terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O Príncipe Dragão - 2ª temporada


Saudações do Crítico Nippon!

É difícil controlar os ânimos com o mais novo universo do co-criador da Lenda de Aang. Torço com todas as forças para que funcione, assim como torcia com A Lenda de Korra, e que só me decepcionei. Então não acho que seja questão de expectativa. O Príncipe Dragão tem mérito próprio, sendo desde já um gigante. Esta segunda temporada (Livro 2 - Céu) explora cada vez mais o universo iniciado na primeira, com momentos genuinamente emocionantes, complexos e rico em seu universo e nos dilemas de seus personagens. E como autor de uma trilogia de fantasia, fico profundamente comovido com a força e expansão de uma história dessas.

(SEM SPOILERS... pra quem viu a primeira temporada, né)






Acompanhamos os esforços dos príncipes Callum e Ezram, ao lado da elfa da lua Rayla, e do sapo buldog Isca, em devolver para Xadia o agora ex ovo, Zym, o príncipe dragão. Enquanto isso, o reino Katolis é deixado sob os cuidados do ex conselheiro do falecido rei, Viren, que pretende fazer de tudo para iniciar uma guerra contra os povos mágicos. E em outro núcleo, temos os irmãos Claudia e Soren, enviados em uma missão para resgatar os príncipes que pensam ter sido sequestrados pela elfa.


Um dos pontos mais fortes desta série é a complexidade das relações entre os personagens. E em meu texto anterior escrevi que todos aqui são capazes de ações altruístas e outras nem tanto, tornando-os genuinamente humanos (ou elfos). Essa complexidade torna a história deliciosamente imprevisível”. Assim, Claudia e Soren despertam emoções realmente ambíguas no espectador, onde nunca sabemos onde está a linha tênue que divide os velhos amigos deles apenas tentando persuadir e manipular. É mais difícil do que parece criar algo tão sutil e delicado assim. E, claro, Viren, que gosto particularmente de como os criadores o mantém em rédeas curtas, sem qualquer cena extravagante que o transforme em um vilão da Disney megalomaníaco. Complexo, egoísta e sempre adepto dos fins justificam os meios, o flashback no meio da temporada ajuda a tornar Viren ainda mais ambíguo. Afinal, uma ideia sua salvou centenas de milhares de pessoas, além de ter se oferecido para enfrentar o dragão pelos companheiros. Não há preto e branco nesta série.


Com a animação em CG claramente corrigida agora, confesso que não me senti nenhum pouco incomodado. Pelo contrário, só conseguia prestar atenção no riquíssimo design de produção, embalado por uma fotografia deslumbrante. Percebam, por exemplo, os cenários complexos que abrigam a ilusionista da lua, Lujanne, com seus pátios de pedra e piscinas, entre outras construções brancas fundidas com a natureza. E o pequeno local que abriga o misterioso Aaravos, repleto de cores quentes contrastantes com seu visual sombrio cheio de detalhes fascinantes. Além das criaturas mágicas, como aquele titã de pedra e lava, ou o grifo da lua com detalhes fluorescentes, ou mesmo os dragões de tirar o fôlego.


A trilha sonora se mantém evocativa e doce, como um épico medieval de primeira, mergulhando o espectador completamente no que poderia ser a ‘lenda do príncipe dragão’. Com uma direção impecável e fluída em todos os episódios, a calma com que tratam o misterioso espelho de Aaravos é brilhante. Em um misto de fascínio hipnotizante, embora também aterrorizante e perturbador. Constroem aquela relação silenciosa entre os dois lados do espelho com calma e segurança. Além de colocarem transições de cenas interessantes, como passar da tempestade do mar para o ambiente repleto de lava. Ou no momento em que um núcleo da história tenta arrancar o coração de um titã enquanto simultaneamente Callum está lendo uma carta que está lhe partindo o coração (de seu pai lhe abrindo o coração). Além de detalhes menores, como ao descobrirmos somente no futuro que Callum usava uma fala de seu pai para consolar Ezram alguns episódios atrás, confiando plenamente na lembrança dos espectadores. 


Pecando em algumas cenas de ação, como no primeiro confronto entre Soren e Rayla, repleto de piadas forçadas e sem qualquer tipo de coreografia, estragam o que deveria ser um embate impactante. Além disso, por mais formidável que seja a general Amaya enfrentando a elfa do sol (e são as melhores coreografias da série, sem dúvida), as duas vezes em que ocorre soam vazias e repetitivas, no mesmo local, terminando com a mesma fuga. E tem mais. O capitão pirata cego dos dois olhos é um problema grave. Encontram ele sem qualquer dificuldade, disposto a ajudá-los incondicionalmente, e sua cegueira não parece ser um problema (lembrem que Toph, em Avatar, tinha que andar de pé descalço para sentir as vibrações. Este pirata não tem qualquer dificuldade). Desaparecendo da história tão subitamente quanto apareceu, é um elo bastante frágil que poderia ter sido evitado.


Este Livro 2 - Céu expande ainda mais sua galeria de mulheres formidáveis, incluindo nada menos do que três novas rainhas com atos nobres e memoráveis. Além de ser uma outra mulher no Conselho de Katolis quem se torna um obstáculo para Viren. E podemos contar também na galeria feminina a incrível elfa do sol e a sábia ilusionista Lujanne. Já o mesmo não pode ser dito dos homens, com ações impulsivas e infantis, especialmente na figura de Soren que acaba sendo o mais difícil de nos relacionarmos. Aliás, por um segundo, ele e sua irmã acabaram me lembrando a Equipe Rocket (eu disse só por um segundo, a Claudia mantém as rédeas). De qualquer modo, os feitiços são gostosos de acompanhar em sua simplicidade e eficiência, daria pra usar como exemplo literalmente todos. Meu favorito é o produto final do ritual misterioso no espelho.



Com algumas referências da cultura pop que às vezes soam deslocadas, incluindo Game of Thrones, Karatê Kid (sweep the leg), a elfa da lua imitando Sailor Moon, o meme “one does not simply walk into Xadia” (JURO), e até Claudia com olhos de coração flutuando tal qual um looney tunes. Algumas podem até despertar leves sorrisos, mas essencialmente só nos tiram da história e parecem implorar por tweets e posts no tumblr. Por outro lado, uma referência que ecoa de uma forma muito mais madura, é Callum subindo no monte chuvoso, com raios e gritando para o céu. Exatamente o mesmo ocorria com Zuko, em um momento frustrante para ambos os personagens.


No fim das contas, o que importa mesmo é sentir que a temporada manteve o coração sempre no lugar certo. Seja no amor compartilhado entre o falecido rei e seus filhos, entre os irmãos (Callum-Ezram; Claudia-Soren) e entre todas as relações de amizade. E há vários momentos de dar nó na garganta, especialmente testemunhando o crescimento de muitos deles. O Príncipe Dragão segue absolutamente fascinante e rico, e de uma forma deliciosamente simples. Respeita simultaneamente crianças e adultos. Se tudo der certo, esta série durará tanto quanto A Lenda de Aang. Conta com 6 elementos (sol, lua, estrelas, terra, céu, oceano)que encaixam em 6 temporadas, com 9 episódios cada. Enquanto Avatar tinha 20 episódios por temporada, 3 temporadas. A única diferença é que nos manterá assinando Netflix por mais tempo. Espertinhos. 



(Agora você pode votar no que quer que a gente escreva; receber fotos dos bastidores; e ainda incentivar o nosso trabalho! Saiba como ser um padrinho ou madrinha: AQUI)

(Para mais dos meus textos, só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)

Twitter: @PedroSEkman
 

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.