domingo, 15 de abril de 2012

Comentários dos Animes da Temporada de Inverno 2012 - Parte 01



Olá a todos, com o intuito de formar uma interação entre blogueira e leitores, achei bacana comentar rapidamente todos os animes que eu assisti na temporada, uma vez que nós sempre fazemos primeiras impressões, postsde apostas, mas nem sempre retornamos fazendo reviews completas. Mas como é muita coisa que sai sempre e nem tudo, inspira muita vontade de tecer várias linhas, uma meia dúzia de comentários gerais acaba servindo a esse propósito e talvez seja interessante para vários leitores cativos. Nessa primeira parte, comentarei somente 2 animes;  Natsume Yuujinchou Shi e Chihayafuru, aos quais acabei me excedendo um pouco – Por isso, somente os dois presentes.


Natsume Yuujinchou Shi
Nota: 08/10
Episódios: 13
Estúdio: Brains Base

Sem dúvidas, Natsume Yuujinchou-Shi conseguiu ser o melhor anime dessa temporada e não poderia ter terminado de uma forma melhor. Maratonando Natsume Yuujinchou pude perceber o crescimento e amadurecimento gradual de Takashi como personagem ao decorrer dessas quatro temporadas. Essa imagem acima ilustra perfeitamente isso – E bate uma certa saudadezinha de quando tudo começou. Shi parece ser vista como a temporada mais fraca e de fato, olhando de uma forma global ela acaba se mostrando inferior às outras, não por causa da qualidade técnica e o roteiro afiado, mas por causa do feeling mesmo.

Natsume Yuujinchou sempre foi muito calminho, episódico, emocionalmente sensível e muito gostoso de assistir justamente por isso. Com exceção de um episódio ou outro, a grande maioria se manteve assim. E Shi destoa de todas as anteriores por passar a maior parte do tempo com foco no lado humano. E os arcos de episódios duplos [coisa até então, rara] apareceram com mais frequência e tivemos então algo inédito, que foi um arco triplo. Acredito que as perseguições envolvendo Takashi e os exorcistas, são os momentos que Natsume Yuujinchou perde um pouco do seu feeling, mas acho incrível como a qualidade e o tato do diretor Takahiro Omori (que dirigiu todas as temporadas até aqui) sempre se mantêm afiadas.

Particularmente, não acho que shipping combine com Natsume Yuujinchou (afinal, ele é de tod@s), mas vivendo perigosamente, a tensão [sexual, é claro] existente entre Takashi e Matoba me tiram do sério de uma forma prazerosa. É sempre bom ver o Matoba colocando o Takashi contra a parede e em Shi, pude ver isso já logo nos primeiros 2 episódios. É lógico que eu subi pelas paredes (mentira/verdade).


Como eu comentei, Shi se focou mais no lado dos personagens humanos da série e tivemos um bom desenvolvimento de Natori que teve um bom screen time, juntamente com Tanuma. Assim como os amigos de escola de Takashi fizeram mais aparições que o comum e faz um completo sentido já que a série tem como mote central, o crescimento e a aceitação. Ao longo de 3 temporadas, se trabalhou bastante isso (deixarei pra comentar mais a fundo em uma virtual postagem sobre a série – Não é uma promessa) e há um certo contraste entre o Takashi de Natsume Yuujinchou e o de Natsume Yuujinchou Shi e a série evidência isso em caixa alta em diversas oportunidades.

Da OP que apresenta um Takashi pequeno em sua amarga infância a um Takashi já adolescente e sorridente, no seio da família Fujiwara, nos braços dos youkais que ele tanto abominava e se relacionando com as pessoas ao redor. E essa sempre foi a grande dificuldade dele; se relacionar com as demais pessoas e aceitar sua condição especial (no caso, seu dom de poder enxergar espíritos). Em Natsume Yuujinchou-san, há um foco bem emocional com relação à infância de Takashi (aliás, a série fecha de uma forma bem forte e intensa e nos leva a essa centralização de San: A infância dele, mas aqui ao que tudo indica, ele enfim consegue aceitar esse fato e tira um peso das costas. Temos ao que tudo indica uma resolução com relação a esse trauma de infância), mas em Shi vemos isso sob um novo ângulo.

Temos o ponto de vista não apenas do pequeno Takashi com relação às provocações que recebia das outras crianças, a sensação de abandono e descrença, mas também o ponto de vista de outras pessoas que conviveram com ele e como isso afetou suas vidas. É bem bacana ver o ponto de vista de Yuriko no episódio 5, que relembra de sua curta convivência com o estranho Takashi ou no arco final onde ele acaba relembrando a relação conflituosa entre ele e a pequena Miyoko. Foi um arco final bem denso e que representa o fim de um ciclo. Takashi não está mais sozinho e já consegue se relacionar pacificamente tanto com humanos, quanto com youkais. Eu até me arrepio um pouco quando relembro essa parte final do Shi, pois me tocou profundamente e pela primeira vez em Natsume Yuujinchou me fez derramar um filete enorme de lágrimas salgadas que morreram no canto de meus lábios.


Destaque para a parte onde o youkai faz a proposta de comer todas aquelas más lembranças e ele se recusa firmemente (ai, fico toda arrepiada de lembrar!) dizendo que tudo aquilo faz parte dele e o tornou o que ele é hoje. É basicamente o que eu penso sobre a vida. Não há porque você querer apagar uma lembrança dolorosa, pois muitas vezes são elas as responsáveis pela pessoa que você é hoje. É impressionante olhar pra trás e ver o quanto o Takashi cresceu ao longo dessas temporadas, não fisicamente, mas como pessoa. E falo isso com a visão de uma mãe/pai, que quando assustam sua criança já virou um adulto. Foi muito terna e extremamente sensível o Takashi com o Nyanko-sensei na casa que foram de seus pais e todas aquelas lembranças adocicadas com sabor de saudades. Foi uma cena muito bem equilibrada e sem exageros tendo como clímax, a volta dele pra casa dos Fujiwara e sendo recebido de braços abertos.

Para mim, só por arcos como esse [e outros como o do episódio 4], o Shi já merece uma nota excelente. E realmente, mantém um padrão de qualidade, tanto de roteiro, como a simplista e competente animação, que ficou bem acima da média de todos os animes da temporada. Para mim, essa poderia ser tranquilamente a última temporada, mas eu quero mais. Até mesmo porque, há questões em aberto, como o conflito com o clã Matoba, a própria Nanase que aparenta ter muito o que mostrar ainda. Sem falar que eu quero saber mais sobre a Reiko e a relação que manteve com Nyanko-sensei (há algo meio que escondido nas mangas e aparentemente sendo guardado para um futuro desfecho) e seu acentuado interesse no livro dos amigos. Se você ainda não conhece essa preciosidade, sempre é tempo de correr atrás do prejuízo.

Recomendações de leitura sobre o anime citado: Review de Natsume Yuujinchou Shi no Across The Starlight


Chihayafuru
Nota: 08/10
Episódios: 25
Estúdio: Madhouse

Chihayafuru é aquele anime onde pessoas dão um tapa na carta e elas saem voando na velocidade da luz. Quando a coisa fica realmente tensa, os personagens dão verdadeiras piruetas no ar (!) para conseguirem tocar nas cartas antes dos adversários. E engraçado que, foi essa agressividade que rendeu a Chihaya no twitter, o apelido de Chihaya Pereirão (claro, só poderia ter saído da mente louca do @LeoKusanagi). E acaba combinando, pois a garota tem como habilidade, o Karuta ofensivo.

De qualquer forma, muitos acham o Karuta muito chato, e um dos maiores méritos do anime sem dúvidas é conseguir ultrapassar essa barreira através do desenvolvimento dos personagens, que acabou contribuindo para que todos pudessem apreciar a série de uma forma global. Então, não é de se estranhar que ao final do anime, ao invés de todos estarem se perguntando se a Chihaya iria ou não se tornar uma rainha, a indagação era com quem Chihaya iria terminar: Taichi ou Arata? E apesar da série pouco investir no romance, isso é resultado da forma como os personagens são colocados e desenvolvidos dentro da história. Méritos para o diretor Morio Asaka (Nana/Cardcaptor Sakura) que conseguiu passar o feeling certo para o expectador, os transformando em torcedores e com isso, Chihayafuru se tornou uma verdadeira onda.


E com o passar dos episódios, passamos a admirar aqueles personagens com seu crescimento gradual e ponderado. A Chihaya tem uma subtrama interessante, apesar de pouco explorada, onde mesmo sendo tão linda como sua irmã, aspirante a idol, acaba sendo condenada a viver na sombra dela, não apenas no âmbito familiar, aonde toda atenção vai pra filha mais velha, como na escola onde é conhecida como “a beleza em vão” – Pois apesar de linda, ela está longe de ser a típica Yamato Nadeshiko e é bem como eu disse, ela é Chihaya Pereirão e não é bem o tipo de garota delicada. Garotas que fogem do padrão (aliás, qualquer individuo que se destaque no Japão, acaba atraindo uma atenção negativa no ambiente escolar) japonês e não se comportam polidamente, certamente não são as mais cotadas para se casarem, por lá.

Muitos aspectos do anime acabam se perdendo na tradução e compreensão do público ocidental. Não apenas o Karuta é um esporte muito tradicional, mas a própria série tem suas raízes fincadas numa cultura muito conservadora. Apesar de não entender, acho magnifico os poemas e a correlação que tem com as cartas. Então, mesmo Chihayafuru possui algumas subcamadas interessantes que são incompreensíveis para nós, mas que acaba sendo perceptível a existência deste a partir da Kanade Oe, profunda admiradora dos poemas.


E Chihayafuru é excelente em sua inter-relação entre poesia e a narrativa tradicional da série. O casamento entre imagem e áudio é fantástico e não apenas isso, também mostrou que karuta é um espaço social, em que uma pessoa integra dentro de si as capacidades e as qualidades que aprender com os outros. Um complementa o outro, como podemos ver diversas vezes a forma como Chihaya se conecta aos outros adversários, aprendendo com cada um deles, seja com resultados satisfatórios ou derrotas. Nesse ponto, Chihayafuru dá mais uma mostra de ser uma série bem arraigada em velhos costumes japoneses e sua forma de socializar.  Neste contexto, a distinção entre amigos, professores e até mesmo adversários tornam-se menos importante. Desde que se aprenda, perder pode ser tão valioso e gratificante como ganhar. O que dizer daquele incrível disputa entre Chihaya e Yumin no episódio 21? A conexão que ela formou com Ririka? Toda troca e empatia que rolou entre elas, foram bem mais importantes do que o resultado em si. Chihaya aprende com os outros jogadores, mas também se vê neles e os incentiva a seguir adiante. A forma motivada com que jogou com Sakura e mesmo diante de sua perda, esboçar aquele sorriso e vontade de superação; Chihayafuru tem muito aquilo da vontade japonesa de ensinar e aprender com o próximo.

Da mesma forma, ninguém consegue por conta própria: cada pessoa representa as contribuições de muitos outros. Até mesmo um gênio como a Shinobu, representa de certa forma a individualidade, que é um aspecto bem comum, mas que no último episódio, através de Arata cedendo e socializando ao jogar Karuta com alguém com menos habilidade que ele, reafirma o valor do conjunto. E bem, sei que é estou dizendo obviedades, mas vemos como cada membro da equipe da Chihaya possui uma habilidade especifica. Chihaya tem uma velocidade incrível e habilidades auditivas, Komano tem incríveis habilidades analíticas, Kana compreende os poemas de dentro para fora, Taichi tem as habilidades de memorização, Nishida carrega o "saber" em como o próprio jogo é jogado com base em seus anos de experiência e sabe analisar bem qualquer situação de jogo. Porém, individualmente todas essas habilidades não são suficientes para ser o melhor, porque você vai se deparar com os jogadores com as suas próprias habilidades individuais. Mas nada impende que, apesar de que cada um terá que lutar sua própria luta, de poderem se ajudar mutualmente e é o que acontece de forma muito satisfatória na reta final.


Aquele diálogo do Harada, depois que ele pede para Chihaya não usar sua habilidade de jogar karuta ofensivo, mas sim prestar atenção no jogo e exercitar a audição é sensacional. Como ele mesmo disse, ele quer dar a Chihaya, várias armas que ela possa usar a seu favor. Claro que eu acho que um jogador deve usar suas habilidades individuais, mas seu crescimento como jogador de Karuta não deve parar por aí, eles precisam aprender e desenvolver novas habilidades ao longo do caminho e ficar não dependente apenas de uma habilidade. Que é exatamente o que diz Nishida a Taichi, onde uma única boa habilidade, não será suficiente para fazê-lo vencer. Muitos odiaram o método da Yumin, mas interromper o fluxo do jogo é uma estratégia excelente, pois é um jogo que exige foco e concentração e pra superar isso, força e equilíbrio mental é um grande requisito – Essa sendo, um dos grandes pontos fracos de Chihaya e que a levou perder diversas vezes, incluindo a batalha decisiva contra Yumin. Mais importante; com subcamadas que podem ser interpretadas ou não, com contextos que muitas vezes não fazem sentido para nós ou não, Chihayafuru é um excelente entretenimento.


E há um forte boato, que apesar das péssimas vendas dos discos da série e falta de patrocínio que acabou jogando-a para as madrugadas da tv e impossibilitando de alcançar seu publico alvo, uma segunda temporada já estaria encaminhado para o primeiro semestre do ano que vem. E olha, eu fiquei realmente espantada de como a série se conecta com exatidão do primeiro ao último episódio e me neguei a acreditar que algo tão minuciosamente planejado, tão bem feitinho, pudesse terminar dessa forma, com várias pontas soltas. E faz muito mais sentido, apesar da contradição dos números, pensar que uma sequência já está planejada. Bem, espero que venha mesmo, uma sequência.

Recomendações de leitura sobre o anime citado: Crítica feita aqui no blog, pelo Crítico Nippon. E Review, feita no blog Radix