Saudações do Crítico Nippon!
Mais
um anime RPG que, apesar de não trazer nada muito novo ao gênero, desenvolve
seus personagens com uma calma admirável. A animação, na maior parte do tempo,
é de alta qualidade e os personagens conversam e se questionam de forma
inteligente. Pecando por uma trama inexistente, Hai to Gensou no Grimgar
compensa em batalhas geralmente críveis, sem lutas entre amigos esquentadinhos,
e um trabalho em equipe bastante envolvente e admirável.
A
trama começa com seis personagens levados ao mundo de Grimgar (mais tarde
descobrimos que muitos outros também foram). Eles parecem vir do nosso mundo,
mas quase nenhuma informação os liga à nossa realidade. Se em Sword Art Online
víamos os personagens em nosso universo, e em Re: Zero o protagonista tinha até
um celular com ele, Hai to Gensou no Grimgar poderia simplesmente ser uma
história medieval e pronto. Com os personagens originalmente daquele universo. Embora
não seja o caso, por alguma razão eles precisam achar tudo estranho, mesmo que
em questão de dois episódios eles já saibam tudo de tudo.
Desta
forma, os personagens são orientados a entrarem em guildas, para então
escolherem suas classes (ladrão, sacerdote, maga, e por aí vai). Eles ganham 10
moedas de prata para começar; Matam goblins e roubam os itens deles; Conforme
ganham experiências, aprendem técnicas novas e elaboradas como se fosse um
download de atualização. Em suma, é igualzinho um jogo do gênero.
O
anime nos presenteia com cores belíssimas, como se estivéssemos mergulhados em
paisagens aquarelas. E os diferentes tons de luzes trabalhando com a animação
costumeira dos personagens, os integram nas pinturas com naturalidade. Essa
combinação transforma os ambientes extremamente ricos, repleto de detalhes que
enchem os olhos.
Percebam,
por exemplo, a naturalidade de Ranta brincando com uma colher enquanto fala; ou
um coadjuvante girando o chapéu nos dedos e vestindo-o; ou Manato utilizando o
instrumento de acender brasa. São detalhes como esses que enriquecem aquele universo.
Pecando
pelo fan service que parece extremamente deslocado em meio a personagens tão
reflexivos, é uma perda de tempo colossal. Desde a briga com o Ranta chamando a
amiga de “tábua”, até as abundantes imagens da bunda (com o perdão do
trocadilho) de Yume e, claro, a mestra quase nua do Haruhiro.
Afinal,
como já falei, a história parece não seguir uma trama sequer. Ao invés disso,
foca nas reações e consequências das lutas dos personagens principais. Com
episódios que geralmente giram em torno de um acontecimento (ataques a
goblins), e o restante dele focado nos personagens fazendo compras,
conversando, refletindo sobre o que fizeram. Pode parecer aborrecido, mas é
feito de forma impecável, com uma trilha sonora agradável que contribui para o
clima acolhedor.
Só
acreditamos no peso que essas situações “simples” têm para os personagens,
porque as lutas são encaradas com o máximo de realidade (na medida do possível
em algo que conta com magos e goblins). Desta maneira, os heróis são feridos de
verdade, e inúmeras vezes erram a pontaria na hora de lançar flechas e magias.
Isso tudo só contribui para a tensão das sequências de ação. Em um ataque
escondido, por exemplo, Moguzo é orientado e ir por último porque sua armadura
faz muito barulho. Em outro instante, acompanhamos os anseios de Haruhiro em
conseguir roupas novas, pois as suas desgastaram demais com caminhadas e lutas.
E o detalhe das costuras remendadas é genial.
Desta
forma, se inicialmente algo chamado “goblin” pode soar extremamente fraco,
durante vários episódios o sexteto precisa se unir para derrotarem um único
inimigo. E são sequências muito bem coreografadas, onde compreendemos a posição
de todos, quem está fazendo o quê, e assim por diante. E se antes eu falei que
na medida do anime os personagens ganham novas habilidades do nada, aos poucos
seus adversários aprendem a superá-las também. Ou seja, as lutas quase sempre
permanecem com um nível de tensão perfeito. E a morte de determinado personagem
é a cereja do bolo no quesito, salientando a inexperiência de todos.
Hai
to Gensou no Grimgar infelizmente possui aquela queda de qualidade cada vez
mais comum em seus 3 episódios finais para animes com 12 capítulos (assim como
histórias de 20 e poucos episódios geralmente tem os 3 primeiros melhores, como
já citei aqui e aqui e aqui). Também é previsível demais a ida dos heróis até a
Mina Cyrene e o que vai acontecer no decorrer. É uma subida de fases até chegar
no chefão (Mob Psycho 100, 12 capítulos, também do ano passado, foi exatamente
assim). Com lutas que já não tem mais o peso que tinham, em plena reta final. A
própria batalha com o chefão lobo é fraquíssima, resultante em um anti clímax
pavoroso. E não vou nem comentar as discussõezinhas entre Hiruhiro e Ranta que
ficam insuportáveis.
O
que Hai to Gensou no Grimgar não percebeu, é que estava indo bem, ironicamente
sem uma trama definida. No momento em que estabeleceu uma meta de “vingar os
companheiros da curandeira”, foi por água’baixo. Anteriormente, os personagens eram complexos
e maduros e as lutas envolventes e tensas. O que mais podemos pedir de um
anime?
(Para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon")
Twitter: @PedroSEkman
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