Saudações
do Crítico Nippon!
Após
o estrondoso sucesso de Yuri on Ice, era praticamente inevitável que outros
esportes do gênero ganhassem sua versão anime. E Ballroom e Youkoso foi uma
surpresa que começou desagradável e, bem, se revelou uma surpresa. Com
praticamente todos os defeitos de seu antecessor da patinação nos primeiros 10
episódios, o anime encontra o seu ritmo e foco dali em diante e se torna mágico
como almejava.
Fujita
Tatara começa como um daqueles protagonistas de camiseta branca e cabelo zigue
zague com aquela personalidade normalzinha que a gente já espera. Um dia ele é
salvo de uma sessão de bullying pelo professor de dança Sengoku, que o
apresenta à sua Arte. E, bem, o resto vocês já sabem. Ele se apaixona pela
dança e no segundo episódio já é melhor que todo mundo que treinou aquilo a
vida inteira.
Os
primeiros 10 episódios não conseguem sequer seguir a regra dos 3 primeiros
serem os melhores (vide o já citado Yuri on Ice, Chihayafuru, Re:Zero),
Ballroom parecia pura estética sobre conteúdo. O design de seus personagens e
cenários é rico em detalhes e cores, sem perder a qualidade durante a série. Percebam
enfeites no cabelo, os cílios carregados e bem desenhados, a quantidade de
objetos em cena, as bolhas nos pés. As roupas, mesmo fora da dança, são extremamente
detalhadas e bem desenhadas. Até o uso dos flares se torna interessante para
engrandecer algo belo como a dança.
Kiyoharu
Hyodo é apresentado apenas como o Sasuke da história, e Gaju é o clássico
explosivo que não sabe pronunciar uma frase que não seja aos berros, o Kacchan
de Boku no Hero Academia. Contribuindo para apagar as moças, os três competem
não só pela dança, mas para terem como prêmio a Shizuku (não falei que era o
equivalente a uma boneca inflável?), que não tem qualquer opinião sobre nada. Inclusive,
há um episódio que termina com um lindo quadro dela de frente para um espelho
e... nada acontece. Era só um plano bonito por acaso mesmo, ela não faz nada no
episódio seguinte. Ou no seguinte. Ou seguinte.
E
o que assustou muito nesse início era o anime pecando no que deveria ao menos
ser sua maior força: não havia qualquer coreografia de dança. Apenas quadros
congelados (teoricamente, impactantes) que buscavam salientar as expressões de
esforço, regozijo, concentração, dos dançarinos. Porém, não demora muito para
isso se tornar uma sucessão de anticlímax, afinal, jamais esperávamos ansiosos
por dança nenhuma. Isso porque não faziam qualquer animação que durasse mais
que dois passinhos.
Sem
conseguir criar qualquer relação entre os personagens, o anime parecia
condenado. E esperem só até ver o “atentado-novela-das-8” envolvendo uma
escadaria, buscando fazer um dramalhão tão falso que quase parei ali. Da
vontade de rir e bater a cabeça no teclado ao mesmo tempo.
Porém,
felizmente passamos do episódio 10 e Ballroom e Youkoso se renova
completamente. Finalmente parando de dançar e focando nos personagens, treinos
e desenvolvimento. A começar pelos que já conhecemos, Hyodo mantém a
personalidade calma e calculista, mas agora conversa mais e mostra-se
interessado em ajudar Tatara. Gaju provavelmente sofreu um exorcismo, pois ele
nunca mais levanta a voz pelo resto do anime inteiro. E Shizuku se torna muito
mais agradável e compreensiva, com toda aquela trama de “quem vai ficar com a
boneca inflável” jogada no lixo, graças a deus. Finalmente se torna agradável
acompanharmos todos juntos e vermos a interação de personalidades tão
diferentes, mas enriquecedoras entre si.
No
entanto, é mesmo a adição da ruiva Chinatsu que transforma a história. Revelando-se
uma personagem extremamente complexa, capaz de demonstrar doçura e rigidez ao
mesmo tempo, ela se torna a alma do anime dali pra frente. Ajudando o
protagonista a deixar de lado sua personalidade apagada, Tatara e Chinatsu se
complementam de maneira magnífica. As discussões entre ambos soam reais, não
apenas recurso clichê de anime para criar conflitos. Chinatsu visivelmente se
importa com a opinião de seu par, mesmo que não consiga deixar de reclamar
quando ele comete erros. Tatara, por sua vez, se torna cada vez mais forte ao
enfrentar esta poderosa personagem. Sua intimidade cresce aos poucos e de
maneira fascinante, como por exemplo, ao vermos os dois cochichando encabulados
em uma casa cheia de dançarinos mais talentosos. É uma das relações mais
orgânicas e bem desenvolvidas que eu já tive o prazer de acompanhar em um
anime.
Com
danças finalmente coreografadas em que os personagens se movimentam, elas não
duram mais o episódio inteiro até a exaustão. E se em Yuri on Ice não
aprendíamos absolutamente nada sobre patinação, aqui temos diversas informações
até chegar ao final. Há a explicação do tráfego na pista de dança, bem como
proteger seu espaço de outros casais. E cuidados com a sincronização dos
parceiros, como fechar e bater os pés ao mesmo tempo em que o outro, mostra
como é crucial a sincronia da dupla.
Com
coadjuvantes que ganham flashbacks surpreendentemente envolventes, como a
instável Akira; bem como Masami cujo crescimento é tocante; e
Marisa que se mostra uma mestra inteligente e admirável. Em suma, ao menos dois
terços de Ballroom e Youkoso são absolutamente fascinantes e tiram qualquer
gosto ruim que havia do início. Mantendo um nível de produção impecável que faz
jus aos adoráveis personagens e sua Arte. Vou aguardar ansioso pela segunda
temporada.
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