[Dançado Após As Aulas] e como dizem, entre tapas e beijos, é odio e desejo amor e ternura, de dia eles brigam para mais tarde celebrarem a paz. Mas neste caso, o passado se torna um fator importante nesta relação.
Acho tão interessante esse aspecto de FSN, onde a história
acaba girando em torno da herança deixada por seus pais a cada uma daquelas
crianças. Esse episódio deixa isto em evidência, começando com um prologo na
clássica cena da varanda sob o luar com Kiritsugu e Shirou, em que este assume
o fardo que o seu pai não podia mais carregar – e se encerrando com Rin em um
misto de orgulho e inveja ao contrastar a relação de Shirou e seu pai à relação
a Tokiomi e suas filhas [ela e Sakura]. As expressões de Rin evidenciam a dor
que ela sente pelo alto preço pelo qual sua família teve que pagar por ser uma
das famílias mais conceituadas no ramo da magia, e como herdeira do trono, ela
teve que assumir este fardo, reprimindo qualquer desejo próprio que pudesse ter
em prol de um objetivo muito maior – não que ela demonstre arrependimentos ou
rancor, mas é natural que seja atormentada por estes fantasmas. Ironicamente,
apesar de ela ser a heroína de UBW, seu desenvolvimento é mais profundo em
Heavens Feel (tudo é melhor em HF, você
já deve ter “ouvido” dizer por ai), ainda assim, em UBW isso ocorre de modo
mais sutil onde a mascara que ela coloca sobre si não se sustenta em diversas
situações, deixando transparecer uma Rin taciturna, solitária; que precisou se
esforçar ao máximo praticamente sozinha para chegar aonde chegou, uma Rin que
se isolou de todos para cumprir a sua missão, e embora ela seja a garota mais
popular e admirada, está [estava] sempre sozinha. O trono é um lugar solitário,
apesar de visibilidade e todos se curvarem diante do Rei/Rainha. Rin, por
diversos momentos, vai se mostrar contraditória e extremamente irritadiça com Shirou,
pelo fato de que ele representa para ela tudo o que não lhe fora permitido e apesar
dos seus sacrifícios e empenho durante toda a sua infância e adolescência,
muitas vezes ele se mostra melhor do que ela em alguns aspectos, o que
obviamente fere seu orgulho.
Shirou e Rin contrapõem duas faces de uma mesma moeda e o
modo como se relacionam é curioso. Ela não é sincera e, neste episódio, ao
mesmo tempo em que dizia que iria mata-lo e que se ele colaborasse iria apenas
lhe tirar os selos de comando, se mostrava bastante irritada por sua resistência
– afinal, o garoto quer entrar numa guerra sem estar disposto a fazer sacrifícios
necessários e além de não ser um bom mago/mestre, ele ainda quer manter o mesmo
estilo de vida de antes, andando por ai despreocupadamente. Shirou irrita Rin.
E ela é contraditória em diversos momentos. Mas isso acontece porque Shirou
reflete um aspecto dela que ela tenta evitar [ou negar], mascarando isso. Ambos
são justos e honrados, sacrificar vidas inocentes não está no protocolo deles e
apesar de não desejarem o Santo Graal, eles lutam por ele – lutam porque é a
herança incumbida por seus pais, lutam porque sabem que algo tão poderoso capaz
de devastar o mundo e a vida de tantas pessoas não pode simplesmente cair em
mãos maliciosas, lutam porque precisam lutar, eles existem para isso; é o suficiente
para que lutem colocando suas vidas em jogo. No entanto, Shirou que não é um
mago nem um mestre apto, que ao contrário dela não seguiu um rigoroso
treinamento do seu pai, mostra habilidades comparáveis e às vezes superiores às
dela, e seguindo uma rotina normal que lhe fora negada e ainda mostrando um
potencial tão alto. Deve ser frustrante, mas é lindo podermos ver como é a Rin
realmente, sinto inveja dos seus colegas que não a conhecem realmente. Porque
apesar de inteligente e perspicaz, ela não tem muito de um controle emocional,
com a mascara caindo facilmente, e a forma como tenta manter a pose e o que a
faz tão adorável.
Então, o episódio começa com um prologo afetuoso entre
Shirou e Kiritsugu, termina em epilogo repleto de subjetividades, com Rin
constatando que Shirou não teve um mestre, mas apenas um pai. Sua sentença é
uma miríade de emoções que a tomam, entre eles o orgulho que sente ao seguir os
passos do pai e sua linhagem fazendo o que era certo e o gosto amargo
inevitável desse pai ter sido mais um mestre/figura inspiradora distante do que
exatamente um pai “essa é a razão pela qual nascemos, e a razão pela qual morremos. O
dever de uma família de magos é pegar a criança humana a qual deram a luz, e
transformá-la em algo a mais, através de anos de um treinamento rigoroso. É por
isso que seu pai não era um mago, Emiya-kun. Ele deixou que sua missão como pai
fosse sobreposta a missão de ser mago”. Ela lhe diz que não se pode ser
um mago perfeito e um pai perfeito simultaneamente, é uma forma de se defender,
exaltando seu pai que seguiu os preceitos de uma família tradicional de magos
se tornando um grande exemplo para ela, e atacando Kiritsugu como mago. É
bonitinho e é triste.
No episódio anterior, em uma conversa com Mitsuzuri, esta
lhe diz que ele nunca sorri (ele sorri,
mas não é um sorriso aberto, largo, natural, repleto de felicidade, são “meio-sorrisos”),
o que faz com que ele se recorde do acidente de 10 anos atrás. É onde tudo
começou. O incêndio queimou tudo o que Shirou era antes, não existe um Shirou
antes do incêndio; este morreu ali. Existe apenas o Shirou a partir do incêndio,
e ali ele era uma lousa branca, sem emoções, um cadáver ambulante colapsado.
Kiritsugu resgatou um Shirou vazio e sem perceber se injetou nele, com todos os
seus ideais. Quando Shirou voltou a si, Kiritsugu era sua base, a única coisa
ao qual ele poderia se agarrar. Aquele homem que andava entre os destroços, sem
desistir por mais penoso que fosse, a procura de uma vida, e que ficou tão
feliz com uma alegria genuína ao encontra-lo, tomando-o em seus braços – é claro
que Shirou não tem ideia de onde vieram esse desejo desesperado e incansável de
Kiritsugu ao adentrar entre o fogo para ficar vasculhando cadáveres derretidos;
o que movia Kiritsugu era a culpa e talvez uma pretensa redenção; mínima que
fosse. Shirou, de certa forma, salvou o pouco que restou de Kiritsugu, e para
ele, ser um herói da justiça é a única coisa que ele entende; salvar alguém é
tão natural quanto respirar. Para Shirou, o gesto de Kiritsugu foi puro e
genuíno, e como ele não pode mais seguir em frente com seu ideal, Shirou o toma
para si a fim de realizar do desejo do seu pai. O que Shirou sabe de Kiritsugu?
Sua única base é unilateral, e é com esta única base que ele moldou seu caráter.
Para Shirou, Kiritsugu é o herói da justiça que adentrou entre as chamas e se
desesperou quando se viu impossibilitado de salvar aquelas pessoas, mas se
mostrou radiante ao avistá-lo andando entre as chamas.
Ao mesmo tempo, Shirou se sente culpado por seu o único a
ser salvo, de modo que não importa o que, ele vai fazer de tudo para salvar
qualquer pessoa e alcançar aquilo que seu pai não conseguiu – mais adiante,
veremos que esta forte vontade irá criar um paradoxo e que não resultará em
nada bom, afinal, Shirou talvez não tenha consciência plena disto, mas seu
desejo é ser como Kiritsugu, ou ao mesmo, a figura que ele moldou de Kiritsugu
com base apenas no que ele conhece do pai. Em suma, a vida do Shirou é triste
pra caramba e ele tem todos os motivos do mundo para agir da forma como ele age.
Por que ele privilegia a vida de qualquer pessoa e não a sua própria? Bom, agora
já estou me adiantando, mas isto mostra que Shirou é um tanto vazio e que sua
motivação é o que preenche seu espirito, então, por mais que ele se diga
racional, seu corpo se moverá impulsivamente por conta própria, colocando sua
vida em risco mesmo que seja a coisa mais estúpida a se fazer.
Não falei de Sakura e Illya, mas estas talvez sejam as que
mais sofreram ao desempenharem um papel pré-estabelecido por suas linhagens. É
maravilhoso ver como Fate/Zero, como spin-off, se torna uma obra de personalidade
ao dar mais substância para a origem de todos os conflitos que ocorrem em FSN,
dando vida à coisas que antes só se poderia saber através de relados do passado.
Assim, Zero narra a vida dos pais, enquanto FSN mostra as consequências de suas
ações na vida dos filhos, e se pensarmos em Kirei, perceberemos que o fardo
deixado por eles é realmente pesado. Mas não seria tão revigorante se tudo
fosse tão fácil, não é mesmo? Há um dito popular no Japão de que na adolescência
e colegial, os jovens possuem superpoderes e magia, e podem ser o que quiserem
ser, mas que isto morre ao adentrarem na vida adulta – é divertido como isto
acaba se espelhando no entretenimento, e falando de FSN, Zero é aquele que
mostra a morte destes ideais juvenis, pautando o próprio tom da série;
Kiritsugu é o único ali com tais ideais tolos, e ao querer leva-lo adiante, tudo
termina de modo trágico, enquanto UBW há essa pulsação e vitalidade
adolescente, de chamas ardentes em relação ao heroísmo (e bem, se você conhece a história de Archer, também pode usá-lo como
exemplo do que acontece quando se leva adiante certos ideais que deveriam ficar
na infância).
Roteiro: Kazuharu Sato
Diretor auxiliar: Kenji Takahashi, Toshiyuki Shirai
Storyboard: Toshiyuki Shirai
Diretor de Animação: Toshiyuki Shirai
Diretor: Takahiro Miura
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