terça-feira, 25 de abril de 2017

Uchouten Kazoku

Saudações do Crítico Nippon!


Povoado em um universo mágico que mescla o nosso mundo com o do folclore japonês, este anime é uma delícia de assistir. Contando com parte da equipe do excelente Sayonara Zetsubou Sensei, Uchouten Kazoku acompanha a excêntrica família Shimogamo, seus conflitos, seu passado, seu presente, e um companheirismo imenso entre todos. É uma história genuinamente sobre família, com personagens surpreendentemente carismáticos.



A trama se passa na antiga capital Kyoto, com encontros e desencontros entre personagens dignos de Durarara. Bem como a trilha sonora agradável, o design dos personagens e carros que são atirados por todos os lados e parecem incomodar seus habitantes por meio segundo. E comparar algo a Durarara é o maior elogio que eu posso fazer a um anime. A família título é formada por seres conhecidos como tanuki (da terra) (aliás, estes seres não são o mesmo que o ponchi e o conchi de Shaman King?). Que convivem com outros seres mágicos chamados tengu (do céu). E os humanos, claro.

No decorrer da trama, teremos os eventos maiores, como a eleição do próximo Nise-emon, líder dos tanukis; bem como a reunião do Clube da Sexta-feira, em que os humanos preparam um cozido com tanukis. Porém, a história se torna interessante muito antes disso. Acompanhando o protagonista Yasaburou, com um gosto peculiar por se transformar no sexo oposto (sexy no jutsu, alguém?), inclusive para tentar agradar seu mestre (alguém???). Ele transita pela cidade enquanto conhecemos sua dinâmica com seus irmãos.


Podendo se transformar no que eles quiserem, os irmãos formam um quarteto fascinante. Inclusive, um deles se exilou em um poço na forma de um sapo. O anime demonstra o cuidado ideal de uns pelos outros, repleto de conflitos e opiniões adversas. Porém, é inegável o quanto todos se amam, como alguns momentos chaves no episódio 8. E só o fato de torcermos pela união de todos no clímax do anime, é a maior prova do quanto fomos fisgados pelo drama de cada um.

De qualquer forma, não só os irmãos se destacam. O mestre Yakushibou é estourado e até infantil, mas em diversas passagens demonstra zelo e carinho pelos garotos. A própria mãe da família título ganha contornos tridimensionais ao manter aqueles irmãos unidos e compreender as inseguranças particulares de cada um. A única que deixa a desejar é a humana-tengu Benten. Transitando entre aliada e inimiga, seus objetivos nunca ficam claros e ela termina quase de escanteio.

A produção do anime é sensacional. Com ambientes extremamente ricos em detalhes, e multidões que estão sempre em movimento ao fundo. Os cenários ganham tons marcantes dependendo da iluminação, com bares calorosos, ou então salas frias e claustrofóbicas, tudo é sentido facilmente ao entrarmos em um novo ambiente.


Assim como o uso das cores é significativo em vários momentos. Por exemplo, Benten possui o cabelo roxo (meio rosa), que representa a morte. Constantemente mencionando que irá devorar o protagonista, assim como vários personagens fugindo dela. E o momento em que vemos o flashback do pai deles pouco antes de ser devorado, se encontra totalmente cercado por paredes todas roxas. E quando o sensei da Benten está narrando sua paixão por ela, o tempo todo ele aparece mergulhado em folhas avermelhadas. É tão evidente, que no momento em que ele termina seu monólogo e muda de assunto, eles chegam a mudar de cenário, abandonando a cor do amor. 


Repleto de situações inusitadas que beiram o nonsense, temos uma câmara interna flutuante alimentada por uma chaleira que precisa de cerveja para funcionar; uma guerra de fogos de artifício surreal; leques que causam furacões com um simples abanar; conflitos de estátuas gigantes com animais gigantes; sapo comendo frango e falando ao celular. Em suma, é um prato cheio de absurdos deliciosamente divertidos, com algumas gags pontuais que são a cereja do bolo (o irmão mais novo, Yashirou, pegando um aviãozinho de papel em meio a um conflito entre o mestre e um touro dentro de casa é hilário).


A obra tem apenas um problema com relação à gravidade dos acontecimentos. Em determinado momento, ser devorado é uma questão de vida ou morte. Em outro, parece um mero contratempo. E o protagonista, ao conseguir se livrar de sua jaula, ameaça apenas morder a bunda dos algozes que quase o cozinharam vivo. Enfim, é difícil decidir se há tensão ou não. De qualquer forma, Uchouten Kazoku cria personagens suficientemente divertidos, e genuinamente nos importamos com a família Shimogamo. O suficiente para garantir que vou mergulhar de cabeça na segunda temporada que já está sendo lançada.



(Para mais dos meus textos, menu "Crítico Nippon" lá em cima) 
Twitter: @PedroSEkman

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