Aquele momento em que seus animes entram na perigosa fase de
build up [desenvolvimento, uma ponte entre acontecimentos]. Vamos averiguar
isso em mais um double post.
Este quarto episódio de Total Eclipse, foi um bom exemplo de
clichês e ferramentas de roteiros bem utilizados na trama. Temos o piloto
altamente competente, mas, genioso e provocado por seu superior, por não
conseguir render o seu melhor. Temos o superior que entra em atrito com seu
subordinado e acaba lhe dando mais atenção do que normalmente aconteceria,
unicamente porque acredita em seu potencial. Temos um conflito entre um homem e
uma mulher, que no fundo, no fundo, esconde uma tensão romântica/sexual e nós
sabemos como muito bem como isso vai acabar [vai, nos surpreenda Total Eclipse!
Mas eu duvido que o fará, dada as bases da obra original].
E é aqui o calcanhar de Aquiles de Total Eclipse a meu ver.
Fazendo reflexões vagas, dependendo da forma como desenvolvam essa trama, o
desfecho pode ser algo bem bobo, com Yuuya superando todas as suas
dificuldades, a equipe eliminando os BETA e ele ganhando o coração da tenente
Yui. Ou pode ser pior, com um harém indefinido. As próprias regras deste jogo
já me soam meio distorcidas. Enquanto os motivos de Yuuya para sua
agressividade são palpáveis, a irritação de Yui me parece algo bem imposto pelo
roteiro [espero que não apelem para briguinhas de casal e que nada acrescentam
à trama central]. Seja como for, a prova
de fogo será no próximo episódio, onde ele e Yui aparentemente irão medir
força. É um recurso que está sempre presente em plots conflitantes, mas que
muitas vezes acabam caindo no lugar comum. Uma tenente com experiência de
guerra não tem nada a provar para o seu subordinado. Sua atitude precisa ser
sempre de autocontrole e superioridade, não se colocar em pé de igualdade.
Mas, não passam de reflexões vagas. O ponto é que, ainda que
mesmo com alguns poréns, Total Eclipse tem conseguido manter meu interesse, com
um roteiro minimamente bem executado. Yuuya não é o tipo de personagem fácil
para se simpatizar, mas apesar de sua infantilidade exposta através de sua
arrogância e insubordinação ao se sentir humilhado, o contexto acaba tornando
isso bem embasado – Ainda que o roteiro insista em coloca-lo como uma vítima.
Seria mais palpável evidenciar que seu preconceito se deu por influência de seu
avó, não por se sentir acuado. Mas ainda é interessante toda essa rivalidade e
a tensão desse episódio estava na medida certa.
Por enquanto, toda essa exposição tem se mostrado eficaz.
Yui tem mostrado firmeza como tenente, sendo capaz de conseguir o mínimo de
respeito de seus subordinados e os links com o episódio 2 foi uma jogada
excelente. Como vimos aquilo em “tempo real”, somos capazes de nos conectar com
o que Yui diz e nos simpatizar com suas provocações, que espero se tratar de
uma tática de desestabilização. Quando vemos ela dar bronca em Yuuya,
percebemos que na visão dela, ele tem visto esses treinos de simulação como
diversão, com total ausência de urgência. Se o restante da equipe tem certa
experiência em combate real, isso acaba pensando mais em Yuuya por não ter
vivenciado aquele horror, logicamente não compreende sua urgência. Os pesos das
palavras de Yui ao se referir à capacidade destrutiva dos BETA, ganha um peso
enorme neste contexto.
Quando Yuuya faz pouco da unidade TSF japonesa, Yui se
irrita e nesta discussão vemos um bom motivo para isso, afinal, ela juntamente
com sua equipe teve que pilotar uma unidade bem menos eficaz e sem muita
experiência de combate. Neste aspecto, a construção do conflito está ótima. Não
apenas vemos sutilmente como o fracasso de sua equipe ainda ressoa em Yui e a
forma como isso moldou sua forma de comandar, como vemos também uma equipe
despreparada para atuar em conjunto e um membro psicologicamente desestabilizado.
É uma linha tênue entre o drama e o melodrama, mas até aqui este conflito está
bem executado. Deixa uma apreensão em como isso poderá afetar no futuro.
Pelo prólogo, aparentemente teremos a introdução de uma
unidade usada em um dos momentos críticos do episódio 2. Assim, o conflito
continua, aguardemos por um bom desenvolvimento e desfecho do mesmo. Um embate
entre Yuuya e Yui pode ser bem interessante de se assistir, caso exponham isso num
contexto plausível. Enquanto isso, o núcleo das Russas Cryska e Inia vai se
desenvolvendo ao fundo com um certo suspense, mas que na verdade evidência uma
trilha previsível [o ponto é até onde isso será capaz de impactar a história
como um todo]. Até o momento, sem afetar o enredo principal.
Plus: Sword Art Online #03
Ah, esse meu coração fraco! Eu realmente me senti tocada com
o drama deste episodio. Fazer o quê, tenho fraco por dramas. E acredito que
muitos de vocês também. Supercialmente falando, SAO está ótimo, principalmente
porque a execução que a staff do estúdio A 1-Pictures dá ao anime é algo
espantoso. Eles dão um feeling bacana para as sequências. Então, muitos vão ficar
eufóricos. Ou apenas satisfeitos. E foi sim, um bom episódio [talvez um tanto
frustrante para quem guarda grandes expectativas para a série].
Mas, se você analisar as engrenagens, está tudo errado nessa
narrativa de SAO. Ou algo próximo disso. O ritmo continua muito rápido para um
série de background narrativo e nesse processo, perde-se o desenvolvimento de Kirito
– e seu personagem, ao invés de forte, soa apenas como genérico –, além de não
expressar como se deve a mecânica daquele mundo. Com isso, a complexidade
daquele universo se perde em algo superficial.
Se por um lado, se ganha em agilidade e cenas de ação, por
outro se cria a sensação que falta coesão. Embora esteja tudo ali, de forma implícita/não
dita, é uma falha enorme para uma mídia audiovisual. Você assiste porque quer
ver aquilo acontecer, não imaginar o que aconteceu ou poderia ter acontecido. Com isso, abre-se o leque
para várias inconsistências de narrativa. O espectador mais desatento vai ficar
se perguntando como o Kirito saltou de um nível 40, para o 70 em segundos. Mas
claramente houve um timeskipe ali,
onde muita coisa aconteceu nesse espaço de tempo.
Espaço de tempo em que fora retratada a angustia de Kirito,
onde embora possa ser sentida aqui, acaba influenciando negativamente em outros
aspectos. Da mesma forma como parece inconcebível que Kirito em menos de 5
minutos tenha se envolvido num romance não declarado com a garota Sachi,
desencadeando no drama do “lobo solitário”. É o típico caso onde, diálogos,
envolvimento e perda dos personagens, tudo influência globalmente no andamento
da história e como ela se postará no futuro, mas que aqui é atenuado para
breves sequências, que se neste episódio isolado não trás tanto efeito negativo,
afeta diretamente a forma como a série se portará no futuro e dialoga com seus
espectadores.
Basicamente: No primeiro episódio, Kirito queria sobreviver
a todo custo. No segundo ele quer ser o herói solitário para evitar mortes
desnecessárias. No terceiro, contrariando tudo isso, ele volta a fazer parte de
uma guilda e depois de uma nova tragédia, ele decide explorar o universo
daquele jogo [novamente solitário], em algo que dar a atender que foi motivado por Sachi. O que acaba tornando sua motivação, bem fraca. A história perde a
intensidade e complexidade num roteiro ambíguo e superficial. Falando exclusivamente
do episódio 03, Sachi que queria se sentir mais segura e Kirito que se sentia
culpado, usaram um ao outro como muletas. Mas a natureza invasiva da narrativa
retira muito do peso dramático do que ocorreu neste episódio, que se contenta
com cenas manipulativas de drama para se expressar num curto espaço de tempo. O
item de ressureição foi uma jogada de roteiro excelente, que acabou se
revelando ainda mais frustrante e dando a sensação de que realmente “morreu, fim de jogo”, ao mesmo tempo em
que é um trunfo a ser usado no futuro [já que em 10 segundos, dá pra se salvar
uma vida]. Mas acabou não dizendo nada, pois não acompanhei o processo
evolutivo de Kirito e não compartilho de sua dor. No fim das contas, periga
cair nos mesmos erros de Accel World.
Avaliação: ★ ★ ★ ★ ★
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