perca totalmente após três episódios
(interessante notar que também foram 3 os melhores de Re: Zero e Chihayafuru).
A animação jamais volta a qualidade do primeiro capítulo, em momento algum. Com
plateias que parecem bonecos sem vida, constantes expressões de brincadeira
bobinha no semblante dos personagens, e cabelos que lembram os traços da Turma
da Mônica (não a jovem).
Cometendo todas as gafes do já mencionado
Chihayafuru, a partir do quinto episódio (ao último) a patinação ocorre
ininterrupta. Sem trégua, sem dó, sem piedade. E como citado em meu texto do
karuta “Como
tudo que é usado em abundância e sem maiores explicações, torna-se apenas
repetitivo e batido”.
Os episódios já iniciam com os malditos personagens subindo na pista. Após 3
episódios seguidos sem um mísero respiro e desenvolvimento de personagem, eu já
estava implorando pra nunca mais ver uma cena de patinação. E ainda era só o
oitavo episódio, haveriam ainda mais 4 sem descanso, quando a ação já estava
além de insuportável.
Trata-se
de um anime basicamente sem conflitos. O romance de Katsuki e Victor é
resolvido nos três primeiros, eles se amam, querem ficar juntos e pronto. Eles
terão uma única briga no penúltimo episódio, sem motivo nenhum, apenas porque
os roteiristas perceberam que, de fato, a história não tem conflito nenhum. E
eu totalmente defendo vermos os esforços dos adversários para compreender o
nível de desafio que o protagonista precisa enfrentar. Muitas obras não mostram
ou mostram pouco. Porém, Yuri on Ice exagera de uma maneira imperdoável, em que
é impossível distinguir técnicas tão suteis de patinação entre aproximadamente
10 antagonistas.
Todos,
obviamente, unidimensionais e sem muito tempo em tela (justamente pela
quantidade de secundários e pelo tempo que passam patinando). Tem os irmãos
italianos, o J.J. (provavelmente só decoramos o nome por serem duas letras
repetidas), tem um com o cabelo castanho e amarelo misturados, apareceu uma
loira em um dos últimos, e assim por diante. Esse é o máximo que podemos
definir deles.
O
único que ganha um desenvolvimento interessante é Yuri Plisetski. Dono de uma
personalidade forte, ele se vê perdendo Victor Nikiforov para o “fracassado”
Katsuki. O que não o impede de demonstrar facetas mais doces, como o carinho
imenso pelo seu avô (e a cena em que pula nos braços dele no aeroporto é a
melhor do anime); compra presentes de aniversário para Katsuki; fica hospedado
na casa do rival de forma relativamente comportada; nutre um misto de admiração
e ressentimento pelo sensei Victor. Em suma, é um garoto realmente complexo e
fascinante. Aliás, a primeira competição entre os dois Yuris é justamente
Plisetski quem demonstra o maior desenvolvimento de personagem. E quando anunciam
Katsuki como vencedor, é de um absurdo imenso.
Aliás,
a rivalidade entre os dois provavelmente só se mantém até o final porque
possuem o mesmo nome, senão seria facilmente esquecível. Não há relação alguma
entre ambos, e mesmo nos raríssimos momentos em que se encontram num mesmo
ambiente (fora da patinação), suas conversas tem duas ou três palavras (no
elevador, por exemplo). É um triste desperdício.
Conseguindo
a proeza de fazer um episódio de recapitulação em meio a míseros 12 capítulos,
o anime não consegue sequer explorar aspectos mais detalhistas do esporte. Eu
comecei a série sem saber nada sobre patinação e terminei da mesma forma. Entre
outras tentativas bobas de conflito, como Victor tendo que viajar e deixar Katsuki com outro técnico. Não gerou absolutamente nada de nada.
O
protagonista não possui qualquer arco dramático. Até mesmo estar fora de forma
nos primeiros, é resolvido em literalmente um episódio (no segundo, antes de
competir com o Plisetski pela primeira vez, quando mostrou seu esforço
treinando), depois isso nunca mais se torna um problema. E pra alguém que há um
ano vivia em último lugar, começar a ganhar tudo de uma hora pra outra, não
poderia ser mais forçado. Não há qualquer sensação de crescimento. Ele
simplesmente vira o tal ao se juntar com Victor. Por osmose, eu acho.
Victor
Nikiforov é outro que poderia ter tido um desenvolvimento bem mais
interessante. Revelando-se o mais infantil do anime, ele é basicamente um
festival de gracinhas e caras e bocas. Há um leve resquício de autoridade
pairando sobre ele, mas provavelmente mais porque os outros personagens o
louvam demais, e não por méritos próprios. Ele não traz qualquer lição
memorável ou dica que se possa destacar como veterano. Bom, mas ele vive pelado
e pedindo pra dormir com o Katsuki, então provavelmente isso o torne legal.
Contando
com uma ou outra sequência de patinação memorável (aquelas do amor Ágape e
Eros, evidenciando a transformação dos Yuris, é realmente formidável), a
sensação após o término de Yuri on Ice é de nunca mais
querer ver bonecos sem vida patinando por 20 minutos todo santo episódio.
Repleto de entrevistas com repórteres, comentaristas esportivos, muita gente
parada assistindo TV, é um anime pobre e esquecível. E outra frase retirado do
meu texto de Chihayafuru: “a força
do anime consiste em seus personagens e nas relações entre eles, não nas
disputas de um jogo tão monótono”. O que eu não sabia na época, é que não
necessariamente o jogo precisa ser monótono para dar no sono e torcer para
acabar logo.
(Para mais dos meus textos, só ir no menu "Crítico Nippon")
Twitter: @PedroSEkman
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