quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Shisha no Teikoku (The Empire of Corpses)

Saudações do Crítico Nippon!


Adaptado da obra sci-fi do Project Itoh (Satoshi Ito) (Beta Roberta escreveu sobre o Harmony), Shisha no Teikoku ganha vida pela equipe do cada vez mais impressionante Wit Studio (Shingeki, Kabaneri). O filme conta com diversos personagens do imaginário da Era Vitoriana (Dr. John Watson, Victor Frankenstein, Irene Adler, Sherlock, Karamazov) entre outros reais (Thomas Edison) em uma narrativa que ora soa como um ótimo thriller de espionagem, ora como um inusitado road movie e ora como a mais absoluta bagunça e falta de nexo. 



O filme acompanha o necromancer Dr. Watson (sim, o par do Holmes) na busca pelas anotações de Victor Frankenstein, que poderão ajudá-lo a colocar uma “alma” no seu antigo parceiro, Friday. Afinal, seu amigo até então é “apenas” um corpo reanimado com capacidade de acumular dados.

Os mortos-vivos aqui são os mesmos descerebrados que conhecemos, porém domesticados graças a um programa chamado Necroware, instalado em suas cabeças. E com o passar da narrativa, há inúmeras questões que piscam na tela: os corpos reanimados são tratados como uma sub raça, trabalhando após a Revolução Industrial, substituindo mão de obra, mordomos, soldados na guerra, até mesmo como homens-bomba-kamikaze. Aliás, inúmeras obras já exploraram essa busca pela “alma” (ou “espírito”, ou “essência”) de formas interessantes e com perguntas inteligentes. E nesse ponto, Shisha no Teikoku não traz nada de novo à mesa.


Ou seja, o filme gira em torno dos esforços da Ciência na época em explorar os limites entre a vida e a morte, ao lado do precursor do protótipo de computador, Charles Babbage. A expedição de Watson e Friday, ao lado de Nikolai, Hadaly e Frederick inicia de forma promissora. Começando pela sequência de abertura do filme, com o protagonista narrando sua atividade com calma e detalhes, enquanto a fabulosa animação nos mostra inúmeros equipamentos em funcionamento.



Assim, quando a obra aos poucos se transforma em um road movie, ainda sentimos que seu diretor, Ryotaro Makihara, está com as rédeas seguras. Somos transportados pelo Reino Unido, Índia, passando pelo Japão, Ásia e Estados Unidos, com um apuro visual e uma fotografia de tirar o fôlego. Desde as guerras que testemunhamos em alguns desses países, passando por montanhas gélidas, rochosas, verdes, bem como céus absurdamente estrelados. E as cores vibrantes ajudam no impacto que cada paisagem causa, incluindo escritórios sofisticados, até ao mais puro steampunk, repleto de vapor e engenhocas fascinantes. 


É uma pena que da metade em diante o filme se revele um desastre. Se já estava complicado tornar os companheiros de viagem de Watson minimamente interessantes, o filme começa a atirar pra todos os lados. Temos a adição de Karamazov, o Primeiro, inúmeras reviravoltas sem o mínimo de coerência, ora estão salvando um personagem, para em seguida tentar derrubá-lo (?!?), enfim. E como não poderia deixar de ser num anime, as cenas de ação precisam ser batalhadas com palavras. Então prepare-se pra muita filosofia de boteco e lições de moral de porta de banheiro enquanto acompanhamos belos e vazios combates.

Aliás, não só em termos narrativos vira uma bagunça, mas até mesmo a ação. E nenhuma das trocentas batalhas finais (aham) na Torre de Londres chega perto do envolvimento e uso de câmeras da perseguição de carroças no primeiro ato do filme. A trilha sonora contribui de maneira eficiente e agradável, sendo um alívio não ouvi-la gritando descontrolada naquele caos absoluto do final. Seria a gota que faltava para o espectador ter uma convulsão.


Em suma, Shisha no Tekoku, ou The Empire of Corpses tinha um belo potencial em mãos, e um cuidado delicado em sua primeira metade. Uma pena que provavelmente o diretor morreu e entregaram a segunda parte do filme para o seu gêmeo maligno dopado em LSD para continuar contando a história até o fim.


(Para mais dos meus textos, é só ir no menu “Crítico Nippon”)
Twitter: @PedroSEkman

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