terça-feira, 6 de setembro de 2016

Uma Questão de Circunstâncias: Mulher e Negra

Essa animação LINDA de cores fortes e contornos realistas, focada exclusivamente em personagens negros de uma comunidade negra e com uma atenção especial à mulher, abre com a seguinte mensagem narrada pela incrível Meryl Streep; “Quando se jovem, é raro que saibamos onde a vida nos leva. No entanto, a diferença entre um futuro brilhante e um futuro sem brilho pode ser apenas uma questão de circunstâncias”.
O curta-metragem aborda a sensível questão das mulheres que confiam em seus parceiros e acabam sofrendo um revés ao serem traídos por eles – em todos os sentidos, culminando em consequente violência sofrida pela mulher, tanto física quanto emocional, no qual ela terá que conviver o vírus HIV em sua corrente sanguínea. Também alerta sobre o perigo de se entregar sem proteção a um parceiro recente ao qual ainda não fora estabelecida uma confiança que só pode ser sentida com o passar do tempo. Perceba que mesmo nestes casos, a segurança é extremamente frágil, por ser algo que foge do seu controle, afinal, é uma ponta estabelecida entre duas pessoas. Que dirá então quando você está se relacionando com alguém pela primeira vez e transam se proteção.
Dirigido por Kevin Manach & Ugo Bienvenu para a Fundação Global e sua companha anti-HIV, o curta é de origem francesa e é bem bonito apesar de retratar uma triste realidade. Gosto especialmente de como o homem foi retratado utilizando de métodos clássicos para ganhar a confiança da garota ingênua. E como isso alcança seu clímax: em violência, claro. É interessante observar que o cenário ser composto por uma comunidade humilde e negra é uma referência a uma triste estatística real, em que comunidades humildes ou mesmo de extrema pobreza, formadas em sua maioria por pessoas negras, tendem a figurar em situações de extrema vulnerabilidade no mapa de contagio do HIV. Isso tem haver com cultura, com a falta de conscientização e sim, com o estado de pobreza, ainda que sejam facilitadas as formas de se conseguir preservativos através das ONGs. 

É ai que entra a questão de semiótica e tato sensível no curta, ao inserir signos visuais e sensoriais, como uma sala de aula onde em primeiro plano há o enfoque de várias garotas atentas, assistindo a uma palestra sobre os perigos das doenças sexualmente transmissíveis e da importância de se proteger (cena que será retomada ao final, focando por sua vez um casal em perfeita conformidade com as informações que acabaram de consumir). É pura semiótica que visa demonstrar simbolicamente a importância da união entre as mulheres e da conscientização entre parceiros sexuais, e que estar contaminada não significa o fim de uma linha – não mais –, podendo transformar isso numa bandeira e em superação. O que em suma, é o trabalho desenvolvido pelas ONGs. 

Apesar do tom grave da narração da Streep no inicio, o vídeo fecha com uma mensagem positivo.

“Esta semana, 7.000 meninas de 15 a 24 serão infectadas com HIV. No entanto, se uma menina permanece na escola, se torna menor o risco dela contrair o HIV e é mais provável que tenha cuidado e controle de seu corpo. É hora de acabar com HIV, para o bem de todos”.

Esta semana, mais de 7.000 meninas e mulheres jovens serão infectadas com HIV. Nos países mais atingidos, as meninas representam mais de 80 por cento de todas as novas infecções pelo HIV entre adolescentes. A epidemia de HIV só pode ser vencida pela promoção da igualdade de gênero - e removendo preconceitos baseados no gênero da doença. Se investirmos na educação das meninas, benefícios para a saúde se seguirão. Uma menina melhor-educada é menos propensa a contrair o HIV e mais propensa a ter controle sobre seu corpo e ser capaz de fazer suas próprias escolhas sobre quando ela irá, e se irá, se casar e quantos filhos ela terá, se ela desejar. E não só faz diferença para ela, faz uma enorme diferença para as gerações vindouras. Seus filhos são mais propensos a sobreviver durante a infância, mais propensos a ser vacinados e mais propensos a ir para a escola por si mesmos.