terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

91 Days (2016)

Saudações do Crítico Nippon! 

2016 foi um puta ano foda pros animes, caramba. Escrevi sobre alguns deles (aqui, aqui, aqui, aqui, aqui) (ah, Gantz:O só consegui assistir esse ano e é fenomenal) e citei outros aqui (até os mais ou menos dividiram opiniões, como esse e esse). E 91 Days faz jus aos colegas. E como não poderia, contando com a mesma equipe de uma das séries mais ambiciosas que conheço, Durarara? Lembrando a mesma ambição temática que movimenta os grupos dos Dollars e Lenços Amarelos, 91 Days homenageia inúmeras obras da Máfia em cada detalhe. Temos ascensão e queda de Dons (com muitos beijos na mão, claro), contrabando, execuções dentro de carros, personagens que mudam de lado constantemente (sempre de maneira coerente e plausível), festas de casamento, e, bem, preciso dizer o que acontece quando todos estão reunidos em uma ópera?
(hum, spoilers)

A história começa com o pequeno Angelo testemunhando o assassinato de sua família por uma das Famílias (letra maiúscula) da Máfia. Ambientado nos anos 1920, quando a Lei Seca estava em vigor proibindo a comercialização de bebidas alcoólicas, Angelo muda o seu nome para Avilio Bruno e, ao lado do amigo/irmão Corteo, passam os 7 anos seguintes aprimorando bebidas caseiras e contrabandeando para os mafiosos.   Com o objetivo, claro, de se aproximar e conseguir vingança contra aqueles que assassinaram seus parentes.

A premissa não tem nada de original (a criança escondida vendo os pais mortos; a busca por vingança), mas mesmo já tendo visto isso tantas vezes, a maneira com que é conduzido foi impecável. Calma, paciente, colocando as peças no jogo de maneira cuidadosa. E ainda que tenha um número relativamente grande de personagens para lidar, com membros das Famílias Vanetti, Orco e Galassia, em momento algum me vi perdido. Uma vez estabelecido todas as peças, é só com elas que 91 Days trabalha, sem adicionar personagens tardios na trama.





Ambientado na cidade Lawless (nhé, eu sei), o anime cria uma ambientação de época perfeita, mantendo os personagens em cômodos fechados, à noite, repletos de fumaças de cigarro, sombras e conspiração. Lembrando imensamente a atmosfera do fabuloso Joker Game, embora com a vantagem de não ser episódico como aquele, mantendo uma história com início, meio e fim. Aliás, 91 Days ainda extrai uma energia excepcional em uma trama que tinha tudo para ser monótona.


Prestando uma atenção fascinante aos detalhes, percebam como em um tiroteio frenético, Avilio destrava uma janela e então se atira por ela, sem quebrá-la como se fosse de confete (como acontece em 99% de qualquer obra). Ou como ele borrifa bebida em suas mangas para cheirar como se estivesse bêbado e enganar seus inimigos. Ou o cuidado de enrolar o cano da arma em um pano na hora de uma execução (mais uma referência às obras do gênero).

Beneficiado por um roteiro corajoso do início ao fim, que não vê problemas em matar personagens carismáticos logo de cara (Vanno Clemente), ou mesmo execuções extremamente cruéis de personagens mais puros (Corteo), tornando a narrativa sempre tensa, onde tudo pode acontecer. O protagonista Avilio Bruno, aliás, tem seu desenvolvimento feito de forma impecável. Enigmático, frio e corajoso, testemunhamos sua ascensão na família Vanetti indo de um mero fornecedor de bebidas à braço direito do futuro Don Nero. Sem soar nem um pouco forçado, Avilio conquista a confiança da Máfia (e do público) através de suas manipulações e ações cada vez mais arriscadas. Seu jogo de mentiras é formidável, transitando de uma Família para outra com segurança.

Percebam, por exemplo, a maneira sutil com que coloca o amigo Corteo no noivado de Ronaldo para fechar o negócio que precisavam (que culminaria na Lawless Heaven). Ou como serviu de isca na troca de reféns com Fango, arriscando a própria vida apenas para fortalecer um pouco mais a relação com os Vanettis. E o que dizer daquela fabulosa negociação com Fango para curar Tigre e solicitar refugio na Ilha, deixando pontas soltas pendentes para que Nero complementasse o seu plano? Culminando na sugestão que sussurra para Fio ao subir no trem, para que diga que Frate quem assassinou Ronaldo, e que Nero meramente se vingou para provar sua lealdade aos Galassias. Percebam a quantidade de peças que ele usa em seus discursos, justificando basicamente todas as baixas da história de maneira redonda e mais do que plausível.

Simultaneamente ao protagonista, conhecemos diversos personagens que soam muito mais do que estereótipos de “vilões” e ganham objetivos claros e ações que fazem sentido dentro daquele universo. Desde o casamento de Ronaldo e Fio para gerar um herdeiro que seja meio Galassia e meio Vanetti, restaurando o equilíbrio entre as Famílias; passando pelo quase estereótipo Fango, da Família Orco, uma espécie de Mello (Death Note) com cavanhaque, o típico personagem que morreria cedo, mas surpreendentemente dura até a reta final; à nobreza (ou “nobreza”) de Vanno Clemente; e Frate, caçula dos Vanetti, uma espécie de Fredo Corleone (“Eu não quero ser amado, quero ser reconhecido!”) que acaba comprando briga com os próprios irmãos. E, claro, Nero Vanetti, o último que resta da vingança de Avilio, e que passa a maior parte do tempo com o protagonista, ganhando o desenvolvimento tão longo quanto. Pecando apenas na representação de Don Orco, que parece executar chefs apenas por não gostar de suas lasanhas (forçado pra caralho). 




 



Embalado por uma trilha sonora absolutamente formidável, 91 Days conta com momentos memoráveis, como a ascensão de Don Nero, as decisões rápidas e dificílimas de Avilio e a matança final na ópera, exigindo uma confiança no espectador para lembrar quem está do lado de quem digna de aplausos. Com alguns pecadilhos como o último capítulo aparentemente perdido e o único com o ritmo comprometido, bem como alguns flashbacks dentro de flashbacks que soam amadores. Porém, não compromete o todo, que ficará como um dos melhores de 2016 e obrigatório para quem curte um roteiro de primeira.

(Para mais dos meus textos, é só ir no menu Crítico Nippon)
Twitter: @PedroSEkman

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.