quarta-feira, 28 de março de 2012

Chihayafuru

Saudações do Crítico Nippon!

Lançado em 2011, o anime foi adaptado do mangá escrito e desenhado por Yuki Suetsugu. Desde os primeiros episódios, Chihayafuru se mostrou cativante e envolvente, tornando-se uma ótima promessa do ano passado. Inicialmente contando a história de três crianças (Chihaya, Taichi e Arata) que, em função de um jogo de karutas (cartas) acabam criando afinidades e ficam fanáticas pelas disputas. O jogo funciona basicamente como um da memória, em que as cartas espalhadas no chão contem poemas escritos. Os competidores precisam memorizar as cartas para que, quando lidas por um terceiro em voz alta, o jogador tente pegar a carta lida primeiro que o oponente. E diferente de outros animes famosos de cartas como Yugi-oh!, que contava com hologramas e monstros que mostravam a batalha destes, a maior virtude de Chihayafuru é nos fazer tensos e torcedores sem absolutamente nada disso. Infelizmente o anime termina de forma abrupta devido à baixa audiência e, consequentemente, deixa diversas coisas pendentes que comprometem a obra como um todo.


Com os primeiros episódios promissores mostrando como os protagonistas começaram a se envolver no jogo, temos um roteiro de primeira (e a personalidade da carismática Chihaya é um divertimento a parte). Logo voltamos para o tempo presente – após três episódios de flashback - com estes já adolescentes e separados. A partir daí, acompanhamos a formação do time principal, bem como seus antagonistas e os desafios para se tornarem “rainhas” e “mestres” do karuta.

Entendendo inicialmente (e apenas inicialmente. Falarei mais sobre isso em alguns parágrafos) que a força do anime consiste em seus personagens e nas relações entre eles, não nas disputas de um jogo tão monótono, o roteiro dedica-se até mesmo ao clichê de reservar um episódio para cada novo membro que entra no time de Chihaya. E funciona: passamos a nos importar genuinamente pelos motivos que levou cada um a abdicar de outras tarefas para treinar um simples jogo de carta. E principalmente, passamos a respeitá-los, e a individualidade de cada um é admirável.


 














Infelizmente isso se perde com facilidade, quase que imediatamente ao formarem o time principal. Após estabelecermos um afeto com aqueles cinco indivíduos, o anime começa a vomitar antagonistas e adversários e senseis desinteressantes (A Shinobu Rainha, a Yumin-ex-Rainha, e qualquer outro), além de times rivais inescrupulosos que não merecem a nossa atenção. Pior ainda é o fato do anime querer forçar momentos emocionantes e choradeira. Fazendo até mesmo adversários sem personalidade alguma, que aparecem por apenas um episódio, chorarem e ganharem o seu “momento de respeito” com todos o olhando comovidos e em silêncio, e a música de fundo fazendo o resto. Não funciona, perde tempo e... eu já mencionei que o adversário só aparece por um episódio? E Chihayafuru acaba repetindo essa fórmula diversas vezes...












E a maior prova de que os episódios iniciais eram os melhores, é a presença (ou falta de) de Arata no decorrer da série. Eles eram tão complexos e cativantes no início que, mais tarde, quando Arata acaba ficando separado de seus outros dois amigos na maior parte do tempo, assim mesmo sua presença é sempre forte e esperada com ansiedade pelo público. Porém, isso não funciona para sempre, e passando da metade do anime já se torna um pouco forçado a relutância que o roteiro tem de juntá-los. Chegando ao cúmulo de fazer um episódio só para Arata cuidar de Chihaya enquanto ela está desmaiada, e quando esta acorda, ele não está mais lá, por nenhuma razão. Pior ainda é começarmos a nos perguntar, com o passar do tempo, porque é tão difícil para os três pararem e conversarem. Sim, no início funciona a relutância (afinal, eles não se vêem há anos) e mais tarde compreendemos o triângulo amoroso, mas no meio do anime eles tiveram diversas oportunidades jogadas fora. E repito, por nenhuma razão. Eles não se importam em mandar mensagens e até conversarem por telefone, mas não pessoalmente? Ãn? Chega a lembrar até a dinâmica do Shippuden, com Naruto e Sakura (Taichi e Chihaya) não conseguindo falar direito de um tabu chamado Sasuke (Arata). E me arisco dizer que é até pior.

Merecendo destaque também o arco vivido por Taichi que, quando era pequeno, implicava com Arata por puro ciúmes da amizade deste com Chihaya, tornando-se uma criança difícil de gostar. E praticamente esquecemos disso quando o acompanhamos mais velho, como um garoto gentil e educado. Melhor ainda é perceber que o roteiro não ignorou a personalidade forte deste quando criança, como por exemplo, quando acompanhamos a disputa dele com um companheiro de equipe. Apesar do receio de enfrentar um amigo, imediatamente passa a uma postura extremamente ofensiva e desesperada para ganhar. Não muda o rapaz sereno que aprendemos a gostar, mas já serve para nos relembrar de suas raízes. Genial.


Porém, o anime definitivamente se perde no decorrer da história, achando que colocar uma partida por episódio seria empolgante suficiente. Se no início tínhamos fatores externos envolvidos (como o roubo dos óculos de Arata, a junção e despedida do grupo, etc), passamos a ter partidas ininterruptas que duram o episódio inteiro, em torneios que parecem surgir do nada. Como tudo que é usado em abundância e sem maiores explicações, torna-se apenas repetitivo e batido. Por isso que momentos como o aniversário da Chihaya, por exemplo, são muito mais tocantes do que praticamente quase todas as partidas finais do anime – exceto quando acompanhamos o treino do último episódio, com a visão da Kana e sua preocupação com seu mais novo sonho. E por ser um jogo que, assim como o já citado Yugi-oh!, depende da sorte e da boa vontade da autora em virar o jogo a favor dos protagonistas, precisamos ter algo realmente forte para nos conectar durante as partidas. Colocar qualquer antagonista-adversário chorando porque perdeu com uma música de fundo todo santo episódio, não é nada.

Outro aspecto que não funciona diz respeito às cenas de comédia e gracinhas dos animadores. No início era nulo e eventualmente foi crescendo, até que no final isso começou a acontecer com a mesma freqüência que o Mestre Kame agarrando os seios da Bulma.  Esses momentos parecem genuinamente forçados e sem contexto nenhum. Por outro lado, os aspectos técnicos todos do anime funcionam maravilhosamente bem. Desde as músicas que evocam com naturalidade a força do sonho de todos sem soar expositiva, até a concepção dos personagens em cores e traços belos, sem perder a qualidade com o passar do tempo (algo relativamente freqüente por aí). Aliás, a transformação da rainha Shinobu é a exceção da regra, extremamente forçada e desnecessária.



 














Chihayafuru ganha pontos sempre que se concentra na dinâmica das pessoas, não do jogo. Lembrando até mesmo das provas do colégio; ou da família da protagonista e seus recortes de jornais guardados, e a dinâmica com sua irmã modelo; as festas de final de ano com grupos de amigos diferentes; há diversos aspectos para se explorar. Infelizmente, com a chegada do último episódio, percebi estar há algum tempo observando diversos personagens além do grupo principal, dos quais eu não me importava nem um pouco. O anime poderia ter seguido diversos caminhos sem maiores coadjuvantes, além do mais, quem não queria vê-los encontrando Arata como adversário? Como isso afetaria o trio inicial? Por enquanto, não saberemos, a menos que resolvam lançar uma segunda temporada. O que tivemos até então foi um terrível anti clímax. O que o anime deveria ter percebido, é que Chihaya, Taichi e Arata não precisam enfrentar Rainhas e Mestres para chamarem a nossa atenção e terem o nosso carinho.




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@PedroSEkman