sábado, 29 de abril de 2017

Kino no Tabi – Episódio 05: Uma Terra Onde a Maioria Decide

Quando vim a escrever sobre este episódio de Kino no Tabi a um bom tempo atrás, eu já havia assistido ao episódio 4, e o fato deste episódio ser uma miríade de pensamentos filosóficos que aparentemente desconexos (que agora vejo com bastante obviamente do que se trata) à minha mente profundamente bagunçada não me deixou descansar enquanto não colocasse as ideias no papel – no entanto, sem a pretensão [naquele presente momento] de vir a publicá-lo. Penso que falte um pouco de lapidação, mas o que segue abaixo é tudo o que subtrai de tal fascinante episódio.
Ao seguir a sua jornada ao longo de uma velha ferrovia, Kino se encontra com um homem que têm polido as faixas por cerca de cinquenta anos. Parando para uma pausa, Kino entretém o homem com uma história de uma terra onde as pessoas já não têm de trabalhar, mas optam por sujeitar-se a tarefas sem sentido e estressante de qualquer maneira em busca de um sentido existencial.

Pode parecer tolo para o velho, mas aos poucos nos damos conta de que seu trabalho tem sido absolutamente inútil, pois, como Kino está prestes a descobrir, há mais dois homens trabalhando na ferrovia, cada um desfazendo o trabalho feito pelos outros. Após isso, Kino vai parar em um país em que os cidadãos eram regidos por uma oligarquia de um rei louco. O povo, com o tempo, se rebelou e implantaram a republica, onde as decisões eram decididas por votos da maioria, mas houve um problema: quem, por fim, se revelasse contra a decisão da maioria era tido como traidor e seu fim era decidido pela maioria – foi assim até que só restou uma pessoa no país. Podemos concluir que embora se tratasse de uma republica democrática, faltava uma constitucionalidade que garantisse os direitos do indivíduo frente aos interesses do grupo dominante. Nesse sentido, On the Rails- Three Men Along the Rails é um episódio bem cínico.  O final do episódio, a brincadeira de Kino com Hermes sobre a igualdade de escolhas entre eles é a forma do texto explicitar a vontade da força dominante se sobressaindo ao que está em posição inferior.

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Eu estive pensando e talvez a definição que une esse episódio como todo, somando todas as histórias que parecem não se alinhar seja a falta de questionamento em relação a uma imposição que extrapola qualquer noção de sentido. No caso dos trabalhadores dos trilhos que insistem em um trabalho sem sentido a despeito de qualquer romantização de um proposito para viver, algo que alude ao senso de obediência às regras/normas pelos japoneses. Ideia que encontra eco na história do Rei Louco, que no primeiro momento soa destoante do quadro geral, mas que no fim das contas dialoga sobre o coletivismo japonês, em que o grupo tem sempre razão e leva a melhor sobre o individuo. O que quer dizer que a opinião própria/individual não encontra eco fora da unanimidade do grupo. 

Podemos dizer que o caso dos três homens trabalhando nos trilhos, um desfazendo o trabalho do outro obedecendo a uma ordem ridícula por anos e anos a fio ao ponto de sacrificarem seus melhores anos ao lado da família em prol da manutenção do status quo do coletivo – aqui ilustrada no contrato social hierárquico – é nada mais que um exemplo radical em relação ao tom mais fabulesco da história do país do Rei Louco em que Kino visita, em contraste ao país onde as pessoas não precisam trabalhar mas trabalham assim mesmo por se sentirem vazios sem o trabalho. No fim das contas, é uma alusão ao idealismo romântico de que o homem precisa estar em atividade frequentemente a fim de se sentir completo. Puro existencialismo. Só que aqui, é aludido a um sentido de coletivo; a manutenção da máquina – ou seja, a sociedade e sua pirâmide alimentar onde cada ser desempenha o seu papel. 

Diretor: Ryutaro Nakamura
Diretor do episódio: Ryutaro Nakamura
Storyboard: Ryutaro Nakamura
Roteiro: Sadayuki Murai
Exibição original: 13 de Maio de 2003

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