domingo, 7 de abril de 2013

Comentários: Shingeki no Kyojin – O Sorriso dos Titãs


Vamos falar sobre o maior hype da temporada.

Enquanto fã de entretenimento, umas das melhores sensações existentes é a de sentir que aquele material consegue te entreter completamente, sem criar barrigas no meio de sua execução – barrigas que te fazem distrair com qualquer coisinha e não sentir vontade de voltar – e terminar te colocando uma expressão de êxtase no rosto. Hoje (na verdade ontem, quando os assisti) dois animes conseguiram este feito em mim, sem surpresa alguma um deles é Chihayafuru 2 que com a partida entre Chihaya e Megumi conseguiu fazer o chão desaparecer sob meus pés, e o outro é o tema deste post.

A história por trás de Shingeki no Kyojin (Atrack on Titan), do mangaká Hajime Isayama, todos já conhecem, eu presumo. A trajetória do autor e seu mangá que foi ao chão ao ser esnobado pela Shounen Jump e a volta por cima na rival Bessatsu Shounen Magazine, é digna daqueles clichês, não apenas de shounens, mas do que é produzido no mundo todo para uma audiência masculina jovem; aquele blá blá blá de superação frente aos desafios maiores que o protagonista. E Shingeki no Kyojin é o battle shounen padrão, mas com uma proposta diferente do que se costuma ver na alta roda. Sempre fiquei curiosa o porquê dessa série ter um tema como este, muito semelhante à propostas de obras como Claymore e Gantz, e ser classificada como shounen. Bom, bastou o primeiro episódio para esta dúvida ser sanada.

Enquanto Claymore se foca nos conflitos de suas personagens, e Gantz que apesar de infanto-juvenil apela para as parafilias&fetiches, Shingeki segue a fórmula clássica genuinamente. Como faz tempo que não acompanho um battle shounen, Eren e sua postura de galinho de briga, suas expirações e ideais idealizados de querer ser o herói, sair da zona de conforto e explorar o que lhe é desconhecido sem temer possíveis ameaças, bateu em mim de uma forma meio “oh, isso é tão típico de garotos, principalmente nessa idade”. Não sei se é um efeito colateral por eu ficar demasiadamente exposta à shounens e seinens com protagonistas idiotas e moleirões, mas eu gostei muito do Eren, principalmente por ele não ter me soado forçado em momento algum.


Tiro o boné que eu não uso (mas eu acho bonito garotas que usam bonés, desde que não usem pochete também) para toda a apresentação e solidificação [que logo depois iria ruir com a fragilidade de um biscoito Cream cracker] daquele universo, sem precisar utilizar diálogos expositivos. O que eu comentei acerca de Little Witch Academia, novamente se repete e os personagens se expressm visualmente e somos imersos neste mundo através de diálogos cotidianos e mundanos. Há dois pontos que merecem ser destacados: Primeiro a interação familiar, que é a base para nos imergir naquele universo e torná-lo sólido, para o substanciamento [simplório, mas eficaz] dos personagens e suas motivações futuras, e principalmente por ser o elemento que tornará a catarse poderosa e emocional com a fúria sádica dos Titãs – e este é o ponto dois.

Mas antes disso, devo confessar que adorei ver a relação entre Misaka e Eren. Dois irmãos do sexo oposto, que realmente se comportam como irmãos (eu tô dizendo que passo tempo demais nas otakices). A Misaka mesmo aparecendo nas sombras, já mostrou ser empática e forte o suficiente para quando se tornar aquela figura de peso na trama, soar como uma transição natural. São detalhes bobos, mas importantes, quem escreve deve ser preocupar com estes pormenores; por exemplo, o Eren estar muito atrás dela, provavelmente será a oportunidade para que acompanhemos seu “crescimento”. Acho bem interessante como o battle shounen encontra maneiras de utilizar processos diferentes sem abandonar a fórmula. Inclusive, um conceito que há muito tempo não pertence mais exclusivamente à fatia masculina ou estritamente ao demográfico shounen. Chihayafuru está aí hasteando a bandeira.



O segundo ponto de destaque é a aparição dos titãs, em uma sequência orquestrada com maestria pelo diretor Tetsuro Araki (Death Note, Highschool of the Dead), colocando em plano de destaque em meio à calmaria de uma aldeia que não vê a face dos titãs há 100 anos, uma angustiante tensão atmosférica visível apenas para o espectador. Com um estilo de direção que privilegia sempre o aspecto do suspense psicológico, Araki consegue provocar essa ansiedade (já criada com um prólogo mostrando o que aconteceria no final do episódio) como se violinos furiosos anunciassem uma desgraça, mas o que se vê e ouve, é apenas o som ambiente, que logo é cortado por um golpe que parece um meteoro. São eles? Ainda não. Apreensão. Até que surge triunfante, poderoso, amedrontador, a figura de um titã gigantesco que bota a muralha abaixo. O que se vê em seguida é a tensão do caos e desespero. E por Deus, mesmo sem a verba necessária para animar todos os quadros [se fosse o caso, este episódio teria sido apoteótico] sem apelar para linhas de movimentos e quadros estáticos, ainda conseguiu ser uma porrada violenta.

Para os que assistiram Death Note ou HOTD, devem perceber logo que o Araki é amante de cenas dramáticas e nunca perde a chance de acentuar isto em sequências as vezes overdramaticas, mas também de contrastes emocionais, indo da densidade trágica para o sadismo, num piscar de olhos. Em Shingeki ele pincela essa característica tornando-a mais evidente. Se o drama da mãe de Eren consegue tocar de forma emocional o espectador mais margarina, o sadismo visível no semblante da titã ao pegá-la e devorá-la corta essa scene e provoca um misto de emoções. Aterrorizante? Divertido? Chocante? Diga você. Quanto a mim, eu achei excitante aquele sorriso maldoso no rosto dela e ao devorar a mãe de Eren eu só pude expressar o mais puro UAAAAAU!!


Foi uma sequência poderosíssima, e a melhor ação [no sentido convencional da palavra] em termos de anime que assisti em 2013. O Araki é muito bom em cenas de ação (conseguiram perceber as similaridades dos cortes, movimentos e enquadramentos de Shingeki com os de HOTD?), então fico na expectativa de ver ótimas sequências. O ponto negativo é o orçamento para um anime de 2 cours que notadamente deverá sofrer com certas inconstâncias para tornar possível algo bom em termos de ação envolvendo os titãs. A cenografia da aldeia é detalhista e muito bonita, gostaria que o visual pós o provável time skip que virá, fosse com uma paleta de cores mais escura, mas creio que seria pedir demais. Seja como for, as escolhas até aqui foram boas e o designer dos titãs ficou deslumbrante. Sim, paga qualquer parte mais pobre em animação que você irá notar nos episódios. Quero ver o bicho pegar!

Por fim, um belíssimo primeiro episódio, sem dúvidas o melhor dessa temporada que já está se revelando fraquíssima. É um bom cala boca para as falácias de quem acredita ser de de Araki a culpa da existência de Guilty Crow, e quem sabe, a sua volta por cima ao maestream depois de sua estrela ter brilhado intensamente no anime de Death Note.

-Não estava nos meus planos (estava sim, mas eu relutei e tentei ignorar), mas pretendo comentar também Shingeki no Kyojin aqui no ELBR, ao menos por enquanto.
A trilha sonora, sem dúvidas teve papel fundamente nas sequências arrepiantes do episódio, e a OP Guren no Yumiya de Linked Horizon coroa todas as boas escolhas feitas. Esse coral de vozes, os filtros aplicados, as escolhas artísticas; Araki conseguiu entregar uma abertura que contageia, como já é de praxe. Ou você não vibrava também nas de Death Note? 



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