sábado, 10 de janeiro de 2015

Comentários: Death Parade #01 – Seven Darts

[Sete Dardos] Número mistico que decidirá o seu destino. 
Comentário Posterior; Death Parade #02 – Reverse

-E então, como foi?
-Hm... Foi horrível.
-Você se acostumará em breve.

E mais uma vez a porta dos elevadores se abrem para a vida após a morte, para, segundo a tradição budista, decidir o destino das pobres almas...

É... Bem, foi realmente horrível. Não o episódio, mas o espetáculo protagonizado pelo casal. As pessoas realmente se transformam diante da morte e o perigo, sucumbindo aos seus instintos animalescos pela busca pela sobrevivência, faz parte do instinto que nega qualquer racionalização. Mas, no caso de Machiko (Ayako Kawasumi) e Takashi (Kazuya Nakai) isto me deixou um pouco mais chocada porque envolve um relacionamento conflituoso com ausência de atitudes e alimentado pela desconfiança e rancor. Essas coisas tão humanas. No meu caso, bateu um pouco mais forte, pois já vivi este tipo de relação. Takashi acabou se deixando levar, incapaz de por um fim ao relacionamento ou sequer conversar abertamente com ela sobre o assunto. Eu o compreendo, há certas coisas que sentimos vindo da outra pessoa, mas queremos fugir disto negando o que está acontecendo, mas é claro que uma fuga não é possível, e no peito todos aqueles sentimentos vão se transformando em algo muito nefasto e prejudicial. É um tanto quanto doentio este tipo de relação, pois você se machuca e machuca a outra pessoa, mas não consegue manter uma distância saudável. É como um campo atrator.
Oh, sim, como disseram, você se acostuma. Quando se convive diariamente no mau cheiro, com o tempo você se torna resistente ao odor e incapaz de senti-lo na mesma intensidade que uma pessoa neófita no assunto. Wow, este episódio foi incrível, Yuzuru Tachikawa que desenvolveu o conceito; escreveu o script deste primeiro episódio; desenhou o storyboard e dirige a série cria uma narrativa envolvente de crescente suspense e com uma reviravolta que, depois do episódio pode até parecer previsível, mas que durante a execução permanece incógnito e com diversas possibilidades possíveis. Claro que Death Billiards, o OVA predecessor exibido em 2012 no Anime Mirai, consegue um impacto muito maior e de uma forma surpreendente porque se trata de algo inédito e inexplorado. Não se sabia aonde ia dar e nem do que se tratava exatamente, até chegar ao desfecho, mas este episódio mantém a mesma qualidade de escrita e direção de Death Billiards.

Concebido por Yuzuru Tachikawa, que na nova série também irá acumular o cargo de roteirista, Death Parade foi uma agradável surpresa do Anime Mirai, um pouco ofuscado pelo brilho intenso do ótimo Little Witch Academia, mas conseguiu se destacar ao seu modo com um conteúdo mais substancial. Houve boatos da possibilidade de sair um anime, com Tachikawa comentando que havia recebido propostas e estava estudando as possibilidades, mas depois, nada mais se falou sobre o assunto. Então, foi realmente uma surpresa positiva o anuncio de uma série de TV. Se tratando de um produto cultural japonês, a estrutura desta premissa se encaixa como uma luva no tipo de série que vem sendo produzidas no Japão há várias décadas, flertando com o sobrenatural e a sua cultura folclórica. A nova série apresenta um elenco mais diversificado, portanto é esperando que se aprofunde mais naquele universo além dos casos episódicos que certamente permearão todos os episódios. Podemos notar isso com um pequeno epilogo ao final, onde somos apresentados à hostess (Asami Seto), que irá estrear na função, evidenciando que Death Parade ocorre antes de Death Billiards. É uma aposta interessante e promissora.

A parte técnica continua muito boa, com destaque especial aos cenários, aplicação de cores e a progressão do storyboard quando os convidados são jogados para dentro do jogo, com o cenário se transformando totalmente. O interessante neste cenário quase que completamente interno e com poucas variações, é que se economiza muito do que se gastaria se a série se passasse em grande parte em cenários externos. Conceitualmente econômica desde a premissa (neste episódio por exemplo, os backgrounds em 90% do tempo são os mesmos do utilizado no OVA). O que não quer dizer que a composição visual da série seja pobre, pelo contrário; o aprofundamento de campo e os ângulos de camerawork são simples mas refrescantes. 
O desfecho final, no entanto, soou mais sutil e ambíguo no OVA. Já o clímax dramático é bem similar, trazendo a tona a lama e a sinceridade plena alcançada quando queremos ferir o outro. Em relação ao de Death Parade, é importante salientar que a premissa da série é influenciada pelo budismo, e como no Japão é normal manter e integrar várias religiões ao mesmo tempo, não se sabe se haverá a incorporação de mais algum, mas até aqui tem sido genuinamente o budismo. Assim, o destino de Machiko e Takashi está obviamente correlacionado a isto. Machiko é enviada para o vazio, e enquanto este fato sob a nossa perspectiva cultural pode soar como um estado de punição por sua traição, devemos nos ater ao fato de ela ganhou o jogo e se trata de cultura diferente da nossa.

No budismo, a reencarnação é o karma de todas as espécies sencientes; em outras palavras, não existe o inferno como somos culturalmente educados, o inferno é apenas um conceito, e por assim dizer, a própria vida na terra (este que é uma das grandes revelações no anime Jigoku Shoujo; não se preocupem, está fora do contexto), portanto o vazio (Shunyata) é o estado máximo que uma alma pode alcançar segundos preceitos do budismo; é a iluminação, quando sua consciência transgrede a matéria e alcança um novo nível; um vácuo, onde não se sente e não se emociona, não pensa, abandonando completamente o sentido de identidade própria, se tornando enfim livres de pensamentos, dores e todas essas emoções humanas que nos dilaceram. À Michiko foi dado algo que pouquíssimas pessoas conseguem alcançar por si própria. Pensando assim, soa um tanto injusto, não acham? Ou não. Mas essas são as regras que o jogo de Death Parade propõe. O que ele busca não é ser justo, mas sim o espetáculo sórdido da natureza humana. Acho que, enquanto seres humanos, é difícil abrirmos mão dessa forma de existência que é a única ao qual conhecemos e sentimos. Em Jigoku Shoujo isto se torna a clímax do show, quando Emma, a protagonista, se vê cansada de cumprir a missão que lhe fora destinada, e então a série nos mostra que o inferno é na verdade o que chamamos de vida. 

Avaliação:  ★ ★ ★ ★
Staff do Episódio
Roteiro: Yuzuru Tachikawa
Storyboard: Yuzuru Tachikawa
Direção do Episódio: Jun Shishido
Diretor de Animação: Shinichi Kurita
Direção: Yuzuru Tachikawa

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