domingo, 9 de abril de 2017

Hai to Gensou no Grimgar (2016)

Saudações do Crítico Nippon!


Mais um anime RPG que, apesar de não trazer nada muito novo ao gênero, desenvolve seus personagens com uma calma admirável. A animação, na maior parte do tempo, é de alta qualidade e os personagens conversam e se questionam de forma inteligente. Pecando por uma trama inexistente, Hai to Gensou no Grimgar compensa em batalhas geralmente críveis, sem lutas entre amigos esquentadinhos, e um trabalho em equipe bastante envolvente e admirável.



A trama começa com seis personagens levados ao mundo de Grimgar (mais tarde descobrimos que muitos outros também foram). Eles parecem vir do nosso mundo, mas quase nenhuma informação os liga à nossa realidade. Se em Sword Art Online víamos os personagens em nosso universo, e em Re: Zero o protagonista tinha até um celular com ele, Hai to Gensou no Grimgar poderia simplesmente ser uma história medieval e pronto. Com os personagens originalmente daquele universo. Embora não seja o caso, por alguma razão eles precisam achar tudo estranho, mesmo que em questão de dois episódios eles já saibam tudo de tudo.

Desta forma, os personagens são orientados a entrarem em guildas, para então escolherem suas classes (ladrão, sacerdote, maga, e por aí vai). Eles ganham 10 moedas de prata para começar; Matam goblins e roubam os itens deles; Conforme ganham experiências, aprendem técnicas novas e elaboradas como se fosse um download de atualização. Em suma, é igualzinho um jogo do gênero. 


O anime nos presenteia com cores belíssimas, como se estivéssemos mergulhados em paisagens aquarelas. E os diferentes tons de luzes trabalhando com a animação costumeira dos personagens, os integram nas pinturas com naturalidade. Essa combinação transforma os ambientes extremamente ricos, repleto de detalhes que enchem os olhos.

Percebam, por exemplo, a naturalidade de Ranta brincando com uma colher enquanto fala; ou um coadjuvante girando o chapéu nos dedos e vestindo-o; ou Manato utilizando o instrumento de acender brasa. São detalhes como esses que enriquecem aquele universo.


Pecando pelo fan service que parece extremamente deslocado em meio a personagens tão reflexivos, é uma perda de tempo colossal. Desde a briga com o Ranta chamando a amiga de “tábua”, até as abundantes imagens da bunda (com o perdão do trocadilho) de Yume e, claro, a mestra quase nua do Haruhiro.

Afinal, como já falei, a história parece não seguir uma trama sequer. Ao invés disso, foca nas reações e consequências das lutas dos personagens principais. Com episódios que geralmente giram em torno de um acontecimento (ataques a goblins), e o restante dele focado nos personagens fazendo compras, conversando, refletindo sobre o que fizeram. Pode parecer aborrecido, mas é feito de forma impecável, com uma trilha sonora agradável que contribui para o clima acolhedor.


Só acreditamos no peso que essas situações “simples” têm para os personagens, porque as lutas são encaradas com o máximo de realidade (na medida do possível em algo que conta com magos e goblins). Desta maneira, os heróis são feridos de verdade, e inúmeras vezes erram a pontaria na hora de lançar flechas e magias. Isso tudo só contribui para a tensão das sequências de ação. Em um ataque escondido, por exemplo, Moguzo é orientado e ir por último porque sua armadura faz muito barulho. Em outro instante, acompanhamos os anseios de Haruhiro em conseguir roupas novas, pois as suas desgastaram demais com caminhadas e lutas. E o detalhe das costuras remendadas é genial.


Desta forma, se inicialmente algo chamado “goblin” pode soar extremamente fraco, durante vários episódios o sexteto precisa se unir para derrotarem um único inimigo. E são sequências muito bem coreografadas, onde compreendemos a posição de todos, quem está fazendo o quê, e assim por diante. E se antes eu falei que na medida do anime os personagens ganham novas habilidades do nada, aos poucos seus adversários aprendem a superá-las também. Ou seja, as lutas quase sempre permanecem com um nível de tensão perfeito. E a morte de determinado personagem é a cereja do bolo no quesito, salientando a inexperiência de todos.


Hai to Gensou no Grimgar infelizmente possui aquela queda de qualidade cada vez mais comum em seus 3 episódios finais para animes com 12 capítulos (assim como histórias de 20 e poucos episódios geralmente tem os 3 primeiros melhores, como já citei aqui e aqui e aqui). Também é previsível demais a ida dos heróis até a Mina Cyrene e o que vai acontecer no decorrer. É uma subida de fases até chegar no chefão (Mob Psycho 100, 12 capítulos, também do ano passado, foi exatamente assim). Com lutas que já não tem mais o peso que tinham, em plena reta final. A própria batalha com o chefão lobo é fraquíssima, resultante em um anti clímax pavoroso. E não vou nem comentar as discussõezinhas entre Hiruhiro e Ranta que ficam insuportáveis.

O que Hai to Gensou no Grimgar não percebeu, é que estava indo bem, ironicamente sem uma trama definida. No momento em que estabeleceu uma meta de “vingar os companheiros da curandeira”, foi por água’baixo.  Anteriormente, os personagens eram complexos e maduros e as lutas envolventes e tensas. O que mais podemos pedir de um anime?


(Para mais dos meus textos, é só ir no menu "Crítico Nippon")
Twitter: @PedroSEkman

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