sábado, 11 de fevereiro de 2017

Guest Post: Kuzu no Honkai - Episódio 05

O processo de criação de qualquer produto pode enveredar por caminhos distintos; satisfatório ou deprimente, de acordo com o apego e vontade do autor(a) e até de sua capacidade de desenrolar sua trama de acordo com o que esperava quando a idealizou - me atendo à tramas originais.
A impressão que tenho ao ver Kuzu, certificada a fidelidade da adaptação para com o material original, é de como Mengo Yokoyari se divertiu imensamente no período em que depositou seus esforços no projeto. Direcionado para um público jovem, Kuzu é um paraíso aos tarados, mas sua trama vai além;  é densa e intrigante, sabiamente descamada com meticulosa paciência, mantendo o interesse em sua continuação sem se sabotar por verborragia.

Já são cinco episódios, e apesar dos variados temas e da crescente construção em suas figuras principais, o anime mantém seu futuro imprevisível e magnético. São várias camadas compondo o todo, um conjunto tridimensional e de realidade palatável. 

Se Hanabi foi o centro das atenções semana passada, agora é seu parceiro de amizade colorida - ainda sem chegar na parte principal - que recebe uma viagem ao passado, onde fica claro que, sim, ele já sabe da natureza lasciva da professora, o que não o impede de desejá-la com a intensidade com que um náufrago espera o resgate. 

E nisso entra outro debate que permeia os capítulos; a impiedosa carência humana. Não se restringindo à questões psicológicas, e sim na banalidade carnal. A fragilidade da solidão. Hanabi não suporta estar sozinha, enquanto Akane é inescrupulosa e cruel em sua jornada hedonista e egoísta. 
A diferença é que enquanto a garota, invariavelmente jovem, se condena por seus pensamentos e atitudes, vergonha que não é capaz de impedi-la, sua sensei não demonstra mais amarras aos protocolos sociais. Mugi ainda é um mistério; talvez encontre-se num meio caminho nisso, como sugere a cena onde condena seus pensamentos “masculinos” perante sua virgem parceira de cama.

Tratamos, obviamente, de um Seinen. Os temas podem ser universais, mas a abordagem é adulta e até cínica, porém de inegável reciprocidade de qualquer um que já passou das preliminares. Nós só reconhecemos a falta de algo quando a experimentamos. Talvez aí a resistência da protagonista em ir além, visto que já está em tamanha transformação em uma refém de seus hormônios e neurônios mesmo nos estágios iniciais da puberdade.

O único revés dessas amostras meticulosas ainda é um “se” e não um “já”; a escolha narrativa pode vir a derrapar sem qualquer prenúncio. Até aqui, entretanto, sejamos justos em admitir que se trata de um espécime animado de alta qualidade.

Carlos escreve sobre idols em seu blog Delirios da Madrugada.