Saudações
do Crítico Nippon!
É
difícil controlar os ânimos com o mais novo universo do co-criador da Lenda de Aang. Torço com todas as forças para que funcione, assim como torcia com A
Lenda de Korra, e que só me decepcionei. Então não acho que seja questão de
expectativa. O Príncipe Dragão tem mérito próprio, sendo desde já um gigante.
Esta segunda temporada (Livro 2 - Céu) explora cada vez mais o universo iniciado na primeira,
com momentos genuinamente emocionantes, complexos e rico em seu universo e nos
dilemas de seus personagens. E como autor de uma trilogia de fantasia, fico
profundamente comovido com a força e expansão de uma história dessas.
(SEM
SPOILERS... pra quem viu a primeira temporada, né)
Acompanhamos
os esforços dos príncipes Callum e Ezram, ao lado da elfa da lua Rayla, e do sapo buldog Isca, em devolver para Xadia o agora ex ovo, Zym, o príncipe dragão. Enquanto isso, o
reino Katolis é deixado sob os cuidados do ex conselheiro do falecido rei,
Viren, que pretende fazer de tudo para iniciar uma guerra contra os povos
mágicos. E em outro núcleo, temos os irmãos Claudia e Soren, enviados em uma
missão para resgatar os príncipes que pensam ter sido sequestrados pela elfa.
Um
dos pontos mais fortes desta série é a complexidade das relações entre os
personagens. E em meu texto anterior escrevi que “todos aqui são capazes de ações altruístas e outras nem
tanto, tornando-os genuinamente humanos (ou elfos). Essa complexidade torna a
história deliciosamente imprevisível”. Assim, Claudia e Soren despertam emoções
realmente ambíguas no espectador, onde nunca sabemos onde está a linha tênue
que divide os velhos amigos deles apenas tentando persuadir e manipular. É mais
difícil do que parece criar algo tão sutil e delicado assim. E, claro, Viren,
que gosto particularmente de como os criadores o mantém em rédeas curtas, sem
qualquer cena extravagante que o transforme em um vilão da Disney
megalomaníaco. Complexo, egoísta e sempre adepto dos fins justificam os meios,
o flashback no meio da temporada ajuda a tornar Viren ainda
mais ambíguo. Afinal, uma ideia sua salvou centenas de milhares de pessoas,
além de ter se oferecido para enfrentar o dragão pelos companheiros. Não há
preto e branco nesta série.
Com
a animação em CG claramente corrigida agora, confesso que não me senti nenhum
pouco incomodado. Pelo contrário, só conseguia prestar atenção no riquíssimo
design de produção, embalado por uma fotografia deslumbrante. Percebam, por
exemplo, os cenários complexos que abrigam a ilusionista da lua, Lujanne, com seus
pátios de pedra e piscinas, entre outras construções brancas fundidas com a
natureza. E o pequeno local que abriga o misterioso Aaravos, repleto de cores
quentes contrastantes com seu visual sombrio cheio de detalhes fascinantes.
Além das criaturas mágicas, como aquele titã de pedra e lava, ou o grifo da lua
com detalhes fluorescentes, ou mesmo os dragões de tirar o fôlego.
A trilha sonora se mantém evocativa e doce, como
um épico medieval de primeira, mergulhando o espectador completamente no que
poderia ser a ‘lenda do príncipe dragão’. Com uma direção impecável e fluída em
todos os episódios, a calma com que tratam o misterioso espelho de Aaravos é
brilhante. Em um misto de fascínio hipnotizante, embora também aterrorizante e
perturbador. Constroem aquela relação silenciosa entre os dois lados do espelho
com calma e segurança. Além de colocarem transições de cenas interessantes,
como passar da tempestade do mar para o ambiente repleto de lava. Ou no momento
em que um núcleo da história tenta arrancar o coração de um titã enquanto simultaneamente
Callum está lendo uma carta que está lhe partindo o coração (de seu pai lhe
abrindo o coração). Além de detalhes menores, como ao descobrirmos somente no
futuro que Callum usava uma fala de seu pai para consolar Ezram alguns
episódios atrás, confiando plenamente na lembrança dos espectadores.
Pecando em algumas cenas de ação, como no
primeiro confronto entre Soren e Rayla, repleto de piadas forçadas e sem
qualquer tipo de coreografia, estragam o que deveria ser um embate impactante.
Além disso, por mais formidável que seja a general Amaya enfrentando a elfa do
sol (e são as melhores coreografias da série, sem dúvida), as duas vezes em que
ocorre soam vazias e repetitivas, no mesmo local, terminando com a mesma fuga.
E tem mais. O capitão pirata cego dos dois olhos é um problema grave. Encontram
ele sem qualquer dificuldade, disposto a ajudá-los incondicionalmente, e sua
cegueira não parece ser um problema (lembrem que Toph, em Avatar, tinha que
andar de pé descalço para sentir as vibrações. Este pirata não tem qualquer
dificuldade). Desaparecendo da história tão subitamente quanto apareceu, é um
elo bastante frágil que poderia ter sido evitado.
Este Livro 2 - Céu expande ainda mais sua galeria
de mulheres formidáveis, incluindo nada menos do que três novas rainhas com
atos nobres e memoráveis. Além de ser uma outra mulher no Conselho de Katolis
quem se torna um obstáculo para Viren. E podemos contar também na galeria
feminina a incrível elfa do sol e a sábia ilusionista Lujanne. Já o mesmo não
pode ser dito dos homens, com ações impulsivas e infantis, especialmente na
figura de Soren que acaba sendo o mais difícil de nos relacionarmos. Aliás, por
um segundo, ele e sua irmã acabaram me lembrando a Equipe Rocket (eu disse só
por um segundo, a Claudia mantém as rédeas). De qualquer modo, os feitiços são
gostosos de acompanhar em sua simplicidade e eficiência, daria pra usar como
exemplo literalmente todos. Meu favorito é o produto final do ritual misterioso
no espelho.
Com algumas referências da cultura pop que às
vezes soam deslocadas, incluindo Game of Thrones, Karatê Kid (sweep the leg), a
elfa da lua imitando Sailor Moon, o meme “one does not simply walk into Xadia”
(JURO), e até Claudia com olhos de coração flutuando tal qual um looney tunes.
Algumas podem até despertar leves sorrisos, mas essencialmente só nos tiram da
história e parecem implorar por tweets e posts no tumblr. Por outro lado, uma
referência que ecoa de uma forma muito mais madura, é Callum subindo no monte
chuvoso, com raios e gritando para o céu. Exatamente o mesmo ocorria com Zuko,
em um momento frustrante para ambos os personagens.
No fim das contas, o que importa mesmo é sentir
que a temporada manteve o coração sempre no lugar certo. Seja no amor
compartilhado entre o falecido rei e seus filhos, entre os irmãos
(Callum-Ezram; Claudia-Soren) e entre todas as relações de amizade. E há vários
momentos de dar nó na garganta, especialmente testemunhando o crescimento de
muitos deles. O Príncipe Dragão segue absolutamente fascinante e rico, e de uma
forma deliciosamente simples. Respeita simultaneamente crianças e adultos. Se
tudo der certo, esta série durará tanto quanto A Lenda de Aang. Conta com 6
elementos (sol, lua, estrelas, terra, céu, oceano), que encaixam em 6 temporadas, com 9 episódios cada.
Enquanto Avatar tinha 20 episódios por temporada, 3 temporadas. A única
diferença é que nos manterá assinando Netflix por mais tempo. Espertinhos.
(Agora você pode votar no que quer que a gente escreva; receber fotos dos bastidores; e ainda incentivar o nosso trabalho! Saiba como ser um padrinho ou madrinha: AQUI)
(Para mais dos meus textos, só ir no menu "Crítico Nippon" lá em cima)
Twitter: @PedroSEkman
Nenhum comentário :
Postar um comentário
Os comentários deste blog são moderados, então pode demorar alguns minutos até serem aprovados. Deixe seu comentário, ele é um importante feedback.