quinta-feira, 11 de abril de 2013

Death Billiards – Madhouse (2013)


O ponto alto do Anime Mirai 2013.

Sinopse: Onde é este lugar ou o que ele é? Temo não poder responder estas perguntas. Deixarei que vocês dois comecem o seu jogo, um jogo que coloca suas próprias vidas em perigo. Até que ele acabe, vocês não podem sair.
Há um tempo atrás o Madhouse era o meu estúdio de animes preferido. O Maruyama Masao tinha a ideologia de fazer aquilo que todos poderiam fazer se quisessem, mas ninguém fazia. Com isso, diversas produções autorais que dificilmente receberiam sinal verde em outros estúdios, se tornaram realidades – O melhor de Masaaki Yuasa e Satoshi Kon, dois brilhantes diretores e péssimos vendedores, foi no Madhouse. 

Hoje o estúdio não é mais o mesmo (Yuasa agora flerta com o Production I.G. onde já trabalhou, mas nem lá conseguiu financiamento para seu novo projeto. Outro conhecido no estúdio, Tetsuro Araki, agora dirige Attack on Titan num dos vários estúdios do Production I.G.), nem o Maruyama Masao se encontra mais em sua direção, no entanto deixou um legado impressionante de obras que mexem com o psicológico, te fazem arrepiar na frente do monitor e ficar pensando naquilo por mais algum tempo depois que fecha o play.

Madhouse é a casa de alguns dos melhores thrillers psicológicos de esportes já animados – Akagi, Kaiji e One Outs.


Assistir Death Billiards foi uma boa experiência, um retorno às produções com alto requinte visual, paletas de cores escuras, roteiros inventivos onde máquinas de Pachinko se tornam assustadoras e ponto de partida para uma trama repleta de suspense. Só que dessa vez, esta obra só foi possível graças ao financiamento do projeto Anime Mirai (já comentado aqui no ELBR, no texto de Little Witch Academia), que banca com quase 500 mil dólares um episódio por volta de 25 minutos, para que jovens animadores tenham a chance de mostrar o seu talento como animadores e diretores de uma série de anime. Também é uma grande vitrine de talentos, para que o trabalho desses artistas se torne mais conhecido entre produtores.

Death Billiards (‘Bilhar da Morte’ – Bilhar é o nome genérico que se dá para vários jogos de mesa que utilizam tacos e bolas. A sinuca é um desses jogos de mesa, e o escolhido para os personagens jogar) é o segundo projeto mais aguardado do Anima Mirai, logo atrás de Little Witch, com argumento, roteiro, direção e storyboard de YuzuruTachikawa. Assim como Kaiji, se trata de mais uma variante de jogos de sobrevivência, tendo o esporte como catalizador da ação e reação.


Dois homens sem memórias de como foram parar num sofisticado e luxuoso bar chamado Queen Decim, degustam um uísque quando são abordados pelo polido barman e pela charmosa hostess, que a partir daquele momento eles teriam de participar de um jogo como se suas vidas dependessem disso. Sem alternativa, ou seriam transformados em manequins, o jogo escolhido é o bilhar, e a modalidade a sinuca, onde cada uma das 8 bolas representa um ponto vital do adversário.

Começa aí uma montanha russa emocional e psicológica em que nos vemos absorvidos por um roteiro instigante, que em 25 minutos e 15 segundos desfragmenta sua história apresentando uma cadeia em reação alucinante a partir do momento em que os dois personagens percebem que este jogo pode significar as suas vidas, mas nenhuma resposta nos é data além da especulação dos próprios personagens. Ainda que ninguém tenha dito que o jogo decidiria a vida deles, o simples fato de as bolas representarem seus órgãos acaba acendendo em um dos personagens uma espiral de desespero e tormento psicológico ao perceber que não sentia mais o batimento do seu coração após a bola referente fora encaçapada. Isso desencadeia a sequência mais fantástica deste OVA em termos de emoção dramática, tensão psicológica, apreensão, e claro, um momento fantástico com os dois personagens travando um embate corporal intenso.

É um clímax alucinante, em que podemos nos aproximar um pouco mais daqueles personagens, entender que tipo de pessoas eles são e o que os levou àquele lugar através de flashbacks que reconstrói em forma de fragmentos diversos pontos importantes de suas vidas, até chegarem ao Queen Decim – vislumbrar tais sequências me trouxe memórias de Satoshi Kon e sua trilogia espiritual Perfect Blue, Paprika e Millennium Actress, com seus recortes que embaralham realidade e fantasia. Mais especificamente a sequência onde o velho se depara com sua infância num Japão da segunda Guerra Mundial com um caça de guerra se aproximando em sua direção e então o cenário é rasgado revelando uma dimensão bem maior daquele conflito; foi como ver a atriz de Millennium Actress saltitando de um cenário a outro em uma bela orquestração de Kon.


Death Billiards não dá respostas claras no desfecho de sua trama. Com um final tão ambíguo, acaba por polarizar críticas neste aspecto. No entanto, nada disso é importante, é uma história que é melhor compreensível para o japonês por lidar com questões culturais – a visão deles dele sobre o tema da história é geralmente diferente da ocidental – mas só de conseguir fazer o espectador questionar e pensar sobre o que acabou de ver em uma trama bem manipulada, já é algo que ganha pontos preciosos comigo.

O character design, assim como a trama, é bem exótica e o animador Shinichi Kurita que pela primeira vez mostra o seu traçado próprio, consegue dar complexidade a cada fisionomia, que lembra bastante os de Miwa Shirow. A cenografia é deslumbrante e elegante, com uma atmosfera casual e acolhedora que logo é desconstruída assim que o bilhar entra em cena. Yuzuru Tachikawa se mostrou esteticamente detalhista, aplica em Death Billiards uma estética angular, utilizando fisheye lens para acentuar os conflitos internos dos personagens através de distorção e efeitos de profundidades, além de outros filtros. Na enciclopédia do ANN não consta, mas a trilha sonora é do desconhecido Kotaro Tanaka (foi preciso ir na wiki japonesa – surpresa fiquei ao descobrir que ele é um artista indie com passagens inclusive por Belo Horizonte- MG); ele compôs uma OST atmosférica até que variante para uma duração de 25 minutos, alternando entre a típica trilha sonora de cassinos e de tensão com toques melancólicos que contribui na imersão a um ambiente que aprisiona.

Death Billiards é um jogo exemplar, que com certeza te deixará confuso, mas um entretenimento audiovisual completo.


Nota: 09/10
Direção: Yuzuru Tachikawa
Roteiro: Yuzuru Tachikawa
Estúdio: Madhouse
Tipo: OVA
Episódios: 01
Ano: 2013
Onde baixar: Aenianos



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Minha interpretação sobre a trama
-Contém spoilers! Clique para ler.