segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Guest Post: Kuzu no Honkai - Episódio 07

Este episódio de Kuzu inicia quase como uma paródia, com pequenas camadas de algo mais profundo que é sugerido durante sua duração, mas apenas confirmadas nos minutos finais.
Isto porque Noriko, a jovem explorada da semana, nada mais parece do que um simulacro de gente; uma típica personagem zombeteira de Woody Allen, superficialmente complexa. Algo que, como supracitado, se mostra um equívoco, pois ela se revela justamente o inverso do que o diretor americano costuma criticar: uma frivolidade aparente que esconde o oceano interno. 


A estética é o mais próximo que temos de uma Loli: os vestidos cândidos e fofos, o enrubescer fácil, sempre meticulosamente acompanhado por um tímido desviar do olhar e, principalmente, uma seiyuu típicamente estereotipada no fetiche de timbre infantil correlacionado à personalidade exposta nos figurinos e expressões da personagem. 

Uma representação retrógrada de alguém que parece habitar universos de Nicholas Sparks, mas curiosamente um estilo com seguidores otakus bem fiéis por aí. Porém, completamente dissonante do restante do universo de Kuzu, e até por isso, o tom satírico é gritante. 

Entretanto, é no então insignificante mini-arco de Hanabi no capítulo que traça-se o paralelo que explica a real persona de Noriko; a princesa da ilusões, legitimamente digna de sua natureza faz-de-contas. A morena ainda reluta em assumir sua condição “pútrida”, ávida por ser desejada, valorizada, hesitação reforçada quando convida Mugi a declararem-se a seus amados, para então finalmente libertarem-se do fardo da incerteza. A garota de chuquinhas, entretanto, não deixa também de ser uma vítima de seus anseios. Se o maior deles é direcionado a um romance utópico e fruto de alguém provavelmente educada através de filmes de Princesas da Disney, serve apenas de retrato da intempestividade dos prazeres individuais, passíveis de julgamento na mínima discordância alheia. Tenha certeza que pessoas próximas a ti também desaprovam algo seu - ou iriam, se bem lhe conhecessem. 

Em nosso papel de espectador, somos a divindade onipresente da obra, inferiores apenas ao autor e seu editor, uma relação Maiar-Valar, como bem escrito por Tolkien.

E o caminho que Yokoyari Mengo ainda não nos revelou parece levar para uma revolta pessoal de suas criações, simbolicamente inaurada com um afastar de mãos em meio ao cinema da vida entre Mugi e Noriko. Mas será que ela conseguirá?

Carlos escreve sobre idols em seu blog Delirios da Madrugada.