Saudações do Crítico
Nippon!
Adaptado
da obra sci-fi do Project Itoh (Satoshi Ito) (Beta Roberta escreveu sobre o Harmony), Shisha no Teikoku ganha vida pela
equipe do cada vez mais impressionante Wit Studio (Shingeki, Kabaneri). O filme
conta com diversos personagens do imaginário da Era Vitoriana (Dr. John Watson,
Victor Frankenstein, Irene Adler, Sherlock, Karamazov) entre outros reais
(Thomas Edison) em uma narrativa que ora soa como um ótimo thriller de
espionagem, ora como um inusitado road movie e ora como a mais absoluta bagunça
e falta de nexo.
O
filme acompanha o necromancer Dr. Watson (sim, o par do Holmes) na busca pelas
anotações de Victor Frankenstein, que poderão ajudá-lo a colocar uma “alma” no
seu antigo parceiro, Friday. Afinal, seu amigo até então é “apenas” um corpo
reanimado com capacidade de acumular dados.
Os
mortos-vivos aqui são os mesmos descerebrados que conhecemos, porém domesticados
graças a um programa chamado Necroware, instalado em suas cabeças. E com o
passar da narrativa, há inúmeras questões que piscam na tela: os corpos
reanimados são tratados como uma sub raça, trabalhando após a Revolução
Industrial, substituindo mão de obra, mordomos, soldados na guerra, até mesmo
como homens-bomba-kamikaze. Aliás, inúmeras obras já exploraram essa busca pela
“alma” (ou “espírito”, ou “essência”) de formas interessantes e com perguntas
inteligentes. E nesse ponto, Shisha no Teikoku não traz nada de novo à mesa.
Ou
seja, o filme gira em torno dos esforços da Ciência na época em explorar os
limites entre a vida e a morte, ao lado do precursor do protótipo de
computador, Charles Babbage. A expedição de Watson e Friday, ao lado de Nikolai,
Hadaly e Frederick inicia de forma promissora. Começando pela sequência de
abertura do filme, com o protagonista narrando sua atividade com calma e
detalhes, enquanto a fabulosa animação nos mostra inúmeros equipamentos em
funcionamento.
Assim,
quando a obra aos poucos se transforma em um road movie, ainda sentimos que seu
diretor, Ryotaro Makihara, está com as rédeas seguras. Somos transportados pelo
Reino Unido, Índia, passando pelo Japão, Ásia e Estados Unidos, com um apuro
visual e uma fotografia de tirar o fôlego. Desde as guerras que testemunhamos
em alguns desses países, passando por montanhas gélidas, rochosas, verdes, bem
como céus absurdamente estrelados. E as cores vibrantes ajudam no impacto que
cada paisagem causa, incluindo escritórios sofisticados, até ao mais puro
steampunk, repleto de vapor e engenhocas fascinantes.
É
uma pena que da metade em diante o filme se revele um desastre. Se já estava
complicado tornar os companheiros de viagem de Watson minimamente
interessantes, o filme começa a atirar pra todos os lados. Temos a adição de
Karamazov, o Primeiro, inúmeras reviravoltas sem o mínimo de coerência, ora
estão salvando um personagem, para em seguida tentar derrubá-lo (?!?), enfim. E
como não poderia deixar de ser num anime, as cenas de ação precisam ser
batalhadas com palavras. Então prepare-se pra muita filosofia de boteco e
lições de moral de porta de banheiro enquanto acompanhamos belos e vazios combates.
Aliás,
não só em termos narrativos vira uma bagunça, mas até mesmo a ação. E nenhuma
das trocentas batalhas finais (aham) na Torre de Londres chega perto do
envolvimento e uso de câmeras da perseguição de carroças no primeiro ato do
filme. A trilha sonora contribui de maneira eficiente e agradável, sendo um
alívio não ouvi-la gritando descontrolada naquele caos absoluto do final. Seria
a gota que faltava para o espectador ter uma convulsão.
Em
suma, Shisha no Tekoku, ou The Empire of Corpses tinha um belo potencial em
mãos, e um cuidado delicado em sua primeira metade. Uma pena que provavelmente
o diretor morreu e entregaram a segunda parte do filme para o seu gêmeo maligno
dopado em LSD para continuar contando a história até o fim.
(Para
mais dos meus textos, é só ir no menu “Crítico Nippon”)
Twitter:
@PedroSEkman
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