Antes tarde do que nunca, aos que ainda persistem em dúvidas, fica claro que Kuzu é, afinal, um conto sobre a tempestuosa jornada da adolescência. Com tremendo foco nos sentimentos e desejos carnais, o que é compreensível tendo em vista o florescimento hormonal da faixa etária, mas ainda assim, com traçados psicológicos proeminentes, e não um fetichismo barato.
Já era óbvio, mas não há mais espaço para questionamentos deste âmbito. Isso não impede que alguém vá assistir à obra por suas cenas ~quentes~, é claro. Elas estão lá, no âmago da labiríntica mente alheia.
O engraçado, entretanto, fica na abordagem melodramática adotada no desenvolvimento dos obstáculos adotados retratados aqui, ao invés da sordidez habitual. Hanabi assemelhou-se ligeiramente a qualquer jovem insegura e em conflito com sua própria identidade. Isso já havia sido notado anteriormente em monólogos interiores, mas suas atitudes para com isso nunca se aproximaram tanto do novelesco. Sua despedida com Sanae expõe isso. Soa utópica a decisão romântica de ambas ao reconhecerem quais circunstâncias às levaram a consolarem-se uma à outra.
A escolha de separarem-se abre, então, a possibilidade de um final que até algum tempo atrás soaria cômico, até ridículo; um encerramento agridoce. Demandar uma despedida feliz talvez seja demais. Mas provável que não vejamos mais uma história terminada em desespero e confinamento ao horror, como em Réquiem, de Aronofsky, consideradas as diferenças básicas.
Por isso, volto ao primeiro parágrafo ao afirmar, novamente, que Kuzu se trata das intempéries rotineiras de vítimas de despertar da idade. Não é demérito. É, simplesmente, natural na opção narrativa da autora. Assim como em True Detective todos os personagens parecem desolados, em Kuzu, todos encontram-se perdidos ou reprimidos em seus esquálidos anseios.
Carlos escreve sobre idols em seu blog Delirios da Madrugada.