domingo, 17 de dezembro de 2017

Ballroom e Youkoso (2017)

Saudações do Crítico Nippon!


Após o estrondoso sucesso de Yuri on Ice, era praticamente inevitável que outros esportes do gênero ganhassem sua versão anime. E Ballroom e Youkoso foi uma surpresa que começou desagradável e, bem, se revelou uma surpresa. Com praticamente todos os defeitos de seu antecessor da patinação nos primeiros 10 episódios, o anime encontra o seu ritmo e foco dali em diante e se torna mágico como almejava. 


Fujita Tatara começa como um daqueles protagonistas de camiseta branca e cabelo zigue zague com aquela personalidade normalzinha que a gente já espera. Um dia ele é salvo de uma sessão de bullying pelo professor de dança Sengoku, que o apresenta à sua Arte. E, bem, o resto vocês já sabem. Ele se apaixona pela dança e no segundo episódio já é melhor que todo mundo que treinou aquilo a vida inteira.


Os primeiros 10 episódios não conseguem sequer seguir a regra dos 3 primeiros serem os melhores (vide o já citado Yuri on Ice, Chihayafuru, Re:Zero), Ballroom parecia pura estética sobre conteúdo. O design de seus personagens e cenários é rico em detalhes e cores, sem perder a qualidade durante a série. Percebam enfeites no cabelo, os cílios carregados e bem desenhados, a quantidade de objetos em cena, as bolhas nos pés. As roupas, mesmo fora da dança, são extremamente detalhadas e bem desenhadas. Até o uso dos flares se torna interessante para engrandecer algo belo como a dança. 

Colocando o interesse romântico, Shizuku, tão cheia de personalidade quanto uma boneca inflável, é realmente triste constar tamanho desperdício nesse primeiro ato do anime. É como se os seus parceiros estivessem segurando um cadáver. Mako se sai minimamente melhor, embora seus dramas jamais toquem o espectador. Aliás, a trama inicial é tão ruim que demorei pra notar que a autora estava fazendo o clássico trio-de-rivais com o protagonista, Kiyoharu Hyodo e Gaju. Hyodo simplesmente some em determinado momento, e cai de para quedas Gaju. Só mais tarde os três surgem em cena e eu nem acreditei que realmente estavam tentando fazer algo tão óbvio. Sem sucesso nenhum na empreitada. Qualquer outro anime sabe que precisa apresentar os três o quanto antes. 



Kiyoharu Hyodo é apresentado apenas como o Sasuke da história, e Gaju é o clássico explosivo que não sabe pronunciar uma frase que não seja aos berros, o Kacchan de Boku no Hero Academia. Contribuindo para apagar as moças, os três competem não só pela dança, mas para terem como prêmio a Shizuku (não falei que era o equivalente a uma boneca inflável?), que não tem qualquer opinião sobre nada. Inclusive, há um episódio que termina com um lindo quadro dela de frente para um espelho e... nada acontece. Era só um plano bonito por acaso mesmo, ela não faz nada no episódio seguinte. Ou no seguinte. Ou seguinte.


E o que assustou muito nesse início era o anime pecando no que deveria ao menos ser sua maior força: não havia qualquer coreografia de dança. Apenas quadros congelados (teoricamente, impactantes) que buscavam salientar as expressões de esforço, regozijo, concentração, dos dançarinos. Porém, não demora muito para isso se tornar uma sucessão de anticlímax, afinal, jamais esperávamos ansiosos por dança nenhuma. Isso porque não faziam qualquer animação que durasse mais que dois passinhos.

Sem conseguir criar qualquer relação entre os personagens, o anime parecia condenado. E esperem só até ver o “atentado-novela-das-8” envolvendo uma escadaria, buscando fazer um dramalhão tão falso que quase parei ali. Da vontade de rir e bater a cabeça no teclado ao mesmo tempo.


Porém, felizmente passamos do episódio 10 e Ballroom e Youkoso se renova completamente. Finalmente parando de dançar e focando nos personagens, treinos e desenvolvimento. A começar pelos que já conhecemos, Hyodo mantém a personalidade calma e calculista, mas agora conversa mais e mostra-se interessado em ajudar Tatara. Gaju provavelmente sofreu um exorcismo, pois ele nunca mais levanta a voz pelo resto do anime inteiro. E Shizuku se torna muito mais agradável e compreensiva, com toda aquela trama de “quem vai ficar com a boneca inflável” jogada no lixo, graças a deus. Finalmente se torna agradável acompanharmos todos juntos e vermos a interação de personalidades tão diferentes, mas enriquecedoras entre si.


No entanto, é mesmo a adição da ruiva Chinatsu que transforma a história. Revelando-se uma personagem extremamente complexa, capaz de demonstrar doçura e rigidez ao mesmo tempo, ela se torna a alma do anime dali pra frente. Ajudando o protagonista a deixar de lado sua personalidade apagada, Tatara e Chinatsu se complementam de maneira magnífica. As discussões entre ambos soam reais, não apenas recurso clichê de anime para criar conflitos. Chinatsu visivelmente se importa com a opinião de seu par, mesmo que não consiga deixar de reclamar quando ele comete erros. Tatara, por sua vez, se torna cada vez mais forte ao enfrentar esta poderosa personagem. Sua intimidade cresce aos poucos e de maneira fascinante, como por exemplo, ao vermos os dois cochichando encabulados em uma casa cheia de dançarinos mais talentosos. É uma das relações mais orgânicas e bem desenvolvidas que eu já tive o prazer de acompanhar em um anime.


Com danças finalmente coreografadas em que os personagens se movimentam, elas não duram mais o episódio inteiro até a exaustão. E se em Yuri on Ice não aprendíamos absolutamente nada sobre patinação, aqui temos diversas informações até chegar ao final. Há a explicação do tráfego na pista de dança, bem como proteger seu espaço de outros casais. E cuidados com a sincronização dos parceiros, como fechar e bater os pés ao mesmo tempo em que o outro, mostra como é crucial a sincronia da dupla.


Com coadjuvantes que ganham flashbacks surpreendentemente envolventes, como a instável Akira; bem como Masami cujo crescimento é tocante; e Marisa que se mostra uma mestra inteligente e admirável. Em suma, ao menos dois terços de Ballroom e Youkoso são absolutamente fascinantes e tiram qualquer gosto ruim que havia do início. Mantendo um nível de produção impecável que faz jus aos adoráveis personagens e sua Arte. Vou aguardar ansioso pela segunda temporada.


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